Empresário do DF é alvo da PF em ação contra fraude de R$ 63 milhões
Conhecido como Grego, Basile George Pantazis teria atuado como representante comercial da Hichens Harrison na negociação com governo de SP
atualizado
Compartilhar notícia
O empresário Basile George Pantazis (foto principal), conhecido como Grego, é um dos principais alvos da Polícia Federal na Operação Dragão, deflagrada na manhã desta terça-feira (22/2). Os investigadores cumpriam mandados de busca na casa dele, no Distrito Federal. A ordem judicial expedida pela 10ª Vara Criminal Federal de SP faz parte da ação que apura possível superfaturamento de R$ 63,3 milhões na venda de ventiladores pulmonares para o estado de São Paulo.
Foram cumpridos sete mandados nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Feliz (SP) e Brasília. Conforme investigação da PF, o governo de São Paulo adquiriu 1.280 ventiladores pulmonares fabricados na China. A intermediação foi feita pela Hichens Harrison & Co., empresa com sede na Flórida (EUA) e que tem sócios brasileiros. O contrato teria sido firmado por dispensa de licitação, pelo valor de US$ 44 milhões (R$ 242.247.500).
A compra teria ocorrido em abril de 2020, início da pandemia causada pelo novo coronavírus. Apesar da aquisição não ter sido feita com recursos federais, a corporação assumiu o caso mediante suspeita de lavagem internacional de ativos.
Peritos criminais realizaram análise do processo e comparação com outras contratações efetivadas pelo Brasil, tendo identificado sobrepreço estimado em R$ 63.318.356, além de elementos que indicam direcionamento indevido.
Análise de técnicos do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCESP) também apontaram que os preços estavam incompatíveis com os de mercado. Além de fraude no procedimento aquisitivo, os indícios sugerem a ocorrência de lavagem de dinheiro, em que a empresa intermediária, que recebe os valores do governo contratante, envia uma parcela para pagamento de vantagens indevidas e outra parcela para pagamento do fornecedor do produto.
As buscas têm por objetivo a coleta de outros elementos da ocorrência dos delitos em apuração, além de possível crime de associação criminosa, corrupção passiva e corrupção ativa.
Intermediário
Basile George Pantazis teria atuado como representante comercial da Hichens Harrison na negociação com o governo de SP. Ele foi ouvido na CPI das Quarteirizações, da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), em outubro de 2020. O governo de SP fez, inicialmente, a compra de 3 mil ventiladores, mas depois repactuou o acordo e reduziu o número de itens para 1.280.
Na CPI, o grego se defendeu e apontou que a relação política do Brasil com o país asiático dificultou a entrega dos ventiladores, fundamentais para o tratamento contra a Covid-19.
“Eles nos queriam dar 50 máquinas por semana. O Brasil está, infelizmente, em um momento que a relação política com o governo chinês não é das melhores. O governo Bolsonaro não tem simpatia pelo governo chinês, todo mundo sabe disso. Por isso, os chineses também fizeram zero pelo Brasil. Poderiam fazer mais? Poderiam, mas entregaram a conta-gotas”, afirmou.
Segundo o empresário, a fábrica chinesa não cumpriu o acordo de entregar 500 equipamentos por semana. “Quando o governo chinês percebeu que as empresas estavam vendendo qualquer coisa, entregando gato por lebre, fizeram bloqueio e começaram a limitar a quantidade de equipamentos por país e por embarque”, disse.
Pantazis revelou que conversou com o presidente da InvestSP, Wilson Mello, para solicitar ao governador de SP, João Doria (PSDB), o apoio da Embaixada da China: “Explica que São Paulo não é Brasil. São Paulo é quase metade do PIB do Brasil e tem grandes negócios com a China”.
O brasiliense justificou que a negociação foi acelerada porque “o pânico estava instalado”. “Se o governo paulista fosse fazer licitação, emitir contrato, o modus operandi da papelada que tem que ser feito não iria dar tempo de comprar e receber. A gente já perdeu os ventiladores da China para outros países. Eu passei isso para eles [governo de SP] e agiram de uma forma dentro do que acharam que podiam”, afirmou.
Quem é
Na CPI das Quarteirizações, Pantazis se identificou como empresário especialista em “vendas de produtos para governos”, com experiência em logística e negócios com a China.
Basile Pantazis é réu, no Paraná, em processo sobre supostas irregularidades no credenciamento de empresas para o registro digital de financiamento de veículos. Irmão dele, Alexandre Georges também foi denunciado pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR).
Segundo a investigação, servidores do Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR) atuaram para beneficiar a empresa brasiliense Infosolo Informática.
As fraudes teriam dificultado o acesso de outras empresas ao edital de seleção para a oferta do serviço aos consumidores paranaenses, beneficiando, assim, a família dos gregos.
Outro lado
O advogado Daniel Gerber, que representa o empresário Basile George Pantazis, afirma que “todo o procedimento na aquisição dos respiradores por parte do Governo do Estado de São Paulo e em relação ao seu cliente foi exaustivamente analisado pelo Ministério Público Estadual e pela Corregedoria do Estado de São Paulo. A conclusão foi pela completa regularidade da aquisição dos equipamentos”.