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Grupo investigado por corrupção recebeu do GDF R$ 41 milhões em um ano

A Associação Amigos do Futuro foi selecionada para organizar a Corrida de Reis 2025, com um empenho de R$ 3,5 milhões

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KEBEC NOGUEIRA/ METRÓPOLES @kebecfotografo
Evento Nosso Natal, que ocorre na Esplanada dos Ministérios Metrópoles
1 de 1 Evento Nosso Natal, que ocorre na Esplanada dos Ministérios Metrópoles - Foto: KEBEC NOGUEIRA/ METRÓPOLES @kebecfotografo

A Associação Amigos do Futuro, envolvida em uma investigação de superfaturamento conduzida pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), recebeu R$ 41,7 milhões em repasses do Governo do Distrito Federal (GDF) ao longo de 2024.

O montante foi distribuído entre diversas secretarias, sendo a maior parte destinada à de Cultura, com valores como R$ 14,3 milhões para o projeto Nosso Natal 2024.

Além disso, a associação foi selecionada para organizar a Corrida de Reis 2025, com um empenho de R$ 3,5 milhões.

A investigação, fruto da Operação Krampus, apura suspeitas de desvio de recursos públicos e superfaturamento, especialmente no evento natalino, em que o valor do contrato inicial de R$ 12 milhões foi elevado para R$ 14,3 milhões, com a inclusão de itens não previstos no plano de trabalho.

O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco),  do MPDFT, também questiona a falta de licitação e a possibilidade de a associação ser uma entidade de fachada, com sede sem consumo de energia e ausência de empregados registrados.

Em defesa, a Secretaria de Cultura afirmou que todo o processo foi transparente, e que o evento Natal 2024 foi um grande sucesso, com mais de 1,2 milhão de pessoas.

Total de repasses por pasta:

  • Secretaria de Cultura: R$ 23,6 milhões
  • Secretaria de Turismo: R$ 8,9 milhões
  • Secretaria da Mulher: R$ 8 milhões ;
  • Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação: R$ 1,25 milhão
  • Total: R$ 41.704.033,16 em 2024

Operação Krampus

Os alvos da ação coordenada pelo Gaeco foram empresários e servidores da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal.

Eles são suspeitos de integrar esquema de desvio de recursos públicos por meio da contratação ilegal do projeto Natal Encantado 2024 (Nosso Natal 2024) pela pasta. A ordem judicial também determinou o bloqueio do montante de mais de R$ 5 milhões.

A coluna apurou que os principais investigados são:

  • João Filho de Sousa Cândido, subsecretário de Difusão e Diversidade Cultural da Secretaria de Cultura
  • Carlos Leandro de Oliveira, coordenador de Planejamento e Monitoramento de Projetos Especiais da pasta
  • Fernando Pereira Borges de Andrade, presidente da Associação Amigos do Futuro
  • Eduardo de Lima Moreira, representante do Instituto Conecta Brasil (instituto que pode ter colaborado com a seleção da Amigos do Futuro)
  • Também foram cumpridos mandados de busca e apreensão na sede dos dois institutos e na Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal.

Além dos crimes de licitação, apuram-se, em tese, os delitos de corrupção ativa e passiva, de peculato, de lavagem de dinheiro e de organização criminosa.

Nosso Natal

O projeto consistiu na ornamentação natalina e montagem de estruturas na Esplanada dos Ministérios. Basicamente, um serviço de locação, que se iniciou em 1º de dezembro, com previsão de finalização nesta segunda, e que custou aos cofres públicos R$ 14,3 milhões.

Conforme apurado no âmbito da investigação e explicitado no próprio edital, inicialmente, o Nosso Natal 2024 tinha previsão para ocorrer na Praça do Cruzeiro, na Rainha da Paz, na Praça do Buriti e na Esplanada dos Ministérios.

Com base nesse primeiro formato, a instituição que foi escolhida pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa para realizar a ação, a Associação Amigos do Futuro, se comprometeu a adornar todos esses espaços e a fornecer os demais serviços previstos, que contemplavam apresentações de artistas e todo o staff de limpeza, segurança e outros, por exatos R$ 12 milhões.

No entanto, após a seleção da associação para realizar o projeto, o objeto da contratação foi reduzido, passando a prever que o evento ocorreria apenas na Esplanada.

Preço reduzido

Segundo as investigações, considerando a exclusão dos serviços locatícios que seriam disponibilizados na Praça do Cruzeiro, na Rainha da Paz e na Praça do Buriti, o preço da contratação deveria sofrer uma redução proporcional àquilo que foi retirado do negócio.

O Gaeco aponta que, se fossem levados em conta os preços que a própria associação ofereceu para realizar o negócio, o valor da contratação deveria ser de, no máximo, pouco mais de R$ 8 milhões. E esse valor, na visão dos promotores de Justiça, já seria elevadíssimo, não se descartando que também estejam superfaturados.

A Secretaria de Cultura e Economia Criativa, porém, não só não reduziu o valor da contratação, os R$ 12 milhões iniciais, como elevou o valor do negócio para mais de R$ 14 milhões, o que foi feito por meio de um acréscimo ilegal de itens que não estavam originariamente previstos no plano de trabalho da associação. Tudo só foi possível porque, de acordo com a investigação, houve a conivência de servidores da pasta.

Considerando o valor de quase R$ 8,5 milhões e o valor R$ 14,3 milhões, que prevaleceu ao final, o Ministério Público aponta um superfaturamento de quase R$ 6 milhões, ou um acréscimo de 69% do valor inicial que seria devido. Além da elevação do valor da contratação, foi apurado que alguns itens previstos no contrato não foram integralmente disponibilizados, como foi o caso dos banheiros químicos.

Segundo o Gaeco, a própria forma de contratar eleita pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa também é questionável, já que a pasta contratou a associação sem licitação. O Ministério Público ainda aponta indícios de que o grupo, que foi escolhido pela SECEC-DF, seria uma entidade de fachada, pois não tem qualquer empregado cadastrado em bancos oficiais e no endereço da sede indicada pela entidade não teria havido consumo de energia no último ano.

Segundo o plano de trabalho apresentado pela associação, apenas o aluguel da estrutura da árvore de Natal, que é basicamente formada por estrutura metálica e um tecido que a reveste, custou R$ 1 milhão. Também o Ministério Público de Contas do Distrito Federal entrou com uma ação contra o Natal Encantado 2024 perante o Tribunal de Contas. No dia 23 de dezembro, a Corte determinou à SECEC-DF a suspensão dos pagamentos para a associação.

A operação desta segunda, fruto de investigação conduzida pelo Gaeco do Ministério Público do Distrito Federal, contou com o apoio operacional do Departamento de Combate à Corrupção da Polícia Civil (Decor-PCDF).

O outro lado

Confira a íntegra da nota enviada pela Secretária de Cultura e Economia Criativa:

A Secretária de Cultura e Economia Criativa recebeu com surpresa a informação de que está em curso uma investigação do MPDFT, e tem colaborado com as autoridades. Porém, mesmo diante do inesperado, está colaborando com as autoridades competentes com serenidade e tranquilidade, por que é a maior interessada na resolução e apuração dos fatos.

Inclusive, o Ministério Público de Contas do DF já havia solicitado informações a cerca do edital de Natal, e tem acesso, desde o início, a todo o processo. A Secretaria tem prestado todas as informações que lhe são solicitadas, enfatizando a transparência e lisura de todo o processo.

Neste sentido, a Secretaria de Cultura reforça que tem a ciência de que entregou o melhor evento de Natal que os brasilienses já presenciaram. O Nosso Natal 2024 reuniu mais de 1,2 milhão de pessoas, com uma média de 40 mil visitantes diários. Um evento que teve uma estrutura três vezes maior do que a do ano anterior, além de ter oferecido mais de 200 atrações culturais locais e de diversas outras atrações que encantaram o público de todas as idades, durante 29 dias, o dobro do período da festividade no ano passado.

Todos os valores que constam no plano de trabalho estão de acordo com o preço público. Ressaltamos que o processo de instrução administrativo foi devidamente pautado pelos princípios que regem a administração pública, em conformidade com a legislação que define os moldes de editais públicos.

A Secec reforça que tem a convicção de que fez todos os esforços para garantir um mês inteiro de celebração, de cultura e de movimento para a economia do DF, gerando impactos positivos a todos os brasilienses.

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