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Exclusivo: carta revela que Comboio do Cão quer eliminar PCC do DF

Detento afirma que faccionados do PCC passam por situação de abandono e “opressão” que parte de integrantes do Comboio do Cão

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ALEX SILVA/Estadão
Ataque do PCC
1 de 1 Ataque do PCC - Foto: ALEX SILVA/Estadão

Inimigas mortais, as facções criminosas Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comboio do Cão (CDC) protagonizam disputas territoriais, inclusive, atrás dos muros do complexo penitenciário da Papuda. Uma carta escrita por um dos integrantes da organização paulista e interceptada pelas autoridades revelou o pedido de socorro e o receio do grupo liderado por Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, de ser massacrado pelos integrantes do comboio.

O manuscrito tinha como destino a chamada “sintonia final” do PCC, grupo formado por integrantes da facção que tomam as decisões mais importantes sobre os rumos da organização criminosa. A carta foi escrita por um preso que cumpre pena no Presídio do Distrito Federal (PDF) I, em Regime Disciplinar Diferenciado (RDD).

Segundo as palavras do detento, os integrantes da facção paulista passam por situação de abandono e “opressão” que parte de integrantes do comboio. O recado dá a entender que o Primeiro Comando da Capital tem sido “brecado” dentro da Papuda pela facção do DF. Assim, os criminosos do PCC estariam sendo proibidos de disseminar a ideologia da organização.

Veja imagens da Operação Sicário:

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Integrante do PCC preso nesta segunda-feira
Armas apreendidas pela PCDF na Operação Sicário
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Operação contra o PCC foi deflagrada pela Polícia Civil do Distrito Federal

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Integrante do PCC preso nesta segunda-feira

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Armas apreendidas pela PCDF na Operação Sicário

PCDF/Divulgação

Batizados

O Comboio do Cão, segundo a carta do presidiário, estaria batizando ex-integrantes do Primeiro Comando da Capital e pessoas juradas de morte pela facção paulista. A cadeia teria 27 faccionados do PCC e 80 do CDC. Com maioria numérica, o grupo criminoso do DF se faria valer da influência por trás dos muros do complexo penitenciário.

O detento finaliza a carta afirmando que o PCC precisa “lutar pelo poder no coração do Brasil” e que a sintonia final da facção tem de ajudar os integrantes presos na capital do país. Nas últimas frases, o interno suplica por ajuda, para que o Distrito Federal não seja “entregue de mão beijada”.

A Operação Sicário cumpre 12 mandados de busca e apreensão, em Brazlândia, em Samambaia, no Riacho Fundo e em Monte Alto (GO), além de 12 ordens de prisão. Entre os alvos, há 11 integrantes do PCC e um do Comando Vermelho (CV). Alguns deles haviam sido condenados e cumprem pena no complexo penitenciário da Papuda. Um deles é Walter Pereira de Lima Júnior, conhecido como “Waltinho”.

Tribunal do crime

Outros recados interceptados pelas investigações mostram dois integrantes do PCC baseados em Brasília decidirem sobre a tortura e o assassinato de um integrante e da companheira dele. Os dois alvos teriam “traído” a facção.

De acordo com as conversas, em meio à tortura, os executores deveriam dizer aos traidores que eles sobreviveriam. Para a facção, isso garantiria a coleta de informações sensíveis antes do assassinato do casal. Os investigadores também captaram a deliberação e a decisão sobre a morte de um inimigo local da organização criminosa.

Recrutamento

Conduzidas pela 18ª Delegacia de Polícia (Brazlândia), as investigações começaram há dois meses, com a prisão de um integrante do PCC responsável pelo recrutamento de novos faccionados. O alvo é filho de Waltinho, identificado como Gabriel dos Santos Lima. À época, as equipes interceptaram ordens de ataque às forças de segurança e à população de Brazlândia.

Após passar pelo “batismo” da facção, o filho de Waltinho teve a missão de “elevar” o nome do PCC na região administrativa e cometer uma série de crimes. Em trocas de mensagens obtidas pelas coluna Na Mira, o faccionado comenta com a companheira dele que havia acabado de entrar para a maior facção criminosa do país: “Agr eu tenho que batiza os cara meu pai me colocou ne uma
facção ak mais n fala pra ninguém n [sic]”.

Em seguida, o criminoso, na mesma conversa, faz ameaças à população de Brazlândia e às polícias: “Nois vai taça fogo nos ônibus e nas viaturas [sic]”. A conversa continuou, e Gabriel disse: “Oxi vai ser uma facção tenebrosa… Aí nois vai manda mata os cara do comboio do cão já [sic]”. A mensagem era uma ameaça a outra facção criminosa, o Comboio do Cão.

Primeira fase

O filho de Waltinho e a companheira dele, Grasielly dos Santos Lima, haviam sido presos na primeira fase da Operação Sicário, em 15 de março último. Na ocasião, Gabriel foi detido em Brazlândia, na Quadra 35 da Vila São José, e a investigada, na QR 512 de Samambaia Sul.

Na casa de Grasielly, a polícia encontrou uma pistola calibre 380, além de porções de maconha e cocaína. Na de Gabriel, porções das mesmas drogas, prontas para o varejo.

As investigações da 18ª DP revelaram que o objetivo do PCC era gerar pânico na cidade, não apenas por meio do recrutamento de integrantes, mas também de ataques contra grupos rivais, policiais e a população. Nos recados transmitidos pela facção e captados pela polícia, os recrutados deveriam retomar as “guerras de sangue” da cidade.

A 18ª DP pediu o compartilhamento com a Vara de Execuções Penais (VEP-DF) dos elementos colhidos, para inclusão do pai do preso no RDD.

“Há 10 anos, criminosos de Brazlândia matavam uns aos outros em disputas de bairro, chamadas ‘guerras de sangue’. Atualmente, alguns se filiaram ao Comando Vermelho e ao PCC, buscando maior lucratividade na venda de drogas. Cabe à Polícia Civil a identificação e a responsabilização dos faccionados, para restabelecimento da ordem pública”, afirmou Fernando Cocito, delegado-chefe da 18ª DP.

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