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MPF identifica empresas usadas para lavar dinheiro do BRB

Segunda fase da Operação Circus Maximus identifica transações imobiliárias entre as empresas BKK, Nutriz e Sintonia

atualizado

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BRB4
1 de 1 BRB4 - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

A segunda fase da Operação Circus Maximus, deflagrada na quinta-feira (21/3), revela novos indícios de irregularidades em transações que envolvem um ex-diretor e um ex-conselheiro do Banco de Brasília (BRB). Desta vez, além do possível desfalque de R$ 348 milhões e do pagamento de propina no valor de R$ 40 milhões, é apurado o uso de empresas do DF para lavagem de dinheiro desviado da instituição financeira.

A ligação apurada pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Polícia Federal é nas empresas de Ricardo Leal e de Adonis Assumpção. Leal, apontado como líder da organização criminosa, foi arrecadador de campanha do ex-governador Rodrigo Rollemberg (PSB) e conselheiro do BRB. Adonis comandou a Diretoria de Operações e Negócios do BRB Seguros e foi indicado pelo próprio Leal para o cargo.

Após as primeiras buscas e apreensões da Circus Maximus, em 29 de janeiro, os investigadores avaliaram ser necessário recolher documentos, computadores, celulares, áudios e vídeos também nas empresas BKK Consultoria e Administração e BKK Assessoria Empresarial, ambas de Adonis Assumpção; Nutriz Comercial de Imóveis e Sintonia Distribuidora de Título e Valores Mobiliários, de Ricardo Leal.

As novas buscas e apreensões foram autorizadas pelo juiz Vallisney de Oliveira, da 10ª Vara de Justiça Federal de Brasília, responsável pelo caso. Nesta quinta-feira (21), foram cumpridos seis mandados, em Brasília e no Rio de Janeiro.

A suspeita do MPF é que a Nutriz esteja envolvida em negócios imobiliários com a BKK Consultoria em operações para lavar o dinheiro obtido pela organização criminosa denunciada pelo Ministério Público Federal.

“Justifica-se a extensão das investigações devido à existência de elementos indicando que as empresas do grupo BKK, Sintonia e Nutriz, pertencentes a Adonis Assumpção e Ricardo Leal, foram utilizadas para a prática de lavagem de dinheiro”, diz o juiz Vallisney de Oliveira, ao autorizar pedido de busca e apreensão feito pelo MPF.

Uma das transações identificadas pelo MPF entre as empresas e citadas no processo refere-se à aquisição de cinco imóveis da BKK por parte da Nutriz. Um deles foi o apartamento 412 do Edifício Uptown, em Águas Claras. Esse é o único negócio no qual é detalhado o endereço.

Veja nota:

Reprodução/MPF
“Lavador”

Durante as diligências de busca e apreensão, verificou-se que “o papel de Adonis Assumpção seria o de ‘lavador’ de recursos ilícitos recebidos pela organização criminosa e, em especial, em benefício do seu líder, Ricardo Leal”.

O MPF apurou que, mesmo exercendo cargo de diretor no BRB Seguros, Adonis permaneceu atuando em sua empresa BKK, a qual seria usada há décadas em transações imobiliárias entre os investigados.

Na mesa dele no BRB, foi encontrado o cartão de visitas como diretor da instituição e o cartão em nome da BKK – a sigla é uma referência aos filhos de Adonis Assumpção: Bruno Mol, Karina Mol e Kamila Mol. Segundo o MPF, em 2015, ao ingressar no BRB, Adonis pôs o irmão no comando da empresa, mas a medida foi apenas formal e ele teria continuado a comandar a companhia.

Veja os cartões de visita:

Reprodução/MPF

 

Outro fato que chamou atenção do MPF – informado por Adonis Assumpção em depoimento – foi um empréstimo de R$ 1,25 milhão obtido por ele junto à BKK. Embora a operação conste nas declarações de Imposto de Renda de 2016 a 2018, não há detalhes, como contrato, data, condições e outros.

Os altos rendimentos obtidos por Ricardo Leal a partir da empresa Nutriz também foram observados pelo MPF. Leal recebeu R$ 1.015.680 em 2015; R$ 788.160, em 2016; e R$ 373.920, em 2017, segundo informado à Receita Federal nas declarações de Imposto de Renda.

Adonis Assumpção e Ricardo Leal foram presos na primeira fase da Circus Maximus e soltos três dias depois, por força de habeas corpus. No fim de fevereiro, contudo, a 10ª Vara determinou que Leal voltasse à cadeia.

Procurada pela reportagem, a defesa de Leal não havia se pronunciado até a última atualização deste texto. Os advogado de Assumpção e representantes das empresas citadas não foram localizados para comentar as denúncias.

Dinheiro carimbado
No pedido para a nova fase da Circus Maximus, o Ministério Público Federal reforça outras suspeitas informadas na denúncia levada à Justiça Federal. O MPF volta a apontar Adonis como um laranja de Ricardo Leal.

Um dos exemplos usados pelos procuradores é que Adonis Assumpção escondia R$ 200 mil em dinheiro em sua residência, conforme noticiado pelo Metrópoles. O montante foi encontrado na data de sua prisão, 29 de janeiro, dia em que foi deflagrada a Circus Maximus.

Inicialmente, Adonis alegou que os valores seriam de uma negociação recente de cavalos e estavam em seu cofre porque tinha negociado os equinos havia pouco tempo. Na apreensão, no entanto, a quantia estava envolta em fitas do BRB destinadas ao uso interno da instituição.

Havia, inclusive datas carimbadas com a movimentação. As tarjas apreendidas indicam que as cédulas, que somavam bolos de R$ 10 mil e R$ 5 mil, foram empacotadas entre os dias 15 e 21 de dezembro de 2015.

Veja:

Reprodução

 

 

Réus
No último dia 3, o juiz Vallisney de Oliveira, da 10ª Vara de Justiça Federal de Brasília, tornou réus Ricardo Leal, Adonis Assumpção e outros 15 denunciados pelo MPF envolvidos nas supostas irregularidades. Eles vão responder por crimes contra o sistema financeiro, gestão fraudulenta, corrupção e lavagem de dinheiro.

A Circus Maximus foi deflagrada no final de janeiro com o objetivo de apurar irregularidades em fundos de investimentos praticadas no BRB, com a atuação de agentes públicos, empresários e agentes financeiros autônomos.

O magistrado afirmou que “está demonstrada, até agora, a plausibilidade das alegações em face da circunstanciada exposição dos fatos tidos por criminosos e as descrições das condutas em correspondência aos elementos que instruem a denúncia”.

Denúncia
De acordo com a denúncia, as práticas criminosas começaram em 2014, e a organização se manteve em atividade até mesmo durante a deflagração da operação.

“Nesse contexto, as apurações que resultaram na presente denúncia se concentraram nas dissimulações mediante o pagamento de propinas que justificaram os investimentos em, pelo menos, dois empreendimentos: o FIP LSH (relacionando ao antigo Trump Hotel, na Barra da Tijuca) e o FII SIA (relacionado ao empreendimento Praça Capital, desenvolvido pela Odebrecht Realizações e pela Brasal Incorporações)”, informa o MPF.

Novos nomes
A segunda fase da Circus Maximus trouxe à tona, ainda, outros dois nomes apontados como integrantes da suposta organização criminosa. Além dos 17 denunciados, foram identificados dois agentes com ação considerada “vital no esquema” pelo MPF, tanto no recebimento de valores como na lavagem de dinheiro: Luiz Fernando Cavalcanti Mourão Crespo, em Brasília, e Adib José Francisco Júnior, no Rio de Janeiro.

Cunhado de Henrique Domingues Neto, Crespo foi sócio-administrador da Biam Participações e Serviços entre 2012 e 2017 e sócio da BI Asset Management Ltda. entre 2017 e 2018. Conforme ressaltado na denúncia, valores indevidos entregues no endereço dessas empresas foram usados por Henrique Neto e Henrique Leite para o cometimento de crimes contra o sistema financeiro nacional e contra a administração pública.

Henrique Neto trabalha com o filho, Henrique Leite Domingues, na corretora BI Asset Management, na qual é sócio dirigente. Ele é apontado como o elo entre empresas, o BRB e seu conglomerado.

Já Crespo foi, segundo o MPF, uma das pessoas responsáveis por receber R$ 150 mil em valores ilícitos pagos pela Odebrecht no empreendimento Praça Capital.

Ainda de acordo com o MPF, Adib seria sócio oculto da GloboMix, uma das empresas investigadas no esquema que envolve as negociações com o Hotel LSH.

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