atualizado
Tijolo por tijolo, o megatraficante Cícero da Silva Oliveira, conhecido como “Padrinho”, construiu uma sólida reputação no mundo do crime. A fama ultrapassou as fronteiras brasileiras e chegou a países produtores de cocaína e maconha, como Bolívia e Paraguai. Mas o criminoso não se tornou uma notoriedade de um dia para o outro. A ascensão levou cerca de 10 anos para se consolidar.
Quando começou a integrar grupos criminosos especializados em tráfico de drogas baseados na capital da república, o traficante cearense, de 44 anos, logo foi preso pela Coordenação de Repressão às Drogas (Cord). Cícero, então traficante mediano, atuava como batedor de carregamento de drogas.
No entanto, a inteligência e a capacidade de articulação para planejar as empreitadas criminosas fez de Cícero uma espécie de cérebro do tráfico. Em 2013, ele acabou preso pela Cord com mais de mil comprimidos de “ecstasy” e condenado junto com mais quaro comparsas. Conforme constou da sentença condenatória, os investigados se associaram para praticar tráfico interestadual.
Drogas sintéticas
Eles atuavam na compra, venda, transporte, armazenagem e distribuição de cocaína e drogas sintéticas entre Mato Grosso do Sul, Paraná, Goiás e o DF. Recentemente, Padrinho foi condenado por integrar a organização criminosa Comboio do Cão, resultado da Operação Judas, desencadeada pelo Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime (Decor).
A ação desarticulou parte da organização criminosa, responsável pela prática de vários crimes graves, como tráfico de drogas e de armas de fogo, além de homicídios ocorridos em regiões administrativas como Riacho Fundo, Recanto das Emas, Samambaia, Ceilândia e Taguatinga.
Já com contexto entre as grandes facções criminosas, Padrinho recebeu, de forma parcelada, entre março e novembro de 2020, R$ 815 mil de traficantes presos pela Polícia Federal, em 18 de fevereiro de 2o21, por transportarem 17,3 quilos de cocaína. O dinheiro começou a “brotar” nas contas bancárias geridas pelo traficante. Ele teria recebido, por 15 vezes, depósitos de R$ 5 mil de uma mesma pessoa, no período de 25 dias, em janeiro de 2022.
Ligação com PCC
Existe uma estreita relação de confiança e negócios entre a fação criminosa mais poderosa do país e o traficante cearense. Os investigadores localizaram uma série de contas correntes em nome de laranjas que, na verdade, pertencem ao Padrinho. Ele chegaria movimentar R$ 1 milhão mensais provenientes do tráfico de drogas. Boa parte do dinheiro, segundo as apurações, partem de contas domiciliadas em bancos da grande São Paulo.
A PCDF mapeou o caminho da fortuna amealhada com a venda de drogas em redor do país. As contas na capital paulista recebiam valores transferidos por integrantes do PCC no DF. Logo depois, o dinheiro retornava para o DF, desta vez para o bolso de Padrinho. “Com essa investigação, concluímos que Padrinho é fornecedor de cocaína do PCC no Distrito Federal”, explicou um dos policiais envolvidos na investigação.
O volume de tráfico de drogas movimentado pelo criminoso é tão intenso que as transferências financeiras eram frenéticas. Padrinho recebia dinheiro de inúmeros traficantes de drogas do DF e de outros estados. Os policiais tiveram acesso a um vídeo em que um comparsa do traficante entra em uma agência bancária localizada em Ceilândia, carregando bolsas abarrotadas de dinheiro.
Veja o vídeo:
A operação
O traficante é foco principal de uma megaoperação desencadeada nesta quinta-feira (4/5), e, sete estados, além do DF. Equipes da Cord cumprem 80 mandados de busca e apreensão e 14 de prisão.
Traficante hábil, Padrinho cresceu rápido na hierarquia do crime e passou de um simples batedor – que acompanha o transporte de drogas pelas rodovias – a um dos mais poderosos e temidos narcotraficante do país, ganhando o respeito de organizações criminosas como o Primeiro Comando da Capital (PCC), Comboio do Cão (CDC) e Comando Vermelho (CV). A operação “Il Padrino” mapeou centenas de transações envolvendo carregamentos de centenas de quilos de cocaína e milhões de reais.