Banheiro do pó aquece tráfico em posto que originou Operação Lava Jato
Homens entram no sanitário das mulheres, e vice-versa, apesar de cada unidade ter apenas um vaso sanitário. Eles aspiram o pó e vão embora
atualizado
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Entre uma baforada e outra de narguilé, traficantes e usuários negociam o valor de carreiras de cocaína. A noitada está apenas começando no complexo gastronômico do Posto da Torre, no Setor Hoteleiro Sul. Famoso no Brasil por ter sido o epicentro das negociatas que deram origem à Operação Lava Jato, o local movimenta intenso comércio de drogas a menos de um quilômetro da Esplanada dos Ministérios e é alvo de investigação policial.
Durante três semanas, a equipe do Metrópoles acompanhou tanto o movimento frenético dos “vapores” – traficantes que atuam no varejo – quanto dos compradores ávidos para aplacar a fissura. Repaginado, o estabelecimento reformou o principal ponto de consumo: o “banheiro do pó”. Homens entram em grupos no sanitário das mulheres, e vice-versa, apesar de cada unidade contar apenas com um vaso sanitário. Eles aspiram a cocaína dentro da cabine e, depois, deixam o espaço. A movimentação se prolonga em alta rotatividade por toda a noite.
Em uma determinada madrugada, uma mulher de roupa preta e boné e um homem trajando calça jeans e blusa rosa eram os responsáveis por garantir o fornecimento de entorpecentes para dependentes químicos e outros frequentadores do lugar. Ambos entravam até cinco vezes no banheiro em curtos períodos de tempo, sempre na companhia de outras pessoas.
Veja vídeo do banheiro do pó:
Garotas de programa e travestis também aproveitam a grande oferta e a facilidade para adquirir substâncias ilícitas no posto. Muitas ficam no local bebendo e consumindo os entorpecentes entre os intervalos dos programas feitos no Setor Hoteleiro Sul. Algumas compram drogas antes de entrar nas boates que exploram a prostituição e funcionam nas redondezas.
Sem saberem que estavam sendo gravados, alguns frequentadores comentaram sobre o tráfico escrachado no “banheiro do pó”. Uma turista hospedada em um hotel próximo ao posto falou sobre consumo de substâncias ilícitas no estabelecimento. “A mulher chegou a entrar com três homens no banheiro. Um segurança chegou a retirá-los, mas voltaram. Eles entram e saem a todo instante”, disse, assustada.
Nas mesas laterais ao posto, onde funciona a lanchonete especializada em comida árabe, traficantes aproveitam para retirar drogas de locais em que haviam sido escondidas pelos próprios criminosos. Após negociar a venda das porções, eles entram nos banheiros e finalizam as transações, aspirando o pó.
Prisões no posto
A Polícia Civil do DF (PCDF), por meio da Seção de Repressão às Drogas (SRD) da 5ª Delegacia de Polícia (Área Central), costuma prender traficantes que agem no Posto da Torre. O último a ser detido, em 24 de maio, tinha por hábito usar um carro a fim de transportar drogas embaladas e prontas para o consumo.
Quando estava em um das mesas de madeiras, os policiais renderam o suspeito e encontraram 26 porções de cocaína prontas para venda. O homem movimentava o tráfico sempre na companhia da namorada e também teria o costume de comercializar medicamentos falsos na região que orbita a Torre de TV.
O Posto da Torre pertence ao doleiro Carlos Habib Chater, condenado a 10 anos e 11 meses de prisão por crimes contra o sistema financeiro. A pena foi imposta pelo então juiz federal Sergio Moro, em setembro de 2018. A coluna procurou os administradores do Posto da Torre, na tentativa de conversar com Chater sobre o esquema de tráfico de drogas que passou a invadir o local durante as madrugadas. No entanto, não houve resposta até a última atualização desta reportagem. O espaço permanece aberto para eventuais manifestações.