Homem que desovou corpos de jornalista e indigenista. “Ouvi os tiros”
A motivação do crime, segundo o policial, teria sido a pesca ilegal do pirarucu na região. O peixe é uma das carnes mais apreciadas do país
atualizado
Compartilhar notícia
Aos poucos, investigadores da Polícia Federal (PF) vão colhendo novos detalhes sobre a confissão de Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado, de 41 anos. O pescador ilegal revelou aos policiais que chegou a ouvir os disparos que tiraram a vida do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo Pereira, desaparecidos desde 5 de junho.
No entanto, Pelado negou que tivesse participado diretamente das execuções. “Ele falou que quando chegou no local, o indigenista e o jornalista já estavam mortos. Logo depois, os corpos foram parcialmente carbonizados, mas que ainda poderiam ser identificados. Seu envolvimento mais efetivo teria sido enterrar as vítimas”, afirmou uma fonte da PF ouvida pela coluna.
A motivação da barbárie, de acordo o policial, teria sido a pesca ilegal do pirarucu na região. O peixe é uma das carnes mais apreciadas do país, especialmente na região Norte. A reserva indígena no Vale do Javari seria invadida com frequência por pescadores irregulares. Os criminosos faturariam cerca de R$ 100 por cada quilo do pescado vendido.
Os suspeitos
Pelado é irmão de Oseney da Costa de Oliveira, 41 anos, conhecido como Dos Santos. Ambos foram presos suspeitos de participarem do crime. Oseney vai ser interrogado e encaminhado para uma audiência de custódia na Justiça de Atalaia do Norte, segundo informações da Polícia Federal.
As buscas pelo jornalista e pelo indigenista completaram 11 dias nesta quarta-feira (15/6). A PF concentrou os esforços nos últimos dias em áreas próximas ao Rio Itaquaí, onde objetos pessoais dos desaparecidos foram encontrados.
Dom Phillips e Bruno Araújo Pereira se deslocavam com o objetivo de visitar a equipe de vigilância indígena que atua perto do Lago do Jaburu. O jornalista pretendia realizar algumas entrevistas com os habitantes daquela região.
De acordo com relatos, o desaparecimento ocorreu durante o trajeto da comunidade Ribeirinha São Rafael à cidade de Atalaia do Norte.
As vítimas
Bruno era considerado um dos indigenistas mais experientes da Fundação Nacional do Índio (Funai).
No órgão desde 2010, ele foi Coordenador Regional da Funai de Atalaia do Norte por cinco anos. Acabou demitido, em 2019, após combater mineração ilegal em Terras Indígenas.
A exoneração de servidor ocorreu no momento em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) apresentou um projeto para liberar garimpos nas reservas.
O indigenista estava licenciado da Funai e atualmente fazia parte do Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente (Opi).
Bruno era alvo constante de ameaças pelo trabalho contra invasores que vinha fazendo juntos aos indígenas.
Jornalista preparava livro
Dom Phillips era um jornalista colaborador do veículo britânico The Gardian. Ele se mudou para o Brasil em 2007 e morava em Salvador.
Phillips estava trabalhando em um livro sobre meio ambiente com apoio da Fundação Alicia Patterson.
Além do Guardian, Phillips já publicou trabalhos no Financial Times, New York Times, Washington Post e em agências internacionais de notícias.
Receba notícias do Metrópoles no seu Telegram e fique por dentro de tudo! Basta acessar o canal: https://t.me/metropolesurgente.