Médico que masturbou mulher durante consulta perguntou se ela “estava gostando”
O médico ginecologista Celso Satoru Kurike chegou a afirmar que a paciente sentia dores porque não era “estimulada sexualmente”
atualizado
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O ginecologista Celso Satoru Kurike foi indiciado pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) por abusar sexualmente de pacientes durante atendimentos no consultório. Uma segunda vítima do médico detalhou o modus operandi do suspeito. De acordo com relatos da paciente, o suspeito massageou seu clitóris durante o atendimento e perguntou se ela “estava gostando”.
Kurike, alvo de inquérito policial, foi indiciado por violação sexual mediante fraude, após pelo menos duas mulheres o acusarem de tê-las tocado de forma imprópria no momento em que estavam deitadas na maca de atendimento.
Segundo o relato de uma das vítimas, o médico pediu que ela deitasse e colheu material para o exame preventivo. Em seguida, o ginecologista perguntou se ela sentia dores quando mantinha relações sexuais, o que foi prontamente negado pela paciente. No entanto, Kurike desconsiderou a resposta, afirmando que a paciente sentia dores “porque não era estimulada”.
Massagem no clitóris
A vítima contou à polícia que, após a declaração, o ginecologista tocou em seu clitóris e passou a massageá-lo, fazendo movimentos circulares. Logo em seguida, o médico perguntou se ela “estava gostando”. A mulher contou ter ficado em choque, sem reação. Kurike prosseguiu falando como a paciente deveria manter relações sexuais e acariciou as pernas dela.
Acuada, a vítima ainda ouviu do profissional que ela “tinha um sorriso muito lindo” e o sentiu acariciando seus cabelos. A paciente se vestiu e disse que ia embora. Kurike afirmou que ela iria apenas se “desse um abraço” nele; a mulher negou, mas, após muita insistência, acabou abraçando o médico para conseguir deixar o consultório. Os relatos integram o processo que apura os crimes cometidos pelo ginecologista.
Outra vítima que denunciou os abusos relata que procurou o hospital para agendar um atendimento ginecológico e teve horário marcado com Kurike, com quem ela nunca havia se consultado. Na data combinada, a paciente informou que sentia dores na cicatriz deixada pela cesariana, além de cólicas e forte fluxo menstrual. O médico, então, pediu que a mulher respondesse a algumas perguntas que lhe causaram estranheza: o profissional queria saber quantos parceiros sexuais a vítima havia tido na vida, se costumava sentir dores durante a relação sexual e se tinha dificuldades de chegar ao orgasmo. Logo após as perguntas, o ginecologista lhe pediu que tirasse a roupa e vestisse um avental.
Após fazer o exame nas mamas e a coleta do exame preventivo, o médico, segundo a vítima, tocou em seu clitóris e fez movimentos circulares. Em seguida, Kurike teria dito que aquele ponto “é o local onde as mulheres sentem prazer”.
Em choque, a vítima não esboçou reação. Insistente, o médico disse que a ajudaria a parar de sentir as dores e passou a espetar agulhas pelo corpo da mulher, que eram semelhantes às de acupuntura. Assustada, a paciente se levantou, foi ao banheiro e trocou de roupa.
Orgasmo
Quando a mulher se preparava para deixar o consultório, o médico ainda afirmou que, caso ela tivesse “dificuldades para chegar ao orgasmo, ele ajudaria”. O advogado de defesa de uma das vítimas afirmou que a semelhança dos depoimentos serve com prova cabal dos crimes cometidos pelo médico.
“Nos crimes contra a dignidade sexual, a palavra da vítima possui especial relevância, visto que, na maioria das vezes, os fatos criminosos são praticados sem a presença de testemunhas. Por isso, é importante que as pessoas não tenham medo de procurar as autoridades em situações como essas”, pontuou Bruno Félix, advogado de uma das vítimas.
Procurado pela coluna, o Conselho Regional de Medicina no DF (CRM-DF) informou que o médico já teve sua conduta apurada por meio de processo ético-profissional. “A apuração resultou na aplicação de penalidade de suspensão de 30 dias (conforme previsto no artigo 22, alínea “d”, da Lei n 3.268/1957), por infração aos artigos 38 e 40 do Código de Ética Médica, em fevereiro do ano passado. Demais informações correm em sigilo processual”, destacou o CRM.
O outro lado
A coluna localizou o contato do médico e conversou com o advogado Eduardo Teixeira, que trabalha na defesa de Kurike. Segundo o defensor, o inquérito policial se encontra em segredo de justiça. “Já foram apresentados, nos autos da investigação, todos os elementos informativos aptos a demonstrar a falsidade da acusação”, resumiu. O caso é investigado pela 12ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Centro).