Sem chuvas há 113 dias, seis regiões do DF sofrem com falta d’água
Período seco, panes no sistema e rompimento de adutoras estão entre os problemas detectados pela Caesb e Adasa
atualizado
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Apesar da estiagem no Distrito Federal já durar 113 dias, moradores de pelo menos seis cidades têm enfrentado cortes constantes de água. Segundo a Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico (Adasa) Sobradinho, Planaltina, Gama, Guará, São Sebastião e Sobradinho 2 enfrentam instabilidade no fornecimento do insumo.
No caso das duas primeiras, o desabastecimento é decorrente do período crítico da seca, que teria reduzido o nível dos rios que abastecem a região. Segundo a Adasa, o problema é “localizado e tem recebido atenção contínua”.
“A bacia do Pipiripau, que abastece o sistema Sobradinho-Planaltina, está sendo monitorada diariamente e um grupo de acompanhamento integrado por representantes da Adasa, Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb), Secretaria da Agricultura, Emater e produtores da região tem definido ações para garantir o equilíbrio no abastecimento entre irrigantes e moradores nesse período crítico de seca, por meio de alocação negociada”, informou a Adasa, em nota.
Ainda conforme a Adasa, outras localidades como Gama, Guará, São Sebastião e Sobradinho 2 sofreram com interrupções no fornecimento por razões diversas, como rompimento de adutora, falta de energia e manutenção em redes.
Transtornos no comércio
Apesar de não constar na lista da Adasa, os moradores e comerciantes do Lago Sul também se queixam. Juciene Nunes, 49 anos, é dona de um salão no comércio da QI 29. Ela conta que os cortes são comuns e prejudicam o negócio. Para não deixar clientes na mão, ela passa parte do dia enchendo baldes no hidrante, uma vez que o imóvel não tem caixa d’água.
“Tem dois meses que está assim. Falta, pelo menos, duas vezes na semana. Imagine ter de ficar esses dias sem trabalhar”, explica. Para piorar, o desabastecimento costuma ocorrer em dias de grande movimento, como às sextas e sábados. Segundo a Caesb, os transtornos têm sido causados porque a rede está em manutenção.
Já acostumada aos cortes sem aviso prévio, Rosa Almeida, 40, sempre tenta manter reserva de água. “Me antecipo e limpo o salão, porque deve faltar água. Já aproveito e encho baldes também”. A proprietária de um salão no mesmo prédio conta ter perdido sete clientes em um mesmo dia por da supressão. “Sábado passado ficamos o dia inteiro sem água”, diz.
A Caesb ressalta que as regiões afetadas no Lago Sul são abastecidas pela transferência do Sistema Torto-Santa Maria, pelo Córrego Cabeça de Veado e por poços profundos. “Alguns desses poços sofreram paradas bruscas de funcionamento, seja por interrupção no fornecimento elétrico, seja por panes elétricas ou mecânicas, obrigando o acionamento imediato de equipes de manutenção para a correção dos problemas”, afirma o órgão em nota.
Ainda de acordo com a Caesb, o alto consumo na região levou a pausas emergenciais de abastecimento. Outras regiões que sofrem problemas semelhantes, segundo a companhia são: São Sebastião, Jardim Botânico e Setor de Mansões Dom Bosco. A companhia ainda destacou que, após ajustes, a transferência de água para o sistema aumentou, medida que deve normalizar o abastecimento da região.
Mudança de hábito
O mesmo acontece no Condomínio Vilages Alvorada, próximo à Ermida Dom Bosco. Francisca Caravellas, 66, depende da água não só para o uso pessoal, mas também para trabalhar. Conservadora de bens materiais, ela se prepara um dia antes após quase um mês de cortes constantes.
“Estamos lavando papel para restauração. Precisei guardar água porque se faltasse, eu não ia conseguir trabalhar”, conta. Ela explica ainda que alguns hábitos mudaram em casa: “Tomamos banho rápido, lavamos a louça rápido, e não posso molhar o jardim, que é uma das coisas que eu mais gosto de fazer.”
A conservadora afirma que se não tivesse trocado a caixa d’água para uma maior, os problemas seriam maiores.
Nesta terça-feira (24/09/2019), o Metrópoles ligou para o 115 da Caesb e constatou outras áreas desabastecidas nas regiões administrativas:
- Ceilândia (QNO 16 e 17; QNP 17; Setor Habitacional Pôr do Sol);
- Gama (Setor Leste quadras 17, 18, 19, 20, 21 e 23);
- Guará (QI 14);
- Paranoá (Setor Habitacional do Taquari)
- Santa Maria (Condomínios);
- Sobradinho I e II (Condomínios);
- Vicente Pires e Colônia Agrícola Samambaia (Chácaras 94 a 96, 155 e 156);
- Lago Sul (SHIS QL 24).
Sem risco de desabastecimento
O diretor-presidente da Adasa, Paulo Salles, descarta qualquer possibilidade de racionamento nas regiões do DF que são abastecidas pelos reservatórios do Descoberto, Santa Maria e pelo Lago Paranoá. Segundo ele, os casos são pontuais e estão relacionados à problemas que a Caesb vem enfrentando, como falta de energia e quebra de adutora.
Salles aponta apenas que os pontos mais preocupantes são os abastecidos por poços e córregos, que, pela longa estiagem, estão mais vulneráveis. Esses locais ainda dividem o abastecimento com agricultores, como é o caso de Sobradinho e Planaltina.
De acordo com a Adasa, os reservatórios do Descoberto e de Santa Maria, que abastecem 85% do DF estão em níveis satisfatórios. O do Descoberto está com a capacidade de 77%. Já o de Santa Maria tem previsão de fechar o mês com níveis acima de 90%.