Áudio: magnata fake dos bitcoins engana vítima sobre dívida de R$ 500 mil
Durante a conversa, o estelionatário chegou a afirmar que teve “problemas de saúde” após contrair uma gripe, para justificar o calote
atualizado
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A ex-cunhada do suposto megainvestidor do mercado financeiro Thiago da Silva Rocha, mais conhecido como Magnata Fake dos Bitcoins, gravou uma reunião onde combinava o pagamento de uma dívida no valor de R$ 520 mil. A servidora pública federal foi casada com o irmão do golpista e relutou muito antes de cair no conto do estelionatário. O suspeito criou o personagem para aplicar golpe estimado em R$ 30 milhões nas mais de 20 vítimas. A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) investiga o caso.
A servidora resolveu gravar a conversa para provar que o criminoso agia de má-fé, e não devolvia as grandes quantias transferidas para ele. O dinheiro seria investido em moedas virtuais. Após meses sem conseguir receber, a vítima marcou um encontro para, então, acertar os pagamentos dos repasses.
Durante a conversa, o estelionatário alegou que teve “problemas de saúde”, após contrair uma gripe. Dissimulado, Thiago afirmou que quitaria os R$ 520 mil em quatro parcelas, sendo a primeira no valor de R$ 133 mil, a segunda de R$ 137 e as duas últimas de R$ 142 e R$ 146 mil. “Claro que não recebi nenhum centavo do meu dinheiro, e ele desaparece”, contou a vítima.
Ouça magnata fake dos bitcoins enganando vítima sobre pagamento de dívida:
Lábia afiada
Como não tinha muitas opções, a servidora aceitou receber quatro notas promissórias, mas ela nunca viu a cor do dinheiro. “Eu ainda entrei em contato com o meu ex-marido, irmão do Thiago, no fim de março pra cobrar, já que ele não me respondia, e ameacei entrar na Justiça caso ele não pagasse. No entanto, de nada adiantou. Ele desapareceu e nunca mais respondeu”, desabafou.
A servidora relatou que o magnata usou de muita lábia para convencer os familiares a investirem. “Na época, ele me contou que comprou 200 Bitcoins a R$ 2 mil reais cada, totalizando R$ 400 mil, que era todo o dinheiro que ele tinha. E disse, ainda, que havia investido R$ 1 milhão para criar plataforma que tinha uma corretora chamada DigStar Exchange. Ele me mostrou um site e me falou sobre como era possível investir valores a partir de R$ 10 mil e obter lucro”, lembrou.
Bom de papo, o operador mostrava aos clientes que era possível ter lucro mensal de 3% sobre o valor aplicado nos chamados blocos de ações e no mercado de criptoativos. Para isso, Thiago fazia reuniões, ministrava cursos de operação no mercado financeiro e mostrava a evolução das aplicações em tempo real por meio de uma plataforma desenvolvida por ele.
Veja fotos do magnata fake dos bitcoins:
O caso
Simpático, sedutor e com discurso convincente sobre investimentos, Thiago se aproximou da família de uma trader, acostumada a operar no mercado financeiro. Durante meses, o golpista criou vínculo de amizade com a vítima e parentes dela, como o pai e a irmã. “A intimidade e o elo de amizade eram tamanhos que ele chegava a cozinhar na casa da minha família”, disse a mulher, de 43 anos.
A vítima foi convencida a retirar todas as aplicações financeiras usadas para operar no mercado de renda variável e repassá-las ao suposto trader. O caloteiro teve acesso às senhas de várias contas e controlou o montante de aproximadamente R$ 1 milhão. “Em troca, Thiago dizia que esse valor renderia 3% ao mês. Ele chegou a pagar alguns dividendos, mas logo parou”, revelou a mulher.
Desconfiada, a cliente pediu o capital de volta, mas já era tarde. O golpista começou a protelar o pagamento, inventar desculpas e se afastar da família. “Ficamos completamente desestruturados financeira e psicologicamente. Toda essa situação caiu como uma bomba na família, que acreditava na honestidade do Thiago. Ele chegava a usar os próprios filhos para passar uma imagem de pessoa de bem”, desabafou.
Veja vídeo do magnata ostentando:
Vítima vendeu empresas
A coluna identificou pelo menos 21 vítimas do magnata. O prejuízo de cada pessoa lesada varia. Há quem tenha perdido R$ 100 mil, R$ 500 mil. Outros, valores com cifras superiores a R$ 1 milhão. Também houve casos de clientes que venderam empresas para investir nos negócios do estelionatário.
Um empresário ouvido pela coluna relatou ter vendido duas empresas e ainda ter convencido a própria mãe a colocar dinheiro nas mãos do caloteiro. “Ao todo, coloquei R$ 300 mil divididos em três blocos de ações que eram operadas pelo Thiago. Cheguei a receber alguns rendimentos, mas os pagamentos começaram a atrasar até o momento em que pararam de vez”, lembrou.
De acordo com a vítima, Thiago convidou alguns dos maiores investidores que ele tinha para passar o Réveillon, com tudo pago, em Angra dos Reis, no litoral do Rio de Janeiro. “Essa festa ocorreu na virada de 2021 para 2022, e todos viajaram com direito a hospedagem em um hotel de luxo, todas as bebidas e comidas pagas, e passeios de lancha e de jet-ski. Depois, passamos a desconfiar que ele pagou por isso com nosso próprio dinheiro. Inclusive, ele chegou a Angra de helicóptero”, ressaltou.
Muitos clientes do magnata dos bitcoins suspeitam que ele tenha usado uma espécie de pirâmide financeira para alimentar o negócio fraudulento, pagando os dividendos de clientes antigos com o dinheiro de novas pessoas captadas para o negócio. A coluna descobriu vítimas do golpista em vários estados do país – entre os quais, Minas Gerais, Acre e Goiás.
Após o negócio desandar e todos começarem a cobrar que o dinheiro fosse devolvido, Thiago nunca mais foi visto ou encontrado pelas vítimas. A reportagem tentou entrar em contato com o suposto trader, mas ele não atendeu às ligações. O espaço permanece aberto para manifestações.