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La Pirâmide de Papel: bando dá golpe em 80 países e fatura R$ 4,1 bi

Investigações detectaram esquema de pirâmide financeira que captou recursos de mais de 1,3 milhão de pessoas, em cerca de 80 países

atualizado

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1 de 1 mascara - Foto: PF/Divulgação

A Polícia Federal (PF), junto à Receita Federal e à Agência Nacional de Mineração (ANM), deflagrou, nesta quarta-feira (19/10), a Operação La Casa de Papel. A força-tarefa visa desarticular uma organização criminosa que teria criado um esquema de pirâmide financeira transnacional com atuação em mais de 80 países. O grupo é investigado pela prática de crimes contra o sistema financeiro nacional, por evasão de divisas, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, usurpação de bens públicos, crime ambiental e estelionato.

As equipes cumprem seis mandados de prisão preventiva contra os líderes da organização criminosa, bem como 41 mandados de busca e apreensão, expedidos pela 3ª Vara da Justiça Federal de Campo Grande. A operação ocorre no Maranhão, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, em Goiás, Santa Catarina e São Paulo.

Os agentes também cumprem mandados de bloqueio de US$ 20 milhões, além de sequestros de dinheiro em contas bancárias, imóveis de altíssimo padrão, gado, veículos, ouro, joias, artigos de luxo, mina de esmeraldas, lanchas e criptoativos em nome das pessoas físicas e empresas investigadas.

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Operação ocorreu nesta quarta-feira (19/10)
Quadrilha atuava em mais de 80 países, segundo investigações
Nome da operação faz referência a série televisiva
Carro apreendido em nome de investigados
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Esmeraldas apreendidas durante Operação La Casa de Papel

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Quadrilha atuava em mais de 80 países, segundo investigações

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Nome da operação faz referência a série televisiva

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Carro apreendido em nome de investigados

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A investigação começou na cidade de Dourados (MS), em agosto de 2021, com a autuação em flagrante de dois dos investigados, quando seguiam rumo à fronteira com o Paraguai acompanhados por escolta armada. Na abordagem, policiais encontraram com o grupo esmeraldas avaliadas em US$ 100 mil dólares. As joias estavam ocultas e não tinham origem legal, pois contavam com nota fiscal cancelada.

As apurações detectaram a existência de um esquema de pirâmide financeira que captou recursos de mais de 1,3 milhão de pessoas, em mais de 80 países. O prejuízo aos investidores é estimado em R$ 4,1 bilhões, desde o início das operações da quadrilha, em 2019. Até o momento em que teve início a Operação La Casa de Papel, o sistema continuava a operar em “pleno desenvolvimento”.

A estratégia dos suspeitos envolvia o uso massivo de mídias sociais e estratégias de marketing, a realização de reuniões por diversos estados e países, bem como a formação de centenas de “team leaders” — líderes de time. Além disso, o grupo contava com estrutura e apoio de uma instituição religiosa pertencente a um deles.

A quadrilha atuava para captar recursos e gerir uma empresa que oferecia pacotes de investimentos ou aportes financeiros, a partir de US$ 15 dólares até US$ 100 mil, com promessa de ganhos diários em altíssimos percentuais.

Embora divulgassem nas mídias sociais que estavam legalizados na Estônia e que seriam sócios de duas instituições financeiras, nenhuma das empresas dos investigados existia de fato.

O grupo não tinha qualquer autorização para a captação e gestão de recursos no Brasil, na Estônia ou em qualquer outro país, segundo a PF. Além disso, foram alvo de diversos alertas desse tipo, emitidos por órgãos financeiros em vários países, como Espanha e Panamá. As informações destacavam que as operações se tratavam de esquema de pirâmide financeira.

Traders

Por meio de sites e aplicativos, a organização criminosa prometia investimentos iniciais multiplicados em ganhos diários, que poderiam chegar a até 20% ao mês ou mais de 300% ao ano. As transações seriam feitas no mercado de criptoativos por supostos “traders” — negociadores — a serviço da empresa, usados para multiplicar o capital investido e incentivadores dos que entravam no negócio, para que captassem novos investidores.

O mecanismo, chamado de “binário”, proporcionaria ganhos percentuais sobre os valores investidos pelas pessoas atraídas para o esquema.

A prática ilegal se tornou mais sofisticada e englobava supostos investimentos decorrentes de lucros provenientes de minas de diamantes e esmeraldas, que a empresa teria no Brasil e no exterior; mercados de vinhos; viagens; usinas de energia solar e reciclagem; entre outros.

Na sequência, o grupo criou duas criptomoedas, lançadas no fim de 2021 sem qualquer lastro financeiro. A investigação detectou ações de manipulação de mercado para valorizar artificialmente uma delas em 5.500%, em 15 horas, com pico de 38.000% dias depois.

A manobra mantinha a pirâmide financeira por mais tempo em atividade, e as criptomoedas foram usadas para pagar investidores. Contudo, após a alta meteórica e especulativa, elas perderam todo o valor de mercado, e a cotação ficou diversas casas decimais abaixo do centavo de dólar, o que resultou em perda quase completa da liquidez.

O grupo também se valia de ostentação nas mídias sociais, com milhões de seguidores em todo o mundo, para demonstrar o suposto sucesso pessoal e de investimentos dos integrantes do grupo. Em postagens, eles apareciam em viagens internacionais, para locais como Dubai, Cancún, no México, e para a Europa.

Para movimentar o dinheiro, os investigados usavam as próprias contas bancárias, empresas de fachada e contavam com ajuda de parentes, além de terceiros ligados ao grupo. A instituição religiosa de um dos suspeitos movimentou mais de R$ 15 milhões e também funcionava como meio para captar investidores, ocultar e lavar dinheiro proveniente das ações ilícitas.

Ataque hacker

Com a prisão de um dos líderes do grupo em Cuba, os “fundadores” da organização criminosa interromperam os pagamentos dos valores a investidores, sob  justificativa de que o governo cubano teria “impedido a empresa de ajudar o país”, segundo mensagem divulgada nas mídias sociais.

Na sequência, os investigados começaram a impor dificuldades para realização dos pagamentos aos investidores prejudicados e, como forma de garantir os próprios lucros, passaram a estabelecer prazos cada vez maiores para resgate dos valores pelas vítimas, o que impedia os saques delas.

Além disso, a investigação demonstrou que os investigados combinaram um “ataque hacker”, plano concretizado no fim de 2021. Na ocasião, os líderes da organização criminosa alegaram ter sofrido “imenso prejuízo financeiro” devido à suposta ação criminosa e retiveram todo o dinheiro dos investidores, com uma proposta de suspensão de todos os pagamentos devido à necessidade de uma auditoria financeira.

Meses depois, os golpistas comunicaram aos investidores a conclusão da auditoria e anunciaram uma reestruturação da empresa, para manter o esquema e migrar para uma nova rede. Assim, as vítimas fariam novos aportes e o negócio teria continuidade. O “CEO” do negócio fraudulento chegou a ameaçar que identificaria, processaria e não pagaria qualquer valor investido a quem registrasse boletim de ocorrência ou recorresse à Justiça diante do caso.

Milhares de reclamações inundaram inúmeros sites, dezenas de páginas, além de grupos criados no Brasil e no exterior. As vítimas, que buscavam recuperar o dinheiro investido, recebiam uma sequência infinita de respostas dos organizadores do esquema, com novas narrativas sobre problemas no mercado de criptomoedas, nos sistemas da empresa e relacionados a prejuízos financeiros.

O grupo alegava que pagaria os valores com um novo sistema em desenvolvimento e noticiava constantemente que alguns investidores faziam transações normalmente e recebiam valores da empresa. Assim, mantinha a captação ilegal de recursos.

Os investigados podem responder por organização criminosa; pela prática de crimes contra o sistema financeiro, por operar empresa sem autorização; por evasão de divisas; lavagem de dinheiro; usurpação de bem mineral da União Federal; execução de pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem autorização, permissão, concessão ou licença; falsidade ideológica; e estelionato por meio de fraude eletrônica. Somadas, as penas máximas podem chegar a 41 anos de prisão.

La Casa de Papel

A operação recebeu o nome La Casa de Papel porque alguns dos investigados também tinham nacionalidade espanhola e organizaram um plano para montar uma bilionária pirâmide financeira, com banco e “casa da moeda” próprios, por meio da fabricação de dinheiro com criptoativos sem qualquer lastro financeiro.

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