Moradores do Noroeste reclamam de falta de estrutura na região
As reclamações vão desde a falta de segurança à ausência de internet. Os debates também incluem a qualidade das ruas e as promessas do plano original (rede elétrica subterrânea, painéis de energia solar, paisagismo, coleta de lixo a vácuo, ciclovia e o parque Burle Marx), quase esquecidas pelas autoridades
atualizado
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Muita promessa e pouca estrutura. Seis anos depois de ser lançado como um bairro do futuro, o setor Noroeste está se tornando um símbolo do atraso. Lá falta de tudo um pouco: segurança, transporte público, infraestrutura adequada, iluminação, internet. Quem pagou caro pelo metro quadrado na região acreditava nas soluções ecológicas vendidas no projeto, como rede elétrica subterrânea, painéis de energia solar, paisagismo, coleta de lixo a vácuo, ciclovia.
A realidade distante do sonho frustra os moradores. Em dia de chuva, o caos se instala. Como o sistema de escoamento de água é inadequado, a lama se acumula por todos os lados. “Quando chove aqui é um caos. Tem água para todo o lado”, afirma Deusélis André Filho, 37 anos, síndico de um prédio na região.
Apesar das queixas, a Polícia Civil diz que não registra muitas ocorrências na região. O delegado-chefe da 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte), Laércio Rossetto, explica que a maioria das ocorrências é de furto em obras. Para ele, o que mais afeta a segurança da região é a quantidade de invasões próximas ao local. “Já solicitamos a retirada aos órgãos competentes”, garante.
É um bairro novo, que ainda precisa de muita infraestrutura. Uma coisa puxa a outra. Nesse período, a gente percebe muitos oportunistas, porque há poucos moradores e os apartamentos ficam vulneráveis. Mas, se compararmos com outras regiões, os números não são expressivos
Laércio Rossetto
Na última semana, o caso dos homens que tentaram entrar em um prédio da região ficou famoso. Eles pretendiam arrombar a porta de entrada enquanto uma mulher distraía o porteiro do bloco, mas não obtiveram sucesso.
Internet
Reclamação comum também é com a internet. “Demorei seis meses para conseguir instalar o serviço no meu prédio”, reclama Filho. E o problema não se restringe ao bloco dele. O administrador de empresas Onofre Valadão, de 69 anos, se espantou com as dificuldades que teve para contratar um plano de dados. “Os prédios são modernos, com conceitos ecológicos de aproveitamento de água e de luz, mas, para a surpresa de todo mundo, não tem internet”, lamenta. “Estou tentando há dois meses e não consigo nenhum”, afirma.
“Como, no metro quadrado mais caro da cidade, no coração de Brasília, falta internet?”, questiona o empresário Thiago Miranda, de 30 anos. “As empresas só oferecem o serviço a blocos cheios, que têm os apartamentos todos ocupados. Para os mais vazios, dizem que ainda não há cobertura para a área”, lamenta.
Procurada, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) informou que o serviço de internet é de banda larga fixa e, portanto, particular. As empresas têm liberdade para escolher as áreas em que atuam.
Os moradores do setor também sofrem com a pouca quantidade de ônibus que circulam por lá. Apenas a linha 116.2, que sai da Rodoviária do Plano Piloto e passa pela W3 e pela L2 Norte, atende à região. O Noroeste é parte do trajeto, mas apenas de segunda a sexta-feira. Segundo o Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans), técnicos estudam, junto com a empresa que opera na região, ampliar o atendimento aos usuários do setor.
Projeto original
Nos planos iniciais, as promessas – rede elétrica subterrânea, painéis de energia solar, paisagismo, coleta de lixo a vácuo, ciclovia e o parque Burle Marx em plenas condições de uso – elevaram os preços dos imóveis a valores exorbitantes. O metro quadrado na região já chegou a custar R$ 14 mil.
As polêmicas de agora, que envolvem descaso e atraso, não são as únicas da história da região. O Noroeste nasceu controverso. À época de comercialização dos lotes da região, ainda em 2008, indígenas reclamaram direitos sobre o local. Alegavam que a área seria um santuário e teria valor sagrado para eles. Resta saber quanto tempo levará para que o solo sagrado dos primeiros habitantes do setor se transformem no refúgio que os novos donos sonharam quando investiram por lá.