Mulher ouviu de médico após cirurgia malfeita: “Problema é com você”
Duas vítimas procuraram a 21ª Delegacia de Polícia nesta quinta-feira (12/09/2019) para denunciar Sílvio Rocha
atualizado
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Duas mulheres foram até a 21ª Delegacia de Polícia (Pistão Sul) na manhã desta quinta-feira (12/09/2019) para acusar o cirurgião Sílvio Parreira da Rocha. Elas preferiram não se identificar. Aos jornalistas, contaram que foram operadas pelo médico e os procedimentos não deram certo. “Fiquei mutilada”, diz uma das denunciantes, que passou por cirurgia há quatro anos. Ao todo, são oito possíveis casos.
A outra suposta vítima de erro médico foi operada em março de 2016. A autônoma relata que sentiu muito desconforto e logo viu que a cirurgia de redução mamária, recomendada para corrigir um problema na coluna, não havia dado certo. A cicatriz fechou e abriu várias vezes, segundo afirmou. A mulher conseguiu fazer a reparação um ano depois, com o próprio cirurgião. E o resultado teria sido ainda pior.
“Ficou um buraco nos meus seios, que me incomoda muito e gera coceiras. Sinto dores até hoje. Se você passar a mão na região, ainda consegue sentir os pontos. Ele disse para mim que o problema era na minha pele. Falou: ‘O problema é com você’. Fiquei sem reação na hora”, conta a mulher de 46 anos, moradora do Riacho fundo I.
Ela irá ao Instituto Médico Legal (IML) nesta quinta-feira (12/09/2019). E garante que vai correr atrás da reparação dos danos que alega ter sofrido. “Tudo isso abalou muito minha autoestima, tenho vergonha de sair. E não só isso, afetou minha saúde, o que foi justamente o motivo de eu fazer essa cirurgia”, lamenta.
Outra suposta vítima, uma mulher que trabalha como vigilante prestou depoimento na delegacia nesta quinta-feira (12/09/2019). Ela realizou uma mamoplastia e colocou prótese há cerca de quatro anos. Em janeiro de 2015, fez o procedimento com Sílvio Rocha – a cirurgia teria demorado quatro meses para fechar.
“A cada 21 dias, os pontos arrebentavam. Isso aconteceu umas três vezes, abrindo e fechando. Durante todo esse processo, eu ficava completamente dependente do meu marido: ele me dava banho, eu não podia dirigir, levantar os braços nem me mexer direito. Foi muito difícil, eu ficava com medo de morrer, me abalou muito”, conta a moradora da Ceilândia, de 41 anos.
A vigilante destaca ainda que o médico chegou a oferecer a reparação, mas a cirurgia seria feita pelo próprio Sílvio. Ela não aceitou. A mulher diz ainda ter ficado com medo de denunciar o cirurgião, pois, na ocasião, ele tinha dito que era militar aposentado. “Além disso, não tinha cabeça para ir atrás de advogado ou delegacia. Eu precisava me recuperar, porque tudo isso me trouxe um baque psicológico muito grande”, desabafa.
A vítima garante que a cirurgia afetou seu casamento. “Hoje, sou divorciada. Tenho certeza de que isso influenciou, porque até hoje tenho vergonha de me relacionar com alguém. O trauma fica na alma”, ressalta. Pontuou ainda que resolveu ir até a delegacia após ver que outras pacientes estavam indo denunciá-lo. “Quanto mais mulheres denunciarem, melhor. A união faz a força e esse homem tinha que estar preso”, frisa.
A vigilante recorda-se de que gastou cerca de R$ 5.663,00 na cirurgia, mais R$ 2 mil de prótese, R$ 1.350 de internação e anestesia. O valor desembolsado na operação, segundo ela, foi depositado direto na conta do médico.
Laudos
Investigadores da 21ª DP (Taguatinga Sul) que receberam denúncias de cinco mulheres contra o cirurgião Sílvio Parreira da Rocha informaram, nesta manhã, que aguardavam a finalização de laudos produzidos pelo IML para intimar o profissional. No entanto, os casos foram repassados para a Coordenação de Repressão aos Crimes contra o Consumidor, a Ordem Tributária e a Fraudes (Corf), no começo da tarde.
As supostas vítimas de erro em procedimentos passaram por perícia médica, que vai detalhar todas as lesões provocadas pelas intervenções. Após os resultados dos laudos, que devem sair na próxima semana, os delegados que cuidam do caso irão colher o depoimento do médico.
A advogada Thawanna Carvalho diz que a cirurgia de implante de silicone provocou sequelas em sua cliente. “A impressão que se tem é a de que não foi feito nada. A única diferença ao observarmos o antes e depois da cirurgia são os cortes grosseiros que ficaram por todo o corpo da paciente”, ressaltou.
Thawanna afirma que, desde a operação realizada, a mulher sofre com dores na região dos seios. “Eles não ficaram erguidos como se espera ao final de uma cirurgia do tipo, e as próteses de silicone colocadas cederam. Quando ela [a paciente] o procurou para fazer a reparação, o médico aceitou realizar nova intervenção, mas ela ficou deformada da mesma forma”, explicou.
Em perfil profissional publicado na internet, o médico se diz especialista na realização de cirurgias como lipoaspiração, lipoescultura, abdominoplastia, otoplastia, correção de cicatrizes, mamoplastia de redução e implante de silicone. Os procedimentos, no entanto, teriam, segundo relatos das supostas vítimas, provocado desde deformações nos mamilos e cicatrizes profundas até intensas dores nas regiões operadas.
Em nota, o médico afirmou já ter realizado mais de três mil operações e diz não reconhecer nenhuma das fotos que estão sendo divulgadas. Ele falou também que nunca provocou deformidade alguma em qualquer paciente. Sílvio ainda alega não ter recebido nenhum tipo de intimação ou notificação da Justiça.
O médico investigado disse ser vítima de “exposição injusta e infundada” e conta ter feito um boletim de ocorrência contra as mulheres que o denunciaram, no intuito de “trazer a verdade dos fatos à tona da maneira mais rápida possível”.
Confira, na íntegra, o posicionamento do médico:
“1° – Tenho 32 anos de atuação na área médica, tendo operado mais de trés mil pacientes. Sou devidamente registrado no CFM (Conselho Federal de Medicina), sob o RQE n° 2214, e também sou membro associado à SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plastica).
2° – Não reconheço a foto das mamas que vem sendo divulgada, apesar de claramente se tratar de uma imagem tirada nos primeiros dias de pós-operatório.
3° – Não tenho, em meu histórico, nenhum caso de ter provocado deformidade em pacientes. Todos os pacientes, antes da cirurgia, são orientados sobre as possíveis evoluções dos casos, que variam de acordo com o biótipo de cada um.
4° – Até o momento, não recebi nenhum tipo de intimação, notificação ou citação da Justiça. Mesmo assim, diante da exposição injusta e infundada, já procurei a Polícia Civil e registrei um Boletim de Ocorrência (no. 97412/2019) contra as possíveis denunciantes, com o objetivo de trazer a verdade dos fatos à tona da maneira mais rápida possível.”