MPF: parte de propina no BRB pagou dívidas de campanha de Rollemberg
Operação Circus Maximus apura suposto esquema de pagamentos ilícitos a diretores do Banco de Brasília em troca de investimentos em projetos
atualizado
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As investigações sobre negócios fraudulentos no Banco de Brasília (BRB) apontam um suposto beneficiamento da candidatura de Rodrigo Rollemberg (PSB), em 2014, ao Governo do Distrito Federal (GDF). De acordo com delação feita ao Ministério Público Federal (MPF) pelo empresário Ricardo Siqueira Rodrigues, o tesoureiro do socialista na disputa e ex-conselheiro do banco, Ricardo Luiz Peixoto Leal, teria recebido R$ 100 mil em dinheiro de propina para saldar dívidas de campanha do ex-governador.
As informações fazem parte do processo que resultou no pedido de 14 prisões preventivas e temporárias e mandados de busca e apreensão em 34 endereços no Distrito Federal, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Nesta terça-feira (29/1), a Polícia Federal deflagrou a operação Circus Maximus, que investiga o suposto esquema de corrupção comandado pela cúpula do BRB.
Os negócios supostamente escusos envolviam investimentos no extinto Trump Hotel, no Rio de Janeiro, atualmente conhecido como LSH Lifestyle; no edifício Praça Capital, no Setor de Indústrias e Abastecimento (SIA); e na reestruturação de dívida do jornal Correio Braziliense. Entre os investigados, além de Ricardo Leal, estão o presidente licenciado do BRB, Vasco Cunha Gonçalves (na foto em destaque, ao lado de Rollemberg), e os diretores Financeiro e de Relações com Investidores, Nilban de Melo Júnior, e de Serviços e Produtos, Marco Aurélio Monteiro de Castro.
De acordo com a delação de Ricardo Siqueira Rodrigues, o operador Henrique Domingues Neto, aliado de Ricardo Leal, procurou-o em fevereiro de 2015 para tratar de um aporte de R$ 3 milhões do BRB no instituto de Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) do município de Santos (SP). Segundo relatado ao MPF, o negociador teria dito que a operação seria possível mediante propina de R$ 250 mil em favor do conselheiro, “sendo R$ 100 mil em espécie para saldar dívidas da campanha para o Governo do DF”.
Confira trecho da investigação do MPF:
Rodrigues afirmou aos procuradores que o pagamento ilícito foi efetuado por ele em moeda corrente, em 25 de fevereiro daquele ano, no escritório particular de Ricardo Leal, com a presença de Henrique Neto. “O dinheiro foi transportado em voo comercial pelo colaborador”, detalha o Ministério Público.
O montante teria sido viabilizado mediante lavagem de dinheiro efetuada pela empresa Globomix Serviços de Concretagem LTDA. Para tanto, a fornecedora de cimento apresentou notas falsas com uma quantidade de material “completamente irreal” para obra do empreendimento LSH Hotels. O restante da propina, no valor de R$ 150 mil, teria sido repassado em encontro posterior promovido pelo grupo.
Outro lado
O ex-secretário de Comunicação do governo Rollemberg Paulo Fona disse que não houve dívida na campanha eleitoral de 2014. “Todos os serviços contratados foram devidamente quitados antes mesmo da apresentação das contas, as quais foram aprovadas pelo TRE-DF ainda no ano da eleição.”
Em nota, o partido do ex-governador alegou que, “na gestão socialista, no período 2015/2018, o BRB teve autonomia administrativa e financeira para agir, sempre com base em critérios éticos e de legalidade, sem qualquer interferência do governo nos negócios e aplicações do banco”.
Saiba mais
A Operação Circus Maximus apura um esquema criminoso instalado na cúpula do Banco de Brasília que movimentou, segundo investigadores, R$ 400 milhões da instituição financeira – que tem 96,85% das ações ordinárias controladas pelo GDF. Os procuradores estimam que atividades fraudulentas movimentaram mais de R$ 40 milhões em propinas.
Na decisão que embasou uma série de autorizações judiciais para cumprimento de prisões e diligências de busca de apreensão, o juiz federal da 10ª Vara do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), Vallisney de Souza Oliveira, descreve “um cenário de possíveis crimes de lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, corrupção e tráfico de influência supostamente praticados por empresários, funcionários públicos e agentes financeiros autônomos em dois empreendimentos e, potencialmente, um terceiro”.
Até as 19h30, a PF não tinha informado quantas prisões haviam sido efetuadas, mas a reportagem apurou que os detidos foram levados para o Bloco 5 do Centro de Detenção Provisória, no Complexo Penitenciário da Papuda.
Segundo o MPF, os suspeitos “organizaram uma indústria de propinas e favorecimentos para investimentos em detrimento do procedimento técnico e da boa gestão que se espera das instituições financeiras”.