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Moradores se assustam com fumaça no DF: “Ardem a garganta e os olhos”

Fumaça proveniente do incêndio que atinge o Parque Nacional de Brasília encobre a capital do país desde domingo (15/9)

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Coluna de fumaça é vista do Noroeste. Incêndio destroi o Parque Nacional de Brasília desde domingo - Metrópoles
1 de 1 Coluna de fumaça é vista do Noroeste. Incêndio destroi o Parque Nacional de Brasília desde domingo - Metrópoles - Foto: Arquivo Pessoal

Pegos de surpresa pela fumaça e névoa seca que cobre o Distrito Federal nesta segunda-feira (16/9), moradores da capital relatam ter se assustado com o clima na capital federal. A cidade registrou níveis de qualidade do ar “péssimo” e “perigoso” para a saúde, após o incêndio de grandes proporções que destrói a vegetação e ameaça a fauna do Parque Nacional de Brasília.

Por volta da 1h30, a cientista política Luana Vasconcelos, 31 anos, acordou com a casa tomada por fumaça. A mulher e o marido, que moram na 316 Norte, optaram por colocar toalhas úmidas sobre o rosto para conseguir dormir o resto da noite. Em certo momento, o casal não aguentou e resolveu usar máscaras descartáveis.

“Um cheiro muito forte, que arde na garganta e nos olhos. Tive que dormir o restante da noite com máscara. Nem na época da pandemia de Covid-19 isso aconteceu. Estou bastante assustada. Acho que é isso que chamam de ansiedade climática”, relata.

Luana trabalha em home office e diz que está insuportável ficar em casa. Dona de três gatos, a cientista explica que os felinos estão agitados e tensos, incomodados com o ar seco.

O motorista Fabiano de Souza, 41, também se assustou com névoa seca que encobriu Brasília nesta segunda-feira. Morador de Santa Maria, ele trabalha de máscara pelo Plano Piloto, na tentativa de reduzir os danos do clima. Durante a noite, a solução é ligar o umidificador e o ventilador da casa.

“Rapaz, hoje estava difícil. Muita fumaça, cheiro forte… Hoje não passei mal, mas semana passada tive de ser atendido pelo médico do meu trabalho. Sou de Minas Gerais e moro no DF há quase 20 anos. Esta é a primeira vez que a situação está tão caótica. A gente bebe água, mas não passa a sede. E tem que trabalhar normal, né?”

Vendedora na Rodoviária do Plano Piloto, Luana Oliveira, 39, também optou pelo uso de máscara. Ela mora no Riacho Fundo e se deparou com a fumaça desde o caminho até a área central de Brasília. A comerciante explica que sempre vai para o fundo do ônibus em busca de uma janela que traga ar fresco durante o trajeto. Já pela noite, a situação está mais complicada: “Não dá para abrir as janelas por conta da fumaça, e não uso ventilador por conta da sinusite. Fica cansativo, muito calor, mas nós temos que trabalhar”.

Assim como ela, Paulina Caxias, 50, deslocou-se de ônibus à Rodoviária do Plano. De lá, ela pega outro ônibus para o Sudoeste, onde trabalha como empregada doméstica. A diarista mora no Riacho Fundo e, já no trajeto para o Plano Piloto, reparou a fumaça e tirou uma máscara descartável da bolsa. “Não dá para ficar sem. Já cheguei a ficar sem ar e com a garganta dolorida. Já parei no hospital, com dificuldade para respirar. É muito ruim trabalhar nessas condições, mas, na casa em que trabalho, é tranquilo”, explica a mulher.

Já a cuidadora de idosos Gilvania Brito, 42, não chega a passar mal, mas o senhor de 92 anos com quem ela trabalha sofre por ter problemas no pulmão. Moradora de Formosa, a mulher trabalha com o idoso no Sudoeste, durante os fins de semana. “A fumaça piora e já temos de levá-lo ao hospital. Eu mesma fico com os olhos secos e vermelhos, às vezes dá uma falta de ar.”

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Joana Socorro, 60, também não teve de ir ao hospital, mas relata que a irmã tem passado muito mal por ter hipertrofia adenoideana. As duas trabalham em um quiosque em frente ao Hospital Regional da Asa Norte (Hran). “Minha irmã é dona do comércio. Ela tem adenoide e as narinas ficam muito ressecadas, acabam sangrando. Já teve de ir ao hospital algumas vezes.” Joana mora no Novo Gama, mas vem para o trabalho no Plano de segunda a sexta-feira. “Quando fui chegando aqui na Asa Norte foi ficando pior. Tomei um susto e pensei: ‘Outra queimada?’. Já atendi a vários que vieram passando mal por conta desse clima”, conta.

Em casa, ela tem a própria técnica para melhorar a qualidade do ar. Joana explica que opta por ter muitas plantas, além de deixar bacias de água e toalhas molhadas pelo imóvel. “Do lado de fora de casa é outra coisa, a pele já fica ‘craquelando'”.

Ar péssimo e perigoso

Coberto por fumaça e névoa seca, o Distrito Federal registrou níveis de qualidade do ar “péssimo” e “perigoso” para a saúde, nesta segunda-feira (16/9).

Por volta das 9h desta segunda-feira (16/9), o site do Sistema Eletrônico de Vigilância Ambiental (Selva) apresentou nível de poluição classificado como “péssimo”. Posteriormente, o indicador variou para “bom”.

Além dessa, a plataforma AQICN.org alertou para um nível de poluição “perigoso” e “não saudável para grupos sensíveis”, com riscos de gerar efeitos mais graves à saúde. Por volta das 10h, os indicadores dos pontos de monitoramento no Distrito Federal variavam entre “moderado” e “bom”.

Mais cedo, o site de monitoramento em tempo real da empresa suíça IQAir apontava a qualidade do ar no DF como “moderada”, devido à concentração de micropartículas na atmosfera. A  exposição a elas pode causar, inclusive, consequências a curto e a longo prazo em caso de inalação.

A taxa de poluentes na atmosfera chegou a ser cinco vezes maior do que o valor de referência anual para a qualidade do ar definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Por volta das 10h, porém, o resultado permanecia como “moderado”, mas com menos concentração de partículas.

As principais recomendações nesse caso são: evitar atividades físicas ao ar livre – especialmente para grupos sensíveis, como idosos, crianças e pessoas com comorbidades; manter janelas e portas fechadas, para evitar a entrada do ar poluído; usar máscaras do tipo PFF2, PFF3 ou N95 em ambientes externos; manter-se hidratado; e usar umidificadores e/ou, se possível, purificadores de ar.

Crime ambiental

Em períodos de seca, a possibilidade mais concreta de incêndios atingirem vegetações é por meio da ação humana. O evento de grandes proporções que destrói a vegetação e ameaça a fauna do Parque Nacional de Brasília provocou uma densa coluna de fumaça, que se espalhou pelo Distrito Federal até a manhã desta segunda-feira (16/9).

Em decorrência da névoa seca que ainda encobre a capital do país, a Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEEDF) autorizou a suspensão das atividades nas instituições de ensino sob responsabilidade da pasta, e a Universidade de Brasília (UnB) adotou expediente remoto.

Veja imagens da manhã desta segunda-feira (16/9):

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Fumaça se espalhou, principalmente, entre domingo (15/9) e esta manhã
Fumaça de incêndios na capital federal provocou cenário
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O Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) foi acionado para combater o incêndio na unidade de conservação por volta das 11h20 desse domingo (15/9). No entanto, além das chamas que assolam a unidade de conservação, a corporação atuou em 196 ocorrências desse tipo nos dois últimos dias.

Entre sábado (14/9) e domingo (15/9), o total da área queimada na capital do país chegou a 2.202,38 hectares (ha) – ou 3 mil campos de futebol.

Em cerca de oito horas, o parque nacional perdeu cerca de 1,2 mil ha para o fogo, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) – área equivalente a, aproximadamente, 1,6 mil campos de futebol.

Veja imagens desse domingo (15/9):

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Moradores da Granja do torto tentam apagar as chamas com baldes de água

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Coordenador de manejo integrado do fogo do ICMBio, João Morita afirmou que o incêndio foi possivelmente causado por ação criminosa e que começou próximo à Granja do Torto, na área da Companhia Ambiental de Saneamento do Distrito Federal (Caesb).

“Ainda há focos de incêndio nesta manhã, mas os brigadistas trabalham para evitar a reignição das chamas. E o fogo atingiu, também, a mata de galeria do Córrego do Bananal”, afirmou João.

O Metrópoles percorreu algumas vias de Brasília nesta manhã. Além das queimadas registradas, o tempo seco contribuiu para a concentração da névoa, poeira e fuligem sobre o Distrito Federal. A situação dificulta a respiração da população, principalmente na região próxima ao parque nacional.

Além disso, em bairros como a Asa Norte, a visibilidade nas pistas era tão baixa que motoristas tiveram dificuldade para transitar nas primeiras horas desta segunda-feira (16/9).

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