Major cria banco de horas negativas e PMs trabalham doentes e com medo
Militares do 26º BPM apontam a criação de um “banco de horas negativas” como forma de punição ao servidor que apresentar atestado médico
atualizado
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Após episódios recentes de policiais militares com graves desequilíbrios psicológicos, como no caso de um sargento que abriu fogo dentro da viatura matando um colega de farda e cometendo suicídio em seguida, denúncias que colocam em risco a saúde mental dos PMs continuam ocorrendo.
Militares do 26ºBatalhão (Santa Maria) apontam a criação de um “banco de horas negativas” como punição ao servidor que apresentar atestado médico em decorrência de qualquer problema de saúde. “O policial que por ventura estiver de atestado perde o direito à folga e passa a figurar no topo de qualquer escala extra que surgir no batalhão”, disse um policial ouvido pela coluna e que pediu anonimato, com medo de represálias.
Segundo outro policial, o banco de horas negativas não existe no papel — por ser ilegal — mas funciona na prática e foi instituído pelo subcomandante do batalhão, major Alfredo Amorim Odorico. “Muitos policiais ficam com receio de procurar o hospital, com medo de perder a folga e figurar em escalas extras do batalhão. Até com dengue o policial vai trabalhar, com medo de represália”, detalhou.
Policiais denunciam “banco de horas negativas”
Surto e morte
Ocorridas em 14 de janeiro deste ano, as mortes do soldado Yago Monteiro Fidelis e do segundo-sargento Paulo Pereira de Souza acenderam a luz de alerta para a necessidade de cuidado com a saúde mental dos policiais do Distrito Federal. Segundo a PMDF, em 2023, foram homologados 2.525 atestados de afastamento por doenças mentais. Apenas em dezembro, foram 191.
Em média, a cada dia, seis PMs do DF tiveram de se ausentar das atividades policiais por estarem em sofrimento psíquico. Monteiro e Pereira eram integrantes do 27º Batalhão da Polícia (BPM), responsável por garantir a segurança na região do Recanto das Emas.
Na manhã da tragédia, os praças estavam em patrulha quando o segundo-sargento, em surto, atirou na cabeça do soldado. Na sequência, tirou a própria vida. Apesar de enfrentar problemas pessoais e de saúde mental, o policial autor dos tiros continuava sendo destacado para trabalho de campo.
O outro lado
A PMDF se manifestou sobre o assunto por meio de nota:
“A PMDF esclarece que o comando da unidade está fazendo um estudo para melhor conhecer e entender a rotina de cada policial bem como suas necessidades pessoais, e com estas informações poder aplicar o serviço operacional de modo que não haja prejuízo ao policiamento da cidade. A PMDF ressalta que nenhum militar tirou o serviço policial com dispensa ou atestado médico e nem houve serviço extra para qualquer tipo de compensação.“