metropoles.com

MPC denunciou suposto esquema de corrupção na Saúde do DF em maio

Três meses antes da prisão de seis integrantes do alto escalão da Saúde do DF, o MPC já apontava supostas irregularidades nos contratos

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Michael Melo/Metrópoles
operação, secretaria de saúde
1 de 1 operação, secretaria de saúde - Foto: Michael Melo/Metrópoles

Três meses antes de o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) deflagrar a Operação Falso Negativo, que levou à prisão do então secretário de Saúde do DF, Francisco Araújo, e outros cinco integrantes da cúpula da pasta, o Ministério Público de Contas (MPC) já apontava supostas irregularidades na compra de testes de Covid-19 para a capital.

Em 7 de maio, a procuradora do MPC Cláudia Fernanda de Oliveira Pereira assinou representação pedindo a investigação das aquisições de testes e contratação de empresas, no valor de R$ 71,9 milhões à época.

No documento é solicitada a análise dos contratos e das notas de empenho efetuadas a seis empresas. Um dos destaques do pedido de investigação foi para a Luna Park Importação, Exportação e Comércio Atacadista de Brinquedos Temáticos. A nota de empenho com pedido de investigação refere-se a um contrato no valor de R$ 3,6 milhões para aquisição de testes rápidos.

“É possível notar, por exemplo, empresa do ramo atacadista de brinquedos temáticos, oferecendo o testes. Essa discussão é relevante, já tendo sido detectadas compras de produtos de saúde por empresas que não demonstraram aptidão”, argumenta a procuradora na representação encaminhada para análise do Tribunal de Contas do DF (TCDF).

Houve ainda questionamentos à Secretaria de Saúde sobre contratação de laboratório particular que aludiu à contratação pelo GDF.

Outras representações e apurações

Outros pedidos de investigação, além do feito pelo MPC, foram elaborados acerca das compras de testes de Covid-19. Um do deputado Leandro Grass (Rede), que foi juntado ao processo 897/20, e outro do Sindicato dos Laboratórios de Pesquisas e Análises Clínicas (Sindilab-DF) – ambos com o mesmo teor da solicitação formulada pelo MPC.

Em relação ao processo 657/2020, do MPC, o Plenário do TCDF, em 15 de julho de 2020, determinou o arquivamento dos autos, por ter considerado a perda do objeto. Em decisão de mérito posterior, no entanto, o TCDF autorizou a fiscalização do Contrato n.º 79/2020. Esse contrato foi pactuado entre a Secretaria de Saúde DF e a empresa Biomega Medicina Diagnóstica Ltda., no valor de R$ 19,9 milhões.

Ele prevê a “execução de serviços laboratoriais de análises clínicas, para a realização de 100 mil testes rápidos para o novo coronavírus IgG e IgM”. As fiscalizações estão em curso na Corte de Contas.

No âmbito desse processo, o tribunal fez o registro de representação do Ministério Público junto ao TCDF para subsidiar futuras fiscalizações. Como a representação também tratava de outros, a Corte de Contas entendeu que “em meio a uma pandemia, as supostas falhas indicadas no documento protocolado como ‘atendimentos lotados nos prontos-socorros’ e dificuldade de comunicação pelos telefones disponibilizados pela SES/DF, tratam de questões estruturantes, e não pontuais. Portanto, elas demandam exame mais amplo e aprofundado por meio de auditoria operacional feita em momento oportuno”, informou a Corte ao Metrópoles.

Já a representação formulada pelo deputado distrital Leandro Grass (Rede) sobre possíveis irregularidades relacionadas à falta de transparência dos gastos públicos em procedimentos de compras de testes para verificação da Covid-19, o TCDF determinou à Controladoria-Geral do Distrito Federal ( CGDF) e à Secretaria de Saúde (SES-DF) que apresentasse informações.

A SES encaminhou os dados, que foram analisados pelo corpo técnico do TCDF. O relator do caso, conselheiro Inácio Magalhães, então enviou o processo para manifestação do MPC no dia 13 de agosto, por meio do Despacho Singular 510/2020. Investigação também é feita no âmbito do pedido de medida cautelar, formulada pelo Sindilab-DF, apontando supostas irregularidades na aquisição de testes rápidos para detecção qualitativa específica de IgG e IgM.

“Em relação aos testes para detecção do novo coronavírus, o TCDF está fiscalizando atentamente as aquisições. Há cinco processos em tramitação no tribunal tratando da compra de testes rápidos para detecção qualitativa específica de IgG e IgM e antígeno do COVID- 19”, informou a Corte.

A operação

A investigação do MPDFT apura suposto superfaturamento em cima dos contratos citados anteriormente pelo MPC, que já somam cerca de R$ 73 milhões na compra de testes de Covid-19 pelo Governo do Distrito Federal (GDF).

O prejuízo estimado pelo MP aos cofres públicos é de R$ 18 milhões. O desembargador do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) Humberto Adjuto Ulhôa determinou o bloqueio do montante das contas dos investigados na Operação Falso Negativo.

Além de Araújo, que foi detido em casa, no Setor Noroeste, são alvo de prisão preventiva: Ricardo Tavares Mendes, ex-secretário adjunto de Assistência à Saúde; Eduardo Hage Carmo, subsecretário de Vigilância à Saúde; Eduardo Seara Machado Pojo do Rego, secretário adjunto de Gestão em Saúde; Jorge Antônio Chamon Júnior, diretor do Laboratório Central (Lacen); Iohan Andrade Struck, subsecretário de Administração Geral da Secretaria de Saúde do DF; e Ramon Santana Lopes Azevedo, assessor especial da Secretaria de Saúde.

Veja os investigados: 

6 imagens
Eduardo Hage Carmo, ex-subsecretário de Vigilância em Saúde da Secretaria de Saúde do DF
Ricardo Tavares Mendes foi um dos alvos da Operação Falso Negativo, deflagrada em 2020
Jorge Antônio Chamon Júnior, ex-diretor do Laboratório Central (Lacen)
Iohan Andrade Struck, ex-subsecretário de Administração Geral da Secretaria de Saúde do DF
Eduardo Seara Machado Pojo do Rego, ex-secretário adjunto de Gestão em Saúde
1 de 6

Francisco Araújo foi preso na Operação Falso Negativo

Rafaela Felicciano/Metrópoles
2 de 6

Eduardo Hage Carmo, ex-subsecretário de Vigilância em Saúde da Secretaria de Saúde do DF

Renato Alves/Agência Brasília
3 de 6

Ricardo Tavares Mendes foi um dos alvos da Operação Falso Negativo, deflagrada em 2020

Vinícius Santa Rosa/Metrópoles
4 de 6

Jorge Antônio Chamon Júnior, ex-diretor do Laboratório Central (Lacen)

Rafaela Felicciano/Metrópoles
5 de 6

Iohan Andrade Struck, ex-subsecretário de Administração Geral da Secretaria de Saúde do DF

Reprodução
6 de 6

Eduardo Seara Machado Pojo do Rego, ex-secretário adjunto de Gestão em Saúde

Roque de Sá/Agência Senado

Entre os alvos, Iohan Andrade Struck não foi encontrado pelos investigadores e, até a última atualização desta reportagem, era considerado foragido. A defesa de Iohan alega que ele está isolado por suspeita de coronavírus.

De acordo com o processo do MPDFT, “há fortes indícios” de que o ex-secretário de Saúde Francisco Araújo teria “escolhido previamente como vencedora a empresa de brinquedos.” A Luna Park Park Importação, Exportação e Comércio Atacadista de Brinquedos Temáticos  foi contratada pela pasta para fornecer 90 mil testes por R$ 16,2 milhões, segundo a investigação.

O processo diz que o contrato foi firmado com a empresa “embora [a Luna Park] tenha oferecido o maior valor por unidade de teste na dispensa de licitação, a sua documentação tenha sido oferecida fora do prazo e o parecer inicial relativo à sua proposta tenha sido pela rejeição”.

Outro lado

A Biomega informou, por meio de nota, que “não vendeu ao GDF kits de testes rápidos para detecção da Covid-19″. “A empresa é um laboratório de análises clínicas que participou de um processo licitatório para prestação de serviços de exames laboratoriais de anticorpos para a Covid-19. O serviço incluiu montagem de tendas, disponibilização de mobiliário apropriado e alocação de recursos humanos nas áreas administrativa, técnica e de analistas especializados na leitura dos testes, que assinam os laudos”, afirmou.

Segundo a Biomega, fez parte da prestação de serviço a locação de carros e a contratação de empresa especializada para a remoção do lixo hospitalar. “O contrato firmado previa a realização de exames em 100 mil pessoas, tendo havido aditamento para a inclusão de outras 50 mil pessoas examinadas”, disse.

A Luna Park ainda não se pronunciou. O espaço está aberto a eventuais manifestações.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comDistrito Federal

Você quer ficar por dentro das notícias do Distrito Federal e receber notificações em tempo real?