Morador de rua descobre que teve nome usado para lavar dinheiro do pó
No papel, o morador de rua era um homem rico. Uma das empresas tinha o objeto social caracterizado como “extração de minério e petróleo”
atualizado
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Um morador de rua e dependente químico foi usado como laranja em um esquema milionário para lavar dinheiro proveniente da venda de centenas de quilos de cocaína, traficados em vários estados do país. A sofisticada rede criminosa, que contava com empresas fantasmas e movimentações financeiras percorrendo contas abertas em nome de terceiros, foi alvo de operação desencadeada, nessa segunda-feira (25/10), pela Coordenação de Repressão às Drogas (Cord), da Polícia Civil do DF (PCDF).
A segunda fase da Operação Sistema descobriu duas empresas fantasmas, supostamente abertas em Planaltina, que existem apenas no papel. Nos dois locais, funcionam escritórios de advocacia sem qualquer ligação com os criminosos. As empresas integravam um espécie de “pool”, que lavava dinheiro do tráfico de todo o Brasil, inclusive de favelas cariocas.
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Os bandidos baseados no DF utilizaram uma estrutura desenvolvida por um bando de Minas Gerais, que havia se especializado na lavagem de dinheiro para facções criminosas de todo o país. O esquema foi desarticulado no ano passado, durante a Operação Washing, deflagrada pela Polícia Civil mineira. Ainda segundo as investigações, o grupo lavou cerca de R$ 750 milhões, provenientes da atividade clandestina.
Veja depoimento de morador de rua usado como laranja pelo tráfico:
Dono de mineradora
No papel, o morador de rua era um homem rico, de muitas posses. A PCDF localizou a empresa KZ Multinegócios Comércios de Alimentos, com objeto social definido como “extração de minério e petróleo”. A companhia tem o morador de rua como sócio.
A empresa, em nome da vítima, recebeu R$ 3 milhões de outras empresas fantasmas: Beta Comércio Importação e Exportação; Gama Comércio Importação e Exportação e Diniz Comércio Atacadista. A firma de fachada ainda recebeu R$ 70 mil de um traficante de Formosa (GO), preso por organização criminosa e envolvimento com o Comando Vermelho.
Ainda caíram na conta da empresa mais R$ 395, depositados por um morador de Ponta Porã (MS) investigado por manter relação com o núcleo financeiro da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
Morador de rua
As contas bancárias abertas em nome do homem em situação de rua do Distrito Federal eram operadas por pessoas que cuidam de um pequeno mercado, também em Planaltina. Entrevistada, a vítima contou que conheceu os proprietários do mercado por meio de um contador. “Era um vizinho que morava perto da casa onde minha mãe vivia”, disse.
Investigações apontaram que as duas empresas fantasmas do DF receberam grande quantidade de dinheiro das empresas de Minas Gerais, usadas para lavar o dinheiro. “Elas recebiam o dinheiro do tráfico e mandavam os montantes de volta para mascarar as operações financeiras e correr menor risco de fiscalização”, explicou o diretor da Divisão de Repressão às Drogas III da Cord, delegado Paulo Francisco Pereira.
Ao todo, foram cumpridos 19 mandados de busca e apreensão em Águas Claras, Samambaia e Planaltina. As cidades de Recife (PE), Mirassol D’Oeste (MT), Ponta Porã (MS) e Porto Velho (RO). Foram apreendidos inúmeros documentos, bens de luxo como relógios Rolex, quatro veículos, além do bloqueio de 14 contas bancárias.