Exclusivo: em meio a cenas de guerra, PMs observam depredação em Brasília
Vídeos obtidos pelo Metrópoles mostram diversos atos de vandalismo no último dia 12/12. Mesmo com forte aparato policial, ninguém foi preso
atualizado
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Enquanto as investigações da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) avançam para fechar o cerco contra a multidão de bolsonaristas que transformou a área central de Brasília em uma zona de guerra, imagens registradas por câmeras controladas pela Secretaria de Segurança do DF (SSP-DF) mostram a facilidade com que os vândalos incendiaram ônibus e carros sem serem confrontados, mesmo com policiais militares estando bem perto dos atos de depredações.
A PMDF disse já ter aberto investigação interna para apurar tais condutas (leia a nota no fim da matéria).
Veja imagens registradas pelas câmeras da Secretaria do DF:
A coluna Na Mira obteve, com exclusividade, vários vídeos gravados da base do Centro Integrado de Comando e Controle (CICCR) da SSP. As imagens captadas em diversos pontos da área central mostram, do alto, a movimentação dos principais suspeitos de comandarem, no último dia 12 de dezembro, os ataques ao prédio da Polícia Federal e a outros bens públicos e privados. Apesar de as cenas de terrorismo terem durado cerca de cinco horas, ninguém foi preso.
Uma câmera fixada em frente à Torre de TV flagrou o momento exato em que um ônibus é incendiado e empurrado canteiro abaixo. Segundos depois, várias viaturas se aproximam e passam exatamente ao lado dos suspeitos. Alguns caminham com tranquilidade pelo gramado e filmam com celulares o coletivo em chamas descendo descontroladamente a ladeira.
Outra cena capta, às 21h14 do dia 12/12, um grupo com camisetas verdes e amarelas invadindo um posto de gasolina perto da 5ª DP (Área Central). Armados com paus e pedras, eles ameaçam os funcionários e começam quebrar as bombas de combustíveis.
Um frentista avista uma viatura da PMDF e acena, desesperado. O carro com os militares chega a dar marcha à ré, mas nenhum policial desembarca. Alguns segundos depois, o veículo da corporação deixa o estabelecimento em meio ao caos.
Sem enfrentamento, os vândalos ainda roubaram do posto de combustíveis 40 botijões de gás, que foram usados para fazer barricadas nas pistas.
Conversa
As imagens da Secretaria de Segurança ainda captaram como os vândalos espalharam o medo pelas vias S1 e N1 do Eixo Monumental mesmo com o patrulhamento ostensivo na região. Numa delas é possível ver bolsonaristas queimando caçambas de lixo e, depois, correndo pela pista. No decorrer dos atos criminosos, viaturas da PMDF com rotolights ligados ziguezagueavam pela pista, mas nenhum policial desce para fazer repressão.
Em outro ponto da área central, as gravações captaram a conversa entre PMs e alguns manifestantes enquanto um incêndio consumia um latão de lixo. Anteriormente, conforme apurado pelo Metrópoles, esses mesmos bolsonaristas teriam ateado fogo em um veículo a pouco metros dali. Logo depois do diálogo registrado pelas imagens, os suspeitos deixam o lugar sem qualquer esforço da polícia no sentido de conduzi-los a uma delegacia.
Já no estacionamento próximo ao prédio da Polícia Federal, na Asa Norte, houve um princípio de confronto entre a PM e um grupo de bolsonaristas. Após o uso de spray de pimenta e algumas bombas de efeito moral, carros foram consumidos pelas chamas. Ainda com a situação fora de controle, praças e oficiais entraram nas viaturas e deixaram o estacionamento. Assim como nas outras situações, os criminosos não foram reprimidos e continuaram espalhando a violência na capital federal.
Veja imagens dos ataques:
Investigação
Com rostos cobertos, pedras e pedaços de madeira nas mãos, bolsonaristas quebraram e incendiaram patrimônios públicos e privados, deixando um rastro de destruição pela cidade no último dia 12/12. Naquela noite, nenhum suspeito foi levado para a 5ª Delegacia de Polícia (Área Central), responsável pela região. A unidade policial também foi alvo da ira bolsonarista e teve vidraças quebradas.
Os ataques seguiram-se à prisão do indígena Cacique Tserere. Alguns dos envolvidos justificaram o ato com a alegação de que agentes da PF “prenderam injustamente um indígena”.
O Metrópoles apurou que os manifestantes se referiam ao Cacique Tserere, líder de um grupo Xavante e apoiador de Jair Bolsonaro (PL). Bastante conhecido entre manifestantes acampados há dias em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília, o indígena tem feito discursos inflamados contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
O que diz a PMDF
A coluna apurou que a Polícia Civil já identificou os principais vândalos que estiveram à frente dos ataques na noite do último dia 12. Alguns deles já deixaram o DF em direção a outras unidades da Federação.
Procurado para comentar o teor das imagens, o Comando Geral da PMDF confirmou, por meio de nota, que as denúncias de suposta leniência dos praças e soldados são investigadas. “A Polícia Militar informa que abriu apuração para elucidar as ações como um todo do dia 12 de dezembro.”