Guerra entre gerações do tráfico derrama sangue por ruas de Ceilândia
Os autores do assassinato foram escolhidos a dedo pelos chefões do tráfico. Todos pertencem à antiga geração do crime enraizado em Ceilândia
atualizado
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A guerra entre grupos de traficantes que motivou duas execuções ocorridas entre o último sábado (21/10) e a segunda-feira (23), em Ceilândia, é apenas mais um capítulo de uma história violenta que se perpetua há pelo menos duas décadas e encharca de sangue as ruas que cortam os conjuntos das quadras QNN 3, 5, 8 e 22.
Um confronto de gerações, com a velha guarda do tráfico de um lado e dissidentes do antigo grupo que se aliaram a facção criminosa Comboio do Cão, funciona como um combustível fatal que eleva o número de mortes violentas na maior região administrativa do Distrito Federal. Nestas quadras, o tráfico determina o tipo de droga a ser revendida. Enquanto o crack predomina na 3, a maconha é a campeã de vendas na 5, e a cocaína “comanda” na 8 e 22.
A coluna apurou as circunstâncias que envolvem as mortes do traficante Adrian Sabino Maciel, 22 anos, mais conhecido como Caruso, e da jovem Maria Luiza Neres da Costa Cruz, 21. Ele foi executado a tiros por homens fortemente armados à bordo de um carro blindado. Sem chance de reação, o jovem traficante, que havia abandonado o grupo que comandava o tráfico na região, teria mandado um recado aos mais velhos: “Vocês não mandam mais aqui”.
“Mataremos todos”
A resposta veio em forma de juramento de morte. Alguns dos traficantes mais antigos de Ceilândia — os nomes serão preservados para não atrapalhar as investigações conduzidas pela 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia Centro) — acostumados a despejar maconha, cocaína e crack em determinadas quadras de Ceilândia, usaram um braço armado para matar os antigos comparsas que traíram o grupo.
Caruso foi o primeiro alvo. O trio que o executou carregava uma espingarda de pressão adaptada para munição letal .22, um carregador alongado de Glock com capacidade para 30 munições, um carregador simples, uma mira a laser e um coldre. Alvo de uma tocaia, a vítima foi assassinada próxima a uma distribuidoras de bebidas, na QNN 3.
Os autores do assassinato foram escolhidos a dedo pelos chefões do tráfico. Todos pertencem à antiga geração do crime enraizado em Ceilândia. Michael Gediael Pereira de Sousa, 34, Marcelo Lourenço dos Santos, 52, o Pantera e Cassiano Chaves da Silva, 42, cumpriram a missão, mas foram presos em flagrante pela Polícia Militar.
Efeito colateral
Dois dias depois, mesmo após a prisão de parte do braço armado dos líderes do tráfico na QNN 3, mais uma morte havia sido encomendada: a de um criminoso conhecido como “Cascão”. No entanto, uma mulher que estava perto dele é quem acabou executada por autores que empunhavam uma pistola Glock com seletor de rajada e pente alongado.
Maria Luiza Neres Costa da Cruz, 21 anos estava perto de uma quadra de esporte, por volta de 10h, quando foi atingida por três projéteis da rajada disparada pelos executores. Pelo menos 25 cápsulas foram recolhidas no local, mas Maria Luiza não era o alvo. O traficante jurado de morte não foi atingido e conseguiu fugir. A mulher não teve a mesma sorte e morreu no local.
Investigadores da 15ª DP fizeram a conexão entre as duas execuções, mas ainda não chegaram ao executores, que fugiram do local do homicídio em um carro.