metropoles.com

Na Esplanada, mulheres exigem um basta contra a violência

Manifestantes participaram de ato pelo fim das agressões e morte. Na Câmara Federal, cerca de 450 pessoas prestigiaram a sessão

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Myke Sena/Especial para o Metrópoles
Feminicidios-cruzes-2
1 de 1 Feminicidios-cruzes-2 - Foto: Myke Sena/Especial para o Metrópoles

No Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, a Esplanada dos Ministérios teve uma programação especial. Primeiro, amanheceu com 1.206 cruzes, em frente ao Congresso, para lembrar das vítimas de feminicídio no país em 2018. Os participantes do protesto também promoveram chuva de pétalas e apresentação musical para lembrar os números tristes que tomam conta do Brasil.

Em um dos momentos mais emotivos, o nome de algumas vítimas foi lido. Ao fim de cada chamada, os presentes ao local gritavam: “Presente!”. Os manifestantes também colocaram 31 cruzes em nome das mulheres mortas no Distrito Federal este ano — oficialmente, a Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF) considera 29.

Novembro é o mês de início da campanha mundial contra todas as formas de violência de gênero. Os atos e manifestações seguem até 10 de dezembro.

Na Esplanada, havia muitas histórias de mulheres que conseguiram fugir da morte. Como Adda Torres. A pedagoga de 37 anos morava com o marido, pai do filho dela. Durante oito anos, ela passou por sofrimento e violência. “Decidi separar, ele não aceitou. Eu arrumava minhas coisas para ir embora e ele pegava minhas roupas e fazia agressões verbais”, explica a vítima.

Adda lembra quando decidiu fugir de casa. “Levei duas facadas e ele quebrou meu maxilar. Fugi de Samambaia Norte para o Núcleo Rural de Ceilândia. Ele vivia atrás de mim, até que foi morto”, comenta.

Hoje, Adda é líder de uma instituição chamada Mulheres de atitude. Com a equipe, já atendeu 6.805 mulheres no período de 10 anos. “É um grito de liberdade. Saber que, hoje, eu sou livre e que não estaria aqui se não tivesse tomado essa atitude. Nós vivemos num país de feminicídios e precisamos ter essa voz”.

Veja galeria:

6 imagens
A manifestação também teve nome de vítimas lidas e canções
Este ano houve 14.935 casos de violência contra mulheres na capital
Protocolo ajudará no combate à violência contra a mulher
Protocolo ajudará no combate à violência contra a mulher
1 de 6

Foram colocadas 1.206 cruzes em homenagem às vítimas de feminicídio no país em 2018

Rafaela Felicciano/Metrópoles
2 de 6

A manifestação também teve nome de vítimas lidas e canções

Rafaela Felicciano/Metrópoles
3 de 6

Este ano houve 14.935 casos de violência contra mulheres na capital

Rafaela Felicciano/Metrópoles
4 de 6

Rafaela Felicciano/Metrópoles
5 de 6

Protocolo ajudará no combate à violência contra a mulher

Myke Sena/Especial para o Metrópoles
6 de 6

Protocolo ajudará no combate à violência contra a mulher

Myke Sena/Especial para o Metrópoles
Mais casos

Polyanna Vasconcellos, de 33 anos, sofreu agressões físicas e psicológicas durante seis anos. O marido, conta, chegou a correr atrás dela no meio da rua com uma faca. “Saí correndo de madrugada, lutando pela minha vida”, lembra.

No dia que Polyanna (foto em destaque) decidiu se afastar do relacionamento abusivo, estava cheia de hematomas. Teve vergonha de ir ao hospital e, por isso, seguiu para a casa da mãe. Ela ressalta que só cortou o ciclo abusivo por intervenção familiar.

“Eu fui abrir os olhos para a situação por meio dos alertas dos meus familiares e vizinhos, entendi que estava sendo vítima. A família é muito importante pra sair de um ciclo de abuso. Você não consegue sair, não consegue ver”, afirma.

“Existe muito isso de querer manter o casamento e tentar mudar a pessoa. E a gente se desrespeita. Primeiro, temos que pensar em nós como seres humanos e mulheres. Temos que nos respeitar e sermos respeitados em um relacionamento”, ensina.

“Não somos apenas nós, mulheres, que temos que procurar tratamento. São eles, os agressores”, aponta Polyanna, que tem três filhos: uma de 14, um de 7 e um de 3 anos. Ela ressalta que foi necessário pensar neles também, para que não reproduzissem o comportamento do pai.

A vítima destaca o que considera mais importante: a ajuda de pessoas próximas para ajudar a quebrar o ciclo. “Minha vizinha me salvou de um espancamento que poderia ter me matado. Meu ex-marido estava bêbado e eu tinha acabado de ter o último filho. Meus pontos arrebentaram. Até que minha vizinha invadiu a casa e interviu, me salvando”, lembra a vítima.

“Metam a colher, interrompam o ciclo. Precisamos de ajuda para enxergar um relacionamento abusivo e sair desse ciclo”, finaliza Polyanna.

Sessão

Uma sessão solene no plenário da Câmara dos Deputados foi presidida pela deputada federal Flávia Arruda (PL-DF). “O enfrentamento do feminicídio é pontual. A Lei Maria da Penha, por exemplo, é um grande avanço para as mulheres, que ganham voz. Mas ainda é necessário fechar as brechas que os feminicidas encontram”, comentou a parlamentar.

No plenário, cerca de 450 pessoas acompanharam o ato. Durante a sessão, o grupo Maria Vai Casoutras apresentou o Hino Nacional. Confira vídeo com parte da apresentação.

Aumento da violência

No DF, o número de feminicídios este ano já supera o de 2018.

Levantamento com base em dados da Polícia Civil do DF (PCDF) produzido pelo (M)Dados, o núcleo de análise de grande volume de informações do Metrópoles, indica que, até o dia 21 de novembro deste ano, foram registrados 29 feminicídios, 80 tentativas de feminicídio e 14.935 casos de violência contra mulheres na capital.

Os dados quanto aos dois primeiros crimes já superam os do ano passado, quando foram registrados 28 feminicídios, 66 tentativas de feminicídio e 14.985 casos de violências, segundo a SSP-DF.
Apesar do número de casos de violências gerais contra brasilienses ainda ser menor que o de 2018, a quantidade pode ultrapassar o total de registros do ano passado, se a média mensal de 2019 for mantida.

Outro dado mostra que 59% dos assassinatos foram efetuados por companheiros ou ex-companheiros (44% companheiros e 15% ex-companheiros). Pensando nisso, a Secretaria de Segurança Pública lançou, em maio deste ano, a campanha #MetaaColher. O projeto busca expor o papel de responsabilidade de cada cidadão como engrenagem importante na cruzada contra o feminicídio.

 

Neste 2019, o Metrópoles iniciou um projeto editorial para dar visibilidade às tragédias provocadas pela violência de gênero. As histórias de todas as vítimas de feminicídio do Distrito Federal serão contadas em perfis escritos por profissionais do sexo feminino (jornalistas, fotógrafas, artistas gráficas e cinegrafistas), com o propósito de aproximar as pessoas da trajetória de vida dessas mulheres.

O Elas por Elas propõe manter em pauta, durante todo o ano, o tema da violência contra a mulher para alertar a população e as autoridades sobre as graves consequências da cultura do machismo que persiste no país.

Desde 1° de janeiro, um contador está em destaque na capa do portal para monitorar e ressaltar os casos de Maria da Penha registrados no DF. Mas nossa maior energia será despendida para humanizar as estatísticas frias, que dão uma dimensão da gravidade do problema, porém não alcançam o poder da empatia, o único capaz de interromper a indiferença diante dos pedidos de socorro de tantas brasileiras.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comDistrito Federal

Você quer ficar por dentro das notícias do Distrito Federal e receber notificações em tempo real?