Motorista de app morto em assalto doaria cabelo ao Hospital do Câncer
Vítima fazia a última viagem do dia antes de voltar para casa. Família diz que motorista era doador de sangue e engajado em causas sociais
atualizado
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Assassinado durante um assalto na madrugada desta sexta-feira (1º/12), o motorista de transporte por aplicativo Vágner de Souza Ferreira (foto em destaque), 39 anos, estava deixando o cabelo crescer para doar ao Hospital do Câncer. Esposa da vítima, Fabiana Pereira de Melo (também na foto em destaque), 33, contou que o marido gostava de ajudar o próximo, estava sempre engajado em ações sociais e era doador de sangue.
“Na quarta-feira [29/11], doamos sangue. Ele estava incomodado com o cabelo grande, mas estava esperando crescer só mais um pouco para dar o tamanho mínimo exigido para doação. Trabalhava como motorista de aplicativo há cinco anos, e sempre alertamos para os perigos, mas ele queria quitar nossa casa e trocar de carro, para comprar um elétrico”, disse Fabiana, casada com Vágner havia 13 anos.
O casal morava em Luziânia (GO). Na noite dessa quinta-feira (30/11), a vítima chegou a enviar mensagem para a esposa, dizendo estar em São Sebastião e que faria a última viagem antes de ir para casa. “Eu já estava com sono e pedia sempre para ele não trabalhar até tarde. Perguntei onde estava, e ele respondeu que estava na terra do Geovane [em São Sebastião], um primo meu que ele adorava. Aquela seria a última viagem”, lamentou.
Agora, a família tenta arrecadar dinheiro por meio de uma vaquinha virtual para custear o enterro do motorista. As doações para ajudar com as despesas do velório de Vágner podem ser feitas por meio do Pix 016.144.881-00 (CPF), em nome de Fabiana Pereira de Melo. Ainda não há data prevista para a despedida, mas ele será enterrado no Distrito Federal.
Latrocínio
Morto a facadas após reagir a um assalto na madrugada desta sexta-feira (1º/12), Vágner chegou a achar que o roubo era uma “brincadeira”, segundo a jovem que participou do latrocínio — roubo seguido de morte.
Marcia Eduarda Alecrim, 24, e Guilherme de Almeida Calixto, 21, foram presos logo após o crime, no carro da vítima. A dupla deu detalhes sobre o fato ao ser parada pela Polícia Militar de Goiás (PMGO).
Os militares verificaram que o veículo estava em “atitude suspeita”, pois transitava em alta velocidade nas proximidades do balão da Santa Maria.
Ao aproximarem do automóvel, os PMs viram o motorista sem camisa e com as mãos marcadas de sangue. Uma mulher ensanguentada também o acompanhava.
Ao ser interrogada, Marcia Eduarda disse ser amiga de Guilherme de Almeida Calixto e contou que os dois dividem o aluguel de um imóvel, em São Sebastião.
Por volta de 22h de quinta-feira (30/11), Guilherme teria pedido um carro de aplicativo em nome dele, para um shopping de Santa Maria, ao mesmo tempo em que combinava com outra pessoa para roubar o carro do motorista. Marcia Eduarda relatou à polícia ter entendido se tratar de um plano de assalto, mas acompanhou o amigo por “insistência” dele.
Os dois embarcaram no veículo de Vágner e, quando chegaram ao shopping de Santa Maria, Guilherme teria tentado disfarçar a ação e pedido que o motorista seguisse caminho, até chegar a um setor de chácaras. Nesse momento, o criminoso anunciou o assalto. O condutor, no entanto, chegou a rir e dizer que “sempre quis passar por aquilo”, segundo Marcia Eduarda, por achar que se tratava de uma brincadeira.
Contudo, o assaltante insistiu, e Vágner destravou a porta. Guilherme desceu e caminhou até a vítima com um simulacro de arma de fogo, de acordo com o relato. Em seguida, os dois começaram a brigar, mas o assaltante conseguiu correr, e o motorista teria tentado esfaquear Marcia Eduarda.
Ainda segundo a versão da suspeita, Guilherme teria voltado e começado a agredir o motorista com diversas facadas. Vágner não resistiu, e o casal fugiu no carro dele até ser abordado pela PMGO.
O criminoso apresentava um corte na barriga e chegou a ser levado ao hospital. Ele e a comparsa foram presos em flagrante. A 20ª Delegacia de Polícia (Gama) investiga o caso, registrado como latrocínio.
O que diz a Uber
O motorista morto a facadas trabalhava na Uber. Por meio de nota, a empresa de transporte por aplicativo lamentou que motoristas parceiros sejam alvo da violência que permeia nossa sociedade.
“A empresa permanece à disposição das autoridades para auxiliar no curso das investigações, nos termos da lei. A conta utilizada para solicitar a viagem foi desativada assim que a empresa tomou conhecimento do episódio”, ressaltou.