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Áudio de facção faz oposição pedir impeachment de prefeito de Manaus

O pedido foi motivado após reportagem do Metrópoles revelar detalhes de um suposto esquema de compra de votos na capital do estado

atualizado

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Valdo Leão / Semcom
Prédio espelhado com os dizeres: "Prefeitura de Manaus"
1 de 1 Prédio espelhado com os dizeres: "Prefeitura de Manaus" - Foto: Valdo Leão / Semcom

O atual prefeito de Manaus (AM), David Almeida (Avante), se tornou alvo de um pedido de impeachment protocolado por um advogado na Câmara Municipal da capital, no Ministério Público Eleitoral e no Tribunal Regional Eleitoral. O pedido foi motivado após reportagem do Metrópoles revelar detalhes de um relatório de inteligência elaborado pela Secretaria Executiva Adjunta de Inteligência da Secretaria de Estado de Segurança Pública de Manaus.

O documento, de 63 páginas, sugere que a campanha do político, em 2020, tenha destinado cerca de R$ 70 mil aos integrantes da facção criminosa Comando Vermelho (CV) em troca de apoio. Traficantes teriam pedido votos em regiões humildes e receberiam, além do dinheiro, benfeitorias em infraestrutura. A confecção do pedido teve participação de um grande escritório de advocacia do Distrito Federal.

No pedido de impeachment, o advogado Leôncio Paes de Carvalho afirma que foi despertado pelo intenso noticiário a respeito da suposta aliança entre os então candidatos, David Almeida e seu vice, Marcos Rotta, e a facção criminosa Comando Vermelho. “A repercussão midiática do caso foi imediata, tendo a notícia sido divulgada no portal Metrópoles, um dos maiores do país, e replicada em vários outros”, analisa o advogado no pedido.

Segundo o defensor, o relatório produzido pela Secretaria de Segurança, ainda que em “descoberta fortuita, evidenciou tratativas antirrepublicanas dos prefeito e vice-prefeito de Manaus com o crime organizado”, diz o pedido. Na peça, Leôncio de Carvalho ressalta que é possível verificar imagens que indicam conversas de WhatsApp entre líderes do Comando Vermelho e assessores ligados aos políticos. “Ocorrem tratativas para a obtenção de votos em troca de melhorias nas áreas da cidade dominadas pela facção”, analisou.

Além dos fatos apurados no relatório de inteligência, o prefeito lida com denúncia de um suposto enriquecimento ocorrido durante a pandemia provocada pelo novo coronavírus. Ele teria adquirido quatro postos de combustível uma loja de conveniência e uma transportadora em curto período de tempo. O patrimônio figura divido entre seu cunhado, casado com sua filha há cerca de dez meses e um sobrinho.

O relatório

O documento revelado pela coluna é fruto de análise minuciosa feita em celulares de integrantes da organização criminosa carioca. Um dos aparelhos periciados foi o de Lenon Oliveira do Carmo, conhecido como Bileno. Em julho deste ano, o traficante acabou morto durante confronto policial ocorrido na estrada do Puraquequara, na zona leste de Manaus.

Dois anos antes de ser abatido pela polícia, porém, o então líder do CV foi preso, quando todos os municípios do país realizavam eleições locais. À época, foram encontradas, em celular que estava com o traficante, mensagens que continham conversas suspeitas com candidatos às vésperas do pleito daquele ano.

Um dos diálogos traz como personagem o gerente do tráfico de drogas de Bileno, conhecido como Alex. No áudio, ele fala de supostos acordos com David e Marcos Rotta.

Veja prints do relatório de inteligência:

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Relatório de inteligência produzido pela Secretaria de Segurança do Amazonas
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Blieno foi assassinado em julho deste ano

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Relatório de inteligência produzido pela Secretaria de Segurança do Amazonas

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Troca de favores

Segundo o dossiê produzido pelas forças de segurança de Manaus, Bileno era peça fundamental para o Comando Vermelho no Norte. Ele mantinha o controle do tráfico e autorizava reuniões entre os seus intermediários com postulantes a cargos no governo estadual.

Mensagens apontam que os faccionados foram supostamente procurados pelos assessores dos candidatos. A organização criminosa se comprometia a conseguir votos em comunidades dominadas pelo CV em troca de regularização de áreas invadidas e implementação de infraestrutura, como poços, asfalto e cisternas.

Ouça traficantes comentando sobre apoiar políticos:

Por meio de mensagens em áudios, o gerente do tráfico, Alex, juntamente com outros comparsas, chegam a fazer supostos acordos com assessores dos então candidatos a prefeito e vice-prefeito. A intenção, de acordo com o relatório da SSP-AM, seria conseguir a maior quantidade de votos junto à comunidade. David e Marcos Rotta venceram a eleição daquele ano e, atualmente, comandam a capital do estado.

O suposto elo entre os candidatos e os narcotraficantes aparece em uma gravação obtida por quebra telemática em um dos aparelhos apreendidos. No áudio registrado em outubro de 2020, Alex fala supostamente com um assessor de David Almeida e Marcos Rotta, a fim de marcar reunião no sentido de acertar valores para compra de votos, conforme sugere a apuração.

Em setembro, em outro áudio, Alex confirmou aos comparsas que “fechou com o candidato”. O passo a passo das negociações era repassado diretamente a Bileno. Uma segunda gravação obtida pela Secretaria de Segurança detalha a relação.

Na ocasião, Bileno relata que, “por enquanto, está ‘fechado’ com o candidato de Marcos Rotta, no caso, David Almeida. Na sequência, o bandido diz que ele “deu até manilhas para fazer a ponte, além de sacos de cimento, e ficou de fazer poços e asfaltar as ruas da comunidade”. Depois, o traficante afirma que “não está gostando muito da proposta e está esperando uma proposta melhor dele para fechar”. Finaliza dizendo que, depois de fechar com ele [Marcos Rotta], “vai ser geral e que todo mundo deverá apoiá-lo”.

Veja o diálogo:

Em outro diálogo, Bileno confirma que os candidatos ficaram de cavar os poços artesianos, dar 500 canos e asfaltar as duas principais vias de duas comunidades. “Aí, depois, quando ele ganhar, irá asfaltar o resto.” O traficante diz que, se eles fecharem, “vai ser uma grande quantidade de votos”. Em seguida, faz as contas: “Deve ser de 15 [mil] a 30 mil votos na comunidade Bairro da Fé, de Francisca Mendes 1 e 2, de Puraquequara, de Coração de Mãe, de Bela Vista e de Colônia Antônio Aleixo”.

O criminoso ainda exige dos então candidatos um “trabalho social” na comunidade, mas ponto que, para isso, precisa de um “faz-me rir” e pede aos políticos que adiantem pelo menos R$ 40 mil. O “pacote completo” envolvendo o apoio nas comunidades de Santa Inês 1, Santa Inês 2, Ipixuna e outros lugares poderia, segundo os criminosos, ser negociado por R$ 70 mil.

Conforme o relatório de inteligência da SSP-AM, o material apreendido mostra como a “facção criminosa Comando Vermelho e seus comparsas estão diversificando sua atuação criminosa, tentando fazer alianças com atores políticos do Estado do Amazonas”.

O outro lado

A assessoria de comunicação da Prefeitura de Manaus foi acionada no dia seguinte, para que o prefeito David Almeida e seu vice, Marcos Rotta, se posicionassem. Em nota, o chefe do executivo municipal se manifestou informando que pedirá cópia do relatório produzido pela SSP-AM, do qual disse nunca ter tido acesso.

Leia a nota do prefeito David Almeida:

Em relação à matéria publicada no site Metrópoles com o título “Relatório aponta que Comando Vermelho teria feito suposta aliança com prefeito de Manaus”, o prefeito de Manaus, David Almeida, informa que pedirá cópia do relatório divulgado, o qual nunca teve acesso e que foi vazado para um portal de notícias, para então se pronunciar.

“Estou indignado que um suposto relatório de 2020 só tenha sido vazado dois anos depois e, coincidentemente, a 9 dias do segundo turno das eleições para o Governo do Amazonas. Pedirei na Justiça a cópia desse relatório para que, então, possa me pronunciar. Desde já, repudio todas as afirmações que possam nos ligar a qualquer ato ilícito e buscarei a devida reparação cível e criminal contra qualquer exploração sem base em provas.”

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