Coren-DF abre procedimento contra enfermeiro pedófilo condenado por estupro
Medida administrativa vai apurar conduta do enfermeiro. Polícia Civil do Distrito Federal também investiga outras denúncias de abuso sexual
atualizado
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O Conselho Regional de Enfermagem do Distrito Federal (Coren-DF) instaurou, de ofício, um processo ético para apurar a conduta do enfermeiro da Secretaria de Saúde distrital (SES-DF) Nilton Sérgio Alves Ferreira (foto em destaque). A medida ocorreu após a coluna Na Mira revelar que o servidor foi condenado pelo Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) por estupro. Comprovados os fatos, o profissional pode ter o registro profissional cassado. A Polícia Civil (PCDF) também investigada novas denúncias de abuso sexual.
O primeiro crime, que resultou na condenação, ocorreu em 2014 na casa da vítima, em Águas Lindas (GO), quando a menina tinha 9 anos. A sentença, publicada neste ano, definiu pena inicial de 16 anos de prisão. Contudo, foi reduzida para oito anos, após recursos apresentados pela defesa do acusado, Nilton Sérgio Alves Ferreira (foto em destaque).
Mesmo condenado, o servidor continua a trabalhar na rede de saúde do Distrito Federal e recebe salário líquido de R$ 12.851,38. O acusado trabalhou, inclusive, em alas pediátricas de hospitais públicos. Atualmente, o enfermeiro cuida de jovens infratores.
Em entrevista ao Metrópoles, a mãe da vítima contou que recebeu Nilton Sérgio em casa, por ser uma pessoa próxima à família. O crime ocorreu dois dias antes do aniversário da criança. O acusado chegou a dar R$ 20 à vítima, como “presente de aniversário”, e pedia à menina para não dizer nada a ninguém.
Na ocasião, ele ficou deitado com a vítima por alguns minutos, em uma rede. O enfermeiro passou a mão nas partes íntimas da criança e lambeu a orelha dela.
“À época, ela [a vítima] passou por grande sofrimento psicológico, voltou a fazer xixi na cama, falar igual a um bebê. Houve uma retração enorme, e ela precisou de acompanhamento psicológico. Mesmo com a condenação, ele [Nilton Sérgio] recorre, consegue abaixar [a pena] e, até hoje, está solto. A sensação que tenho é de que, se [o acusado] tem dinheiro nunca vai preso. Eu me sinto inútil, anulada. A vida dele segue normal”, lamentou a mãe da menina. Nem ela nem a criança terão os nomes divulgados pela reportagem.
A mãe da criança descreveu o acusado como uma “uma pessoa sociável e um cara boa praça”. “Se você o conhece, nunca vai imaginar que ele faça uma coisa dessas. Gente boa, humilde, empresta dinheiro para as pessoas. Se fazia isso com crianças da família, imagina com crianças do hospital, que, muitas vezes, estão até sedadas. É um monstro. Ainda não temos dimensão de tudo o que ele fez”, completou.
Assista ao depoimento da mãe da vítima:
Relatos detalhados
Constrangida, no dia do abuso, a criança esperou o autor deixar o local para contar os fatos à mãe. O enfermeiro chegou a ser confrontado pela mulher, confessou o crime e implorou para não ser denunciado.
No curso do processo, a vítima, bastante emocionada, conseguiu contar em detalhes o ocorrido. Ela também disse que Nilton Sérgio passou a mão nas pernas da irmã da menina, também menor de idade.
“Ele me chamou para deitar na rede com ele e começou a passar a mão em mim. Depois, enfiou a mão por baixo da minha roupa, e teve uma hora em que ele apertou [o corpo da criança]. Como viu que eu estava sem graça, ofereceu o celular dele para eu jogar, só que eu não queria jogar. Como ele era mais velho, eu só obedeci. Não sabia o que estava acontecendo. Depois de um tempo, começou a passar a língua no meu ouvido”, relatou a criança.
A menina acrescentou que Nilton Ferreira perguntou se ela queria enfiar a mão por dentro da calça dele. “Eu não sabia o que fazer. Só perguntei se ele queria água. Levantei da rede e fui pegar a água. Contei para minha irmã. Depois que minha mãe chegou no quarto, contei tudo para ela também”, completou a vítima.
Questionada sobre onde ele teria passado a mão, a menina respondeu: “Na barriga; depois, para baixo”. Ela também relatou que o servidor público tocou a vagina dela, por dentro do short, e apertou.
As pessoas da casa conversavam em voz alta e ninguém prestava atenção nos dois, segundo a criança, porque a rede ficava em um dos cantos do imóvel. “Ele me deu R$ 20 para não contar [o crime] para ninguém”, afirmou a menina.
Novo caso
Neste mês, a família de outra vítima procurou a Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) II para informar que o enfermeiro abusou de mais uma menina, durante anos. O primeiro contato com essa vítima ocorreu quando a criança tinha 5 anos, em 2005.
Também considerado de confiança pela família, o servidor público tinha acesso à vítima e, sob pretexto de comprar um sorvete, colocou a criança no colo e passou a mão nas partes íntimas dela.
Em depoimento, a vítima se recordou de que sempre ia à casa de Nilton Sérgio para usar o computador e fazer tarefas escolares. Nessas ocasiões, ele se aproximava da criança e colocava a mão dentro da blusa da menina, enquanto apalpava os seios da vítima e se masturbava.
A criança comentou que o comportamento evoluía com o passar do tempo. Alguns meses depois, Nilton Sérgio começou a introduzir dedos nos genitais da menina.
Em algumas oportunidades, ele exigia que ela apalpasse o pênis dele — primeiro, sobre as roupas do criminoso; depois, coloca a mão da criança por dentro das vestimentas e fazia com que a vítima o acariciasse à força.
Quando a vítima estava com 11 anos, ele a levou para o andar de cima da casa onde morava e começou a fazer sexo oral na menina. Ela lembrou que, todas as vezes antes de Nilton Sérgio começar os abusos, ele oferecia dinheiro à vítima, mas a criança não conseguia compreender o que ocorria.
Posteriormente, a menina relatou que passou a se sentir uma “uma prostituta, sem outra opção senão ceder às investidas de Nilton e aceitar seu dinheiro”. O agressor também a ameaçava, dizendo que ela não deveria contar a ninguém.
Em outra ocasião, o enfermeiro chamou a vítima para “pegar um dinheiro” na esquina. Assim que ela chegou, Nilton Sérgio pediu que ela entrasse no carro e a levou para um motel. Os estupros só pararam em 2014, quando o acusado foi denunciado pela outra vítima e se afastou delas.
Defesa
A Secretaria de Saúde respondeu por meio de nota e ressaltou “que não foi oficiada pelo Tribunal de Justiça de Goiás sobre o teor da decisão”. A pasta ainda esclareceu “que desde 2019, o servidor não atua no serviço da pediatria.
O Metrópoles não localizou a defesa do enfermeiro. O espaço segue aberto para eventuais manifestações.