Justiça absolve PM acusado de matar médico em saída de bar na Asa Sul
O médico Luiz Augusto Rodrigues foi alvejado pelo PM André Barrozo Fernandes da Silva na saída de um bar na Asa Sul, em novembro de 2019
atualizado
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A Justiça do Distrito Federal inocentou, na tarde desta quinta-feira (21/7), André Barrozo Fernandes da Silva, soldado da Polícia Militar do DF (PMDF) acusado de assassinar com um disparo de arma de fogo o médico Luiz Augusto Rodrigues (foto em destaque). À época com 45 anos, a vítima morreu durante uma abordagem na saída de um bar na Asa Sul, em novembro de 2019.
A família da vítima recebeu com indignação o resultado do julgamento. “Um filho ficou sem pai, uma criança vai crescer sem pai. É uma criança que sempre pergunta se o PM que matou o pai dele está preso. E quando digo que não, ele me pergunta o por quê? ‘E não aconteceu nada com ele?’ Como vou explicar isso para o meu filho? Que o pai dele foi assassinado e assassino vai ficar impune”, diz Marcella Leitão, ex-esposa de Luiz.
Por meio de nota, Marcelo Almeida Alves, o advogado do PM, comentou a decisão da Justiça e reafirmou que Barrozo “agiu dentro dos padrões da legalidade”.
“O Escritório Almeida Advogados gostaria de ratificar que, embora o resultado final daquela abordagem tenho sido algo indesejável por todos, ainda assim necessário se faz ressaltar que o policial militar agiu dentro dos padrões da legalidade, tanto que na data de hoje, 21/07/2022, o TJDFT entendeu que houve legítima defesa”, disse.
Segundo testemunhas, antes de morrer, Luiz Augusto assistia ao jogo do Flamengo contra o Ceará, pelo Campeonato Brasileiro, em um bar da Asa Sul. Um vigilante afirmou ao Metrópoles que o médico era cliente assíduo do estabelecimento. “Quando estava indo embora, foi abordado por uma equipe da PMDF e só deu para escutar o tiro”, lembrou o homem, que pediu para não ser identificado.
Veja fotos do médico junto da família:
Já um comerciante que trabalha na quadra relatou que o médico era simpático e sempre tratava a todos com cortesia. “Tinha o costume de sair do plantão, no Setor Hospitalar, e passar aqui, onde se reunia com outros amigos. Costumava falar que tinha cumprido as tarefas do dia e queria espairecer”, acrescentou. O médico trabalhava na Clínica da Mama à época do crime.
Outra comerciante da região, que preferiu não se identificar, comentou que estava em sua loja na hora do crime. “Ouvi um barulho e uma mulher que gritava ‘ele matou, ele matou’, quando desci para ver o que era, reconheci o dr. Luiz, já morto. A perícia chegou em minutos. Uma tragédia. Ele nunca andou armado. Não oferecia risco a ninguém”, completou. O médico era casado e deixou dois filhos, um de 7 e outro com 13 anos, atualmente.
André Barrozo tornou-se réu em abril de 2021. O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) aceitou a denúncia do Ministério Público (MPDFT) e entendeu que o caso fosse julgado como homicídio doloso, quando há intenção de matar.
Dois anos da morte
Em novembro do ano passado, às vésperas de completar 2 anos do assassinato de Luiz Augusto, o Metrópoles entrevistou a irmã do médico. À época, a aposentada Karla de Paula Rodrigues Vieira, 52, disse que a ferida aberta pela tragédia envolvendo a família nunca cicatrizou. “Um pedaço da gente que foi embora”, disse, ao mesmo tempo que reclamava da morosidade da Justiça com o processo.
Vivendo em Anápolis (GO), a irmã conta que Luiz Augusto morou vários anos com ela. “Guto, como o chamávamos, morou comigo quando era solteiro. Depois foi para Brasília fazer carreira. Ele tinha acabado de montar o consultório dele quando morreu, tinha dois ou três meses”, relembra.
“Ele vinha muito aqui, gostava muito. Uma pessoa boa, amava muito ele. O amo ainda. Ficamos com o coração partido, cada dia a saudade aumenta mais”, lamentou a mulher.
Segundo Karla, a mãe dela ainda chora quando pensa no irmão e toma remédios controlados para depressão. “São muitas lembranças boas e muita saudade que ficaram. Quando a gente entra em um lugar que ele gostava de ficar, a gente chora, é muito difícil lembrar”, disse Karla, ao Metrópoles, com a voz embargada.
Relembre o caso
As investigações realizadas pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) foram concluídas em junho de 2020. Segundo a 1ª Delegacia de Polícia, responsável pela apuração do homicídio, o militar teria praticado o crime com dolo eventual, ou seja, ele, ao disparar durante a abordagem, assumiu o risco de matar.
O entendimento dos investigadores é o de que a intenção do militar era atingir um amigo da vítima, que é sargento reformado e teria sacado uma arma para os PMs. Mesmo assim, a postura do acusado foi considerada imprudente.
“O policial, quando efetua um disparo de arma de fogo, não pode fazer da mesma forma que um criminoso comum. Quando um policial militar utiliza esse armamento, ele deve ter consciência de que o disparo pode ser bem-sucedido e ser utilizado da forma adequada em locais adequados”, observou, à época, o delegado responsável pelo caso, Marcelo Portela.
O tiro que atingiu Luiz Augusto veio de uma carabina, da Imbel, calibre 5.56. Segundo os socorristas, o homem foi atingido na cabeça. Testemunhas contaram que, antes de morrer, Luiz Augusto Rodrigues assistia ao jogo do Flamengo contra o Ceará, pelo Campeonato Brasileiro de 2019, em um bar de Brasília.
Quando aconteceu o crime, a Polícia Militar afirmou que o tiro foi dado “diante do risco iminente” e que “os policiais não tiveram alternativa e efetuaram dois disparos, que atingiram um dos homens”.