“Contador do tráfico” ligado ao Comando Vermelho é alvo de busca no DF
A suspeita é de que o homem atuava em uma empresa de fachada usada para dissimular a origem ilícita de bens e valores da facção
atualizado
Compartilhar notícia
Alvo de megaoperação contra a lavagem de dinheiro do tráfico de drogas em todo o país, um contador, morador de Ceilândia, foi surpreendido pela Polícia Civil nas primeiras horas desta quarta-feira (23/3). Os investigadores cumpriram mandado de busca e apreensão no imóvel onde ele mora.
A suspeita é de que o homem atuava em uma empresa de fachada usada para dissimular a origem ilícita de bens e valores frutos de crimes. O grupo tem ligação com a maior facção criminosa do Rio de Janeiro, o Comando Vermelho.
Além de atuar como contador em empresas da facção instaladas no Distrito Federal, o investigado é tio de outro criminoso, que mora na Argentina e é considerado foragido. Este costuma vir ao Brasil com frequência e é dono de imóveis de luxo na capital federal, como uma cobertura no Noroeste e quatro apartamentos no Taguaparque.
As investigações também identificaram outros três empreendimentos de propriedade do foragido no Maranhão. No total, os bens estão avaliados em cerca de R$ 10 milhões. O mais barato, conforme a coluna apurou, custa R$ 1,2 milhão.
A investigação é conduzida pela Polícia Civil do Rio de Janeiro (PCRJ). Entretanto, policiais da Coordenação de Repressão às Drogas da PCDF (Cord) e da Divisão de Operações Especiais (DOE) prestaram apoio e cumpriram buscas em Brasília. A ação recebeu o nome de Operação Mercador de Ilusões.
Foram cumpridos oito mandados de prisão e 40 de busca e apreensão no DF, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Goiás, Minas Gerais, Amapá, Pernambuco e Rio Grande do Norte.
O Juízo da 1ª Vara Criminal Especializada da Capital também determinou o bloqueio de contas e bens de 13 pessoas e de nove empresas, em um total de R$ 681.647.987,92. A quadrilha movimentou R$ 3 bilhões em três anos. O caso começou a ser apurado em 2019.
Smurfing
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), que também participa da operação por meio do Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), explica que os criminosos utilizam-se de uma prática conhecida como smurfing, depósitos de grandes quantias de forma fracionada, para lavarem dinheiro do Comando Vermelho.
Os investigadores identificaram que os depósitos bancários feitos em favor de duas empresas, em outubro de 2019, nos valores de R$ 30 mil e R$ 23,7 mil, eram provenientes do tráfico de drogas da Comunidade do Brejal, situada no Complexo do Salgueiro, dominado pelo Comando Vermelho.
A partir do acompanhamento da movimentação financeira das duas empresas, descortinou-se um esquema criminoso que envolve diversas pessoas pelo país, muitas em regiões de fronteira, que figuram como sócias ou procuradoras de empresas de fachada.
Também foi apurado que algumas dessas empresas realizam a lavagem de capital por meio de criptomoedas, ativos financeiros digitais, protegidos por criptografia, e movimentados sem o controle do Banco Central, da Receita Federal e de outros órgãos de fiscalização. Esse tipo de operação dificulta o rastreio dessas transações e favorece a lavagem de dinheiro e a evasão de divisas.
Rabicó
A base do bando era localizada no complexo do Salgueiro, em São Gonçalo (RJ). O líder é apontado como Antônio Ilário Ferreira, o Rabicó. Ele é considerado um dos criminosos mais perigosos do Rio e está foragido.