Misoginia, intolerância religiosa e ameaça: ouça mensagens de Ricardo Molina para a ex
Na ofensa, Molina chega a questionar a imparcialidade do Poder Judiciário, caso a análise do processo sobre o caso fique com uma magistrada
atualizado
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O repertório de ofensas e ameaças usado pelo perito Ricardo Molina, 71 anos, contra sua ex-companheira, Janinne Jasem, 28, é recheado de misoginia e intolerância religiosa. Em uma série de áudios enviados à vítima, o agressor ofende a religião, a cidade de origem dela, além de questões de gênero. Todos os arquivos integram um inquérito apurado pela Polícia Civil paulista.
Nas ofensas, Molina chega a questionar a imparcialidade do Poder Judiciário, caso a análise do processo fique com uma magistrada. “Você entregar minhas falas (áudios) a uma juíza feminista. Vai dizer que eu estou te assediando?”, perguntou Molina, por meio de áudios enviados pelo WhatsApp.
Em outro trecho, o perito ofende a população de Anápolis, município goiano. “Você me roubou durante anos e agora vai dizer que estou te prejudicando. Tu é uma caipira de Anápolis. Você nunca vai ser culta, nunca leu um livro, não passa da terceira página. Você é uma blogueirinha de merda”, disparou.
Ouça trechos de mensagens enviadas por Ricardo Molina à ex-companheira:
Urina na Bíblia
Em um vídeo, Molina aparece transtornado, com as mãos e os braços sujos com o próprio sangue e urinando em uma Bíblia, aberta no chão. As imagens ainda mostram momentos em que a mulher tenta recuperar pertences pessoais que estavam dentro da residência que o casal dividia, em Campinas. Descontrolado, o perito quebra os vidros de uma porta com socos e chutes.
Aos gritos de “Morre, vagabunda” e “Vou mijar na sua cova”, Molina acabou filmado. As ameaças e agressões, segundo a vítima, começaram ainda em 2021 e se agravaram com o passar dos anos. O casal decidiu se separar em outubro de 2022. A vítima ficou em um apartamento de Molina.
Veja imagens do perito urinando na Bíblia da ex-companheira:
Medida protetiva
Poucas horas antes de a sequência de vídeos chocantes ser gravada, Molina e Janinne decidiram conversar em um restaurante. No entanto, houve um desentendimento e o perito se exaltou e chegou a agredi-la. Em seu depoimento à Polícia Civil do Estado de São Paulo (PCSP), a mulher relatou que Molina tomou a bolsa e o celular dela, mas que devolveu, pois os funcionários do estabelecimento presenciaram a confusão.
Ambos deixaram o local juntos. Molina seguiu com as ameaças e ofensas até chegar à residência do casal. Lá, houve a discussão mais acalorada e o perito passou a urinar na Bíblia que pertence à ex-mulher.
“Isso vai me dar um grande prazer. A Bíblia da mulher: aqui ensina ela a chupar um pau, mas ela não aprendeu. Mas eu vou cagar também, mijar é pouco”, diz Molina no vídeo.
Abalada, Janinne procurou a delegacia para registrar ocorrência e requerer medidas protetivas, que foram deferidas pela Justiça. Um inquérito foi aberto para apurar o caso de violência doméstica no âmbito da Lei Maria da Penha.
O outro lado
Procurado pela coluna, o perito atendeu a ligação claramente exaltado, mas apresentou sua versão sobre as agressões. De acordo com Molina, sua ex-esposa “é mentirosa, sofre de transtorno de borderline, mente o tempo todo e é aproveitadora”.
“Ela tem um amante desde 2020. E tem mais: o que ela tem é narrativa para cativar feminista. Registrei uma queixa-crime contra ela e ela será investigada”, afirmou o perito.
A vítima foi ouvida nesta semana em depoimento à PCSP, e Molina deverá ser intimado para dar sua versão sobre os fatos nos próximos dias.
Associação se manifesta
A Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF) emitiu nota afirmando que Ricardo Molina não é perito criminal. Perícia criminal, segundo a APCF, é atividade típica de Estado, regida pela Lei nº 12.030/09, sendo os peritos e peritas criminais, em nível federal ou estadual, servidores públicos concursados submetidos aos impedimentos e rigor científico, puníveis pela legislação vigente, dotados de isenção e imparcialidade. Leia a nota abaixo:
Profissionais privados, como é o caso de Ricardo Molina, não se submetem aos mesmos rigores dessa legislação, estando livres de qualquer imputabilidade em caso de eventuais equívocos ou quando agem sob um claro viés de confirmação. Em 2018, inclusive, a APCF enviou a Ricardo Molina uma notificação extrajudicial para que ele parasse de se apresentar como perito criminal, uma vez que a designação correta da atividade dele é a de “assistente técnico” especializado em fonética, que atua contratado pelas partes do processo para anuir e tentar provar as suas teses.