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Apaixonado por carros tão caros quanto velozes, o megatraficante Cícero da Silva Oliveira, conhecido como “Padrinho”, chegou a pagar R$ 1 milhão, à vista, para ser o proprietário de um possante BMW X6 Competiton. O criminoso, preso durante a operação Il Padrino, nesta quinta-feira (4/5), tinha predileção por lavar dinheiro faturado com cocaína comprando veículos de luxo.
O criminoso teria, segundo a Coordenação de Repressão às Drogas (Cord), torrado cerca de R$ 10 milhões com carrões, entre eles superesportivos da BMW, Mercedes e Jaguar. Para justificar o alto padrão de vida – o traficante mora em uma mansão avaliada em R$ 2,5 milhões no condomínio mais luxuoso de Juazeiro do Norte (CE) –, o Padrinho mente para os vizinhos afirmando ser dono de revendedoras de veículos ou que é executivo de uma empresa especializada em apostas on-line.
As investigações também apontam ter havido omissão de concessionárias de veículos onde o traficante comprava carros caríssimos em nome de terceiros. “Algumas das lojas, localizadas no Nordeste, venderam veículos sem realizar notificações obrigatórias às autoridades legais e sem as devidas cautelas para evitar ocultação de bens adquiridos em nome de pessoas que sequer compareceram ao estabelecimento”, explicou um dos investigadores ouvidos pela coluna.
Veja fotos dos carros comprados por Il Padrino:
Casa em nome da namorada
No rol de carrões comprados pelo Padrinho estão modelos como Toyota Hilux, SW4, Jaguar, BMW 320, 2 Land Rover Velar e Dodge Ram. A coluna teve acesso a algumas das fotografias que flagram alguns dos possantes de luxo parados em frente à mansão do criminoso, no Ceará. Apesar de manter negócios criminosos em vários estados do país, Padrinho decidiu morar em sua cidade natal.
O casarão, erguido em um condomínio de alto padrão, está em nome da namorada do traficante, que participou do esquema de lavagem de dinheiro, recebendo e distribuindo dinheiro de outros traficantes. “Trata-se de manobra clássica com o objetivo de ocultar a verdadeira propriedade do bem, adquirido com a atividade relacionada ao narcotráfico”, explicou um dos investigadores.
A utilização de empresas de fachada também era uma ferramenta importante usada pelo Padrinho para lavar o dinheiro proveniente do tráfico de dezenas de quilos de cocaína. Os policiais identificaram o envio de altos valores para a companhia Beta Importação e Exportação Eireli, uma das várias empresas de fantasmas constituídas em Minas Gerais por uma organização criminosa desestruturada na Operação Washing.
Ligação com PCC
Existe uma estreita relação de confiança e negócios entre a facção criminosa mais poderosa do país e o traficante cearense. Os investigadores localizaram uma série de contas correntes em nome de laranjas que, na verdade, pertencem ao Padrinho. Ele chegaria a movimentar R$ 1 milhão mensais provenientes do tráfico de drogas. Boa parte do dinheiro, segundos as apurações, partem de contas domiciliadas em bancos da grande São Paulo.
A PCDF mapeou o caminho da fortuna amealhada com o venda de drogas ao redor do país. As contas na capital paulista recebem valores transferidos por integrantes do PCC no DF. Logo depois, o dinheiro retorna para o DF, desta vez para o bolso de Padrinho. “Com essa investigação, concluímos que Padrinho é fornecedor de cocaína do PCC no Distrito Federal”, explicou um dos policiais envolvidos na investigação.
O volume de tráfico de drogas movimentado pelo criminoso é tão intenso que as transferências financeiras eram frenéticas. Padrinho recebia dinheiro de inúmeros traficantes de drogas do DF e de outros estados. Os policiais tiveram acesso a um vídeo em que um comparsa do traficante entra em uma agência bancária localizada em Ceilândia, carregando bolsas abarrotadas de dinheiro.
Veja o vídeo:
Padrinho é considerado o único criminoso a manter negócios simultâneos com a cúpula de algumas das maiores e mais perigosas facções criminosas do país e se tornou alvo de intensa investigação.
Traficante hábil, Padrinho cresceu rápido na hierarquia do crime e passou de um simples batedor – que acompanha o transporte de drogas pelas rodovias – a um dos mais poderosos e temidos narcotraficante do país, ganhando o respeito de organizações criminosas como o Primeiro Comando da Capital (PCC), Comboio do Cão (CDC) e Comando Vermelho (CV). A operação “Il Padrino”, mapeou centenas de transações envolvendo carregamentos de centenas de quilos de cocaína e milhões de reais.