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Mulheres são maioria na coordenação de pesquisas sobre Covid-19 na UnB

Neste Dia da Mulher, o Metrópoles conversou com pesquisadoras responsáveis por importantes estudos na capital relacionados ao coronavírus

atualizado

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Gil Amaro da Silva/Material cedido ao Metrópoles
Pesquisadora analisando amostra em laboratório
1 de 1 Pesquisadora analisando amostra em laboratório - Foto: Gil Amaro da Silva/Material cedido ao Metrópoles

Na universidade pública federal da capital do país, mulheres coordenam 52% dos estudos sobre a Covid-19. Levantamento da Universidade de Brasília (UnB), obtido com exclusividade pela reportagem, mostra também que, na instituição, o âmbito de pesquisa em geral é conduzido por força feminina.

Neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher, o Metrópoles conversou com pesquisadoras atuantes no DF e que são responsáveis por importantes estudos que trazem avanços em relação ao novo coronavírus.

Atualmente, de um total de 607 grupos de pesquisa certificados da UnB, de várias áreas do conhecimento, 323 são liderados por mulheres, o que representa 53% do total. Elas também são maioria nos projetos de pesquisa, inovação e extensão de combate à Covid-19. De um total de 203 projetos aprovados (considerando as 1ª e 2ª chamadas públicas), 105 são coordenados por mulheres e 98 por homens. Esse número inclui projetos financiados e que ainda aguardam financiamento.

Desde o início da pandemia, pesquisadores brasilienses têm corrido contra o tempo na busca de avanços, seja especificamente no campo da saúde – com estudos sobre fármacos, vacinas e variantes do vírus – ou em áreas como comunicação e engenharia, por exemplo.

Máscara que inativa a Covid-19

Um dos estudos promissores na universidade é o desenvolvimento de uma máscara facial capaz de barrar e inativar o novo coronavírus. A ação do equipamento se deve à presença de um nanofilme de quitosana, na camada intermediária da máscara. A substância é derivada da casca do camarão.

Chamada de Vesta, a máscara é de fabricação 100% nacional e composta por três camadas de tecido que são capazes de reter até 95% de partículas sólidas, líquidas, oleosas e aerossóis. A mestra em biologia celular e molecular e pós-doutora em nanobiotecnologia Marcella Lemos Bretas Carneiro (veja galeria abaixo), 40 anos, é uma das coordenadoras do projeto, que começou a ser desenvolvido ainda em março de 2020.

“O nosso intuito era de fazer uma estrutura mais eficiente do que a que já tem no mercado”, diz. “Não existe uma máscara como essa no mundo. Inclusive, para fazer a patente, nós fizemos uma busca muito aprofundada. É algo inédito”, comemora.

Apesar da conquista que pode representar um grande avanço na contenção do vírus, a pesquisadora revela que o grupo esbarrou em algumas dificuldades financeiras para prosseguir com o estudo. “Nós conseguimos bolsas relâmpago, que duraram de dois a quatro meses. É um tempo muito curto para uma proposta dessas”, explica Marcella.

“O que tocou o projeto de verdade foi uma vaquinha eletrônica que fizemos ano passado e juntamos R$ 37 mil. Muitas vezes, cada pesquisador tirou do próprio bolso para que a pesquisa não parasse”, comenta.

Desde 1º de março deste ano, o produto está em fase de ensaio clínico com profissionais de saúde no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), referência no tratamento da Covid-19 na capital. Segundo Marcella, o estudo será feito com 60 participantes, que serão acompanhados durante 21 dias. “Cada profissional na linha de frente vai usar oito máscaras por oito plantões para fazermos a avaliação”, relata.

Ao final dos testes, o respirador deverá ser submetido à aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Já montamos um relatório inicial e, depois, quando tivermos os dados do ensaio clínico, vamos submeter o pedido de registro. Sendo aprovado, esperamos que ainda neste semestre possamos colocar no mercado”, torce Marcella.

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Ela é uma das coordenadoras do projeto
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Pesquisa ainda precisa de incentivo financeiro e busca doações
Brasil vive o pior momento da pandemia
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Pesquisa ainda precisa de incentivo financeiro e busca doações

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Detecção do vírus em redes de esgoto

Doutora em patologia molecular na área de virologia, Thaís Lamounier (foto em destaque), 41 anos, coordena um estudo na UnB que busca detectar o coronavírus em matrizes aquáticas. Ela já participava de um grupo de pesquisa que monitorava vírus e bactérias nas estações de tratamento de esgoto no DF quando a pandemia teve início. “E, como já tínhamos uma metodologia, resolvemos fazer um estudo para monitorar a Covid”, diz.

“Quando saiu o edital pela FAP [Fundação de Apoio à Pesquisa], inscrevemos o projeto e foi aprovado. Mas, pela questão burocrática, só começamos a coleta de amostras em novembro”, detalha a especialista.

Segundo explica Thaís, uma vez por mês, a equipe de pesquisa coleta duas amostras de água em 15 estações de tratamento de esgoto do DF. Com isso, são colhidas 30 amostras mensalmente.

“Essas amostras vão para um laboratório onde ocorrerá a filtração dessas águas, o que irá reter o RNA do vírus se ele estiver nessa água. Então, a gente faz a filtragem sem saber se há o vírus ou não. A partir dessa extração do RNA é que a gente faz a detecção, pelo RT-PCR”, explica a pesquisadora.

Até o momento, a pesquisa reuniu 120 amostras, mas os resultados ainda são esperados para daqui a duas semanas. “Vamos coletar até outubro, para ter um comparativo dessa circulação nas regiões administras do DF antes e depois da vacinação. Se pegarmos alguma amostra positiva, o intuito é também fazer o sequenciamento para identificar variantes do vírus”, destaca.

Para Thaís, poder coordenar uma pesquisa como essa é motivo de “extremo orgulho”. “A participação das mulheres na pesquisa vem ampliando a cada ano e eu acredito que está relacionado com a emancipação das mulheres no âmbito social. Eu acredito num futuro de respeito e equidade científica entre homens e mulheres, e caminhamos para ter isso”, enfatiza.

Veja a pesquisadora em ação: 

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Thaís Lamounier

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Investimento em pesquisa

O orçamento discricionário das instituições de ensino, utilizado para manutenção e investimentos, tem forte impacto na produção científica. Com esse aporte, a UnB repassa recursos para as unidades e investe em editais internos de fomento às atividades acadêmicas, na melhoria e adequação de infraestrutura e na aquisição de equipamentos de laboratório, por exemplo.

Apesar de avanços em projetos na instituição relacionadas ao coronavírus, a área de pesquisa em geral ainda lida com a falta de financiamento para o desenvolvimento de mais estudos.

Confira os dados do orçamento discricionário constantes na Lei Orçamentária Anual (LOA) para investimento e custeio (ODC), na Fonte do Tesouro, de 2015 a 2020 na UnB:

  • 2015 = R$ 197,5 milhões
  • 2016 = R$ 263,6 milhões
  • 2017 = R$ 161,2 milhões
  • 2018 = R$ 145,4 milhões
  • 2019 = R$ 151,5 milhões
  • 2020 = R$ 147,3 milhões

Segundo a UnB, para este ano, o valor previsto no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) é ainda menor: R$ 143,9 milhões.

Com o objetivo de facilitar o acesso ao que é produzido na universidade, o Comitê de Pesquisa, Inovação e Extensão de combate à Covid-19 criou um portfólio com os projetos relacionados à doença que foram aprovados, mas que ainda carecem de recursos financeiros. São 14 categorias de projetos, que vão desde a pesquisa epidemiológica, testes clínicos e aplicativos até iniciativas de educação, comunicação e ações junto a populações vulneráveis.

A UnB criou um canal para centralizar doações para pesquisas realizadas na universidade. Na página, é possível conhecer melhor os projetos pendentes de financiamento e fazer uma contribuição.

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