Como chefões do PCC e Terceiro Comando “trocavam” de nome e davam rolê
Robson André da Silva, o Robinho Pinga, Nei da Conceição da Cruz, o Facão, e Márcio José Sabino Pereira, o Matemático, passaram pelo DF
atualizado
Compartilhar notícia
Alvo de duas megaoperações da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (Ficco), a liderança da facção Terceiro Comando Puro (TCP) ganhou força, respeito e muito dinheiro nas duas últimas décadas. Para trilhar o caminho de organizações criminosas poderosas, o TCP passou a utilizar, desde o início de sua formação, “serviços” essenciais para a cúpula da maior facção do país, o Primeiro Comando da Capital (PCC).
O ano era 2003, e o “trabalho” em questão envolvia a produção – de altíssima qualidade – de documentos falsos para membros que ocupavam alguns dos postos mais altos das facções. Os criminosos cruzavam o país e desembarcavam na capital federal para encomendar o material com Maurício Lima da Silva, um dos falsificadores mais habilidosos do país.
Em meio aos clientes de Maurício, estavam a nata do TCP, entre eles Robson André da Silva, o Robinho Pinga, Nei da Conceição da Cruz, o Facão, e o mais famoso deles, Márcio José Sabino Pereira, o Matemático. Todos tiraram identidades falsas no Distrito Federal com o auxílio de certidões de nascimento adulteradas. O bando contava com outra estelionatária brasiliense, Eliene Sousa Araújo, a Neguinha.
Veja imagens dos chefões do TCP que tiraram identidade falsa no DF:
Investigação
A coluna teve acesso a relatórios de inteligência datados de 2003 e produzidos pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). Os levantamentos apontavam que Eliene costumava dar guarida aos bandidos e os auxiliava durante o processo de identificação, conduzindo-os aos postos e, em alguns casos, retirando suas identidades quando prontas.
Até então, a PCDF não sabia quem eram os líderes do Terceiro Comando Puro que estavam em solo brasiliense. Após meses de investigação foi possível identificar a real identidade. As apurações tinham como alvo inicial descobrir a identidade de todos os envolvidos no maior roubo da história de Brasília e um dos maiores do Brasil – o assalto à agência JK do Banco de Brasília (BRB), ocorrido em outubro de 2001.
Em Brasília, Robinho Pinga obteve a nova identidade, com nome de Luiz Carlos Motta da Silva. Já Facão – que ganhou o apelido por esquartejar seus inimigos após matá-los – passou a se chamar Neilson Martins Conceição da Cruz. Matemático ganhou o nome de Leonel Oliveira da Silva.
Veja mais imagens dos líderes que comandaram o TCP no início dos anos 2000:
Matemático preso
A partir da identificação dos três chefões mais procurados do Rio de Janeiro e do resultado de alguns levantamentos apontando que Matemático, utilizando o documento falso do DF, havia se escondido em São Paulo, a PCDF enviou uma equipe com o objetivo de localizar e prender o traficante.
Em solo paulista, os policiais do DF identificaram que Matemático havia alugado uma mansão luxuosa cercada por muros altos e equipada com circuito interno de TV. O faccionado pagou seis meses de aluguel adiantado e iniciou uma grande reforma no imóvel, que, ainda segundo os levantamentos, serviria como base para os membros da facção carioca na capital paulista
Naquela ocasião, a PCDF enviou equipes da Divisão de Operações Especiais (DOE) com o objetivo de prender o traficante. Como era esperado, Matemático apareceu na casa e, após acompanhamento e confirmação de sua identidade, as equipes da DOE o prenderam no Shopping Aricanduva.
Vida e Morte
Após ser preso em 2005, quando era considerado um dos criminosos mais procurados do país, Robinho Pinga morreu ao sofrer um aneurisma cerebral, em 31 de dezembro de 2007. Ele faleceu no Hospital Souza Aguiar, no Centro do Rio de Janeiro. O traficante havia sido transferido para a Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná, depois que a cidade do Rio foi alvo de uma série de atentados, no final de 2006.
Já Matemático foi morto em maio de 2012, durante uma intensa troca de tiros com policiais civis cariocas que estavam em um helicóptero. Na época, o criminoso era o chefe do TCP, e, por isso, considerado um dos traficantes mais procurados da cidade. A recompensa por informações que levassem à sua captura era de R$ 10 mil.
O único que ainda está vivo é Nei da Conceição Cruz, o Facão, considerado um dos chefes do tráfico no Complexo da Maré. Ele ganhou liberdade condicional em janeiro do ano passado. O benefício foi concedido pela Vara de Execuções Penais do Rio.
Nei estava preso desde 2009, quando foi capturado no Guarujá, litoral paulista. Condenado a 26 anos e 10 meses de prisão, ele cumpriu 20 anos nos períodos em que esteve atrás das grades.