DF: advogado é ameaçado por milícia, Comando Vermelho e Comboio do Cão
Integrantes das três facções estariam incomodados com as delações feitas pelo homem e o defensor e marcaram os dois para morrer.
atualizado
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Um advogado e uma testemunha-chave foram ameaçados de morte por pelo menos três organizações criminosas no curso do processo envolvendo a Operação Hórus, da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). Em bilhetes, as facções diziam que eles estavam “cruzando seus caminhos”.
A ação que resultou na Hórus investigou a existência de uma milícia que comandava a grilagem de terras do Setor Habitacional Sol Nascente. As apurações foram conduzidas pelo Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Decor), com participação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do DF.
As informações repassadas pela testemunha ajudaram a deflagrar a operação, que teve três fases, entre 2019 e 2020. Ao longo da apuração, foi identificado um núcleo que atuava como braço armado para cometer crimes relacionados às invasões de terras. Havia também ameaças e homicídios. Ao todo, sete policiais militares foram alvos de prisões preventivas expedidas pela Auditoria Militar do Distrito Federal. O MP e a PCDF também cumpriram 15 mandados de busca acompanhados pela Corregedoria da PM à época.
Durante a apuração, a testemunha denunciou e provou inúmeros crimes praticados pela milícia que ficou conhecida como Comando do Sol Nascente. O mesmo informante apresentou detalhes sobre a atuação de integrantes da organização criminosa Comboio do Cão, cujas ações penais estão em trâmite perante o Tribunal do Júri de Ceilândia.
Veja imagens da Operação Horus:
Comando Vermelho
A presença de integrantes da facção criminosa do Rio de Janeiro Comando Vermelho no rol de ameaças contra o advogado e a testemunha surgiu em agosto deste ano, durante a oitiva de um homem que cumpre pena no presidio de Mata Grande, em Rondonópolis (MT).
O interno revelou, em uma audiência por videoconferência que recebeu um “catatau” – gíria do crime para bilhete – onde constavam o nome do advogado e da testemunha que teria delatado a autoria de um homicídio praticado na região do Sol Nascente. O autor do assassinato teria se filiado ao Comboio do Cão e uma das suas queixas seria que a testemunha e seu advogado estariam “cruzando” seu caminho e o “atrasando” .
As ameaças passaram a ser reiteradas a cada audiência ou condenação em decorrência da colaboração da testemunha, o que aumentou a preocupação do defensor, já que seu nome passou a ser cada vez mais comentado após sua participação nas audiências, sempre acompanhando a testemunha-chave.
As ameaças, segundo as investigações, estariam associadas não apenas ao Comando Vermelho, mas também ao Comboio do Cão e ao Comando do Sol Nascente. Integrantes das três facções estariam incomodados com as delações feitas pelo homem e seu defensor e marcaram os dois para morrer.
Outras fases
A primeira fase da operação ocorreu em maio de 2019. Na ocasião, um dos detidos foi o primeiro-sargento João Batista Firmo Ferreira. O PM é tio da primeira-dama do país, Michelle Bolsonaro, mulher do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). A segunda fase da operação aconteceu no dia 3 de setembro de 2019.
Na terceira fase, policiais cumpriram 17 mandados de prisão preventiva e sete de busca e apreensão em Ceilândia e no sistema prisional do DF. Os suspeitos davam suporte a grileiros de terras presos na fase anterior da Operação Horus.
A facção agia como o braço armado, com ameaças e homicídios contra grileiros rivais. Também intimidavam moradores e comandavam o tráfico de drogas na região. Entre 2009 e 2015, segundo a polícia, foram registradas 224 tentativas de homicídio; 205 homicídios consumados e 113 ocorrências de tráfico de drogas no Sol Nascente. A suspeita é que grande desses crimes foram praticados pela milícia Comando do Sol Nascente, por grupos rivais ou em decorrência de disputas por terras.