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Motoboy agredido por PM: “Se pedisse por favor, eu tinha tirado”

Davi José diz que o policial militar não se identificou como agente de segurança durante confusão em prédio de Taguatinga

atualizado

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1 de 1 motoboy-agredido - Foto: Reprodução

Solto na manhã desta quarta-feira (22/01/2020) após audiência de custódia, o motoboy Davi José Trindade Santos, 21 anos, falou pela primeira vez sobre a confusão ocorrida na noite do último domingo (19/01/2020), quando foi agredido por um policial militar na porta do condomínio Carpe Diem, em Taguatinga.

Davi José afirma que já passou  por problemas parecidos em outros prédios, mas nunca chegou a esse ponto: “Se tivessem pedido por favor, eu tinha tirado a moto”.

O jovem contou ao Metrópoles detalhes do episódio. Ele afirma que chegou ao condomínio Carpe Diem, em Taguatinga, para realizar uma entrega e não achou indicação alguma de onde estacionar a moto. “Não vi placa nenhuma. Foi aí que preferi parar na frente da porta e deixar o porteiro olhando”, diz o jovem, que, um dia após o caso, foi preso por circular em veículo com placa clonada.

Quando entrou no prédio e avisou que precisava fazer a entrega, o porteiro teria reclamado do local em que a moto estava, mas Davi afirmou que seria rápido e não iria atrapalhar por muito tempo. “A comida já estava paga. Era só eu subir, entregar e descer. Não  ia demorar”, diz.

Quando ele fez a entrega, no entanto, já havia outra pessoa com o porteiro que teria proferido xingamentos, mandando que o motoboy tirasse a moto daquele lugar. “Na filmagem que divulgaram dá para ver. Eu ia só pegar minha capa e sair, mas o cara falou para tirar a p*** da moto por bem ou por mal”, relata.

Depois de se sentir ofendido, o entregador passou a discutir com os porteiros e decidiu ver até onde eles chegariam para tirar o veículo da portaria. “Aí eu quis ver o que eles iam fazer. Me bater? Existe uma hierarquia, deviam ter chamado o síndico ou algum órgão responsável pelo trânsito”, reclama.

Em vez disso, Davi diz que os dois homens responsáveis por controlar a entrada no prédio chamaram um morador. “O homem não se identificou como PM, só chegou mandando tirar a moto. Como ele estava à paisana, sem identificação, para mim era um morador qualquer”, explica.

Inconformado com a forma que estava sendo tratado, Davi fez menção de que iria gravar, mas acabou sendo agredido. “Me senti um lixo. O morador tentou me enforcar, me deu um chute e só na hora que ele puxou a arma percebi que poderia ser um policial”, lembra.

Depois da confusão, o PM chamou uma viatura. O motoboy afirma que foi levado do jeito que estava para a delegacia, enquanto o policial teve a oportunidade de subir até o apartamento e guardar a arma. Na DP, o delegado perguntou se Davi queria mesmo seguir em frente com o assunto. Com a resposta afirmativa, o militar teria dito que “pensava que tinha acordo”.

Confira a gravação:

Apreensão da moto

Na segunda-feira (20/01/2020), Davi achava que a questão poderia estar resolvida, mas uma mensagem no WhatsApp dele chamou atenção. “Só estava escrito ‘tic-tac’, como se o tempo estivesse passando. Quando eu li e perguntei quem era, apagaram”, conta. Pouco tempo depois, vários PMs apareceram na porta da casa dele exigindo que ele entregasse a moto.

“Estavam falando que se eu não saísse iam invadir a casa e me levar à força. Como minha mãe estava nervosa, tirei a moto de casa e mostrei para eles” explica o entregador.

Segundo Davi, eles levaram a moto e ele até a delegacia e não o deixaram mais chegar perto do veículo. “Achei muito estranho. Depois vieram falar que o chassi estava raspado. Eu gastei R$ 4,5 mil nessa moto, não ia comprar algo sem chassi”, explica.

O motoboy, no entanto, confirma que não tomou todos os cuidados na hora de adquirir o veículo. “Comprei por um grupo de Facebook. Conferi placa, fui atrás de tudo, mas não encontrei nada que dissesse que era clonado. Na hora de comprar, o vendedor só me deu o DUT e disse que o documento estava com uma mulher em Goiânia.”

No documento estavam todas as informações da dona, mas ele acabou não se preocupando. Esse, admite Davi, pode ter sido o erro, e não há motivo para reclamar sobre o recolhimento da moto. “Se tiver que pagar, infelizmente, será assim”, resume.

Injustiça

O motoboy ainda comentou as passagens anteriores pela polícia – entre elas, por porte ilegal de arma de fogo, receptação e desacato – e disse que relacionar o acontecimento do fim de semana à vida pregressa dele não faz sentido. “Eu era muito jovem, na verdade ainda sou, mas o que eu estou recebendo por ter virado trabalhador é pior de quando passei por outros problemas”, comenta.

Ele diz que já passou várias vezes pela situação de estacionar em local proibido em outros prédios e a resolução do problema foi feita de uma outra maneira. “Quando o porteiro chega numa boa e fala, eu tiro. Sou motoboy, não tenho tempo de ficar discutindo com ninguém. Eu sei que estou errado, mas se tivessem pedido ‘por favor’ eu tinha tirado.”

Veja vídeos da agressão:

Audiência de custódia

Davi foi solto nesta quarta-feira após audiência de custódia. Para a juíza Lorena Alves OCampos, a prisão em flagrante não foi ilegal.

No entanto, ela decidiu pela liberdade provisória, por entender que “o encarceramento cautelar do autuado somente subsistirá em caso de extrema e comprovada necessidade, devidamente demonstrada por circunstâncias concretas da realidade, não se podendo impor a segregação com base em meras especulações ou em peculiar característica do crime ou do agente”.

Lorena OCampos entendeu ainda que a conduta em si do acusado “não causou significativo abalo da ordem pública nem evidenciou periculosidade exacerbada do seu autor, de modo a justificar sua segregação antes do momento constitucional próprio. Ainda, o indiciado possui apenas 21 anos, é primário, possui bons antecedentes, possui residência fixa no distrito da culpa e trabalho lícito”.

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