Moradores denunciam infestação de ratos em abrigo do DF: “Até no refeitório”
CLDF pediu apuração à Secretaria de Desenvolvimento. Pasta diz que o local já foi dedetizado, mas residentes afirmam que problemas continuam
atualizado
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Moradores da Unidade de Acolhimento para Adultos e Famílias (Unaf) localizada no Areal relatam conviver, há cerca de dois meses, com uma infestação de ratos e percevejos no local. As denúncias chegaram à Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, Cidadania, Ética e Decoro Parlamentar da Câmara Legislativa do DF (CLDF), que encaminhou ofício à Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) pedindo investigação.
No documento, ao qual o Metrópoles teve acesso, o presidente da comissão, deputado Fábio Felix, escreveu que “tal insalubridade afetou as camas onde os acolhidos dormem, colocando em risco a saúde dos profissionais e usuários da política de assistência social”. Além disso, o distrital informou que a comissão também recebeu relatos de falta de água na unidade.
“Solicitamos que a denúncia em tela seja apurada e, caso confirmada, que providências sejam tomadas, urgentemente, de forma a impedir a ocorrência de situações como as que foram relatadas nas dependências da Unidade de Acolhimento para Adultos e Famílias localizada no Areal”, salientou Fábio Felix no documento.
O ofício elaborado pela comissão da CLDF foi enviado à Sedes em 16 de outubro. No dia 27 de novembro, semana passada, a secretaria enviou as respostas em relação às denúncias.
Falta de água
Sobre a falta de água, a Sedes respondeu que “o problema foi resolvido recentemente com os repetidos chamados abertos na Caesb para verificação do hidrômetro, quando foi constatado pelos próprios técnicos a existência de dois redutores de vazão instalados na entrada e saída do hidrômetro”.
“Com a retirada dos redutores, a vazão e pressão aumentaram substancialmente no enchimento da caixa d’água subterrânea, que, com o perfeito funcionamento das bombas, consegue manter a caixa d’água superior em níveis satisfatórios.”
Para mudar a situação, a Sedes ainda disse que tomou as seguintes medidas:
- Solicitou à Caesb a troca do hidrômetro, que tem entrada e saída com bitolas menores que a tubulação de abastecimento, causando redução de pressão;
- Solicitou à Caesb a instalação de hidrômetro individualizado na unidade vizinha CRAS Areal, para que a unidade tenha abastecimento próprio e não utilize mais a água proveniente da caixa d’água da Unaf Areal;
- A Gerência de Manutenção e Reparos está atualmente realizando a obra de instalação de tubulações e caixa d’água própria na unidade CRAS Areal;
- Nas reformas previstas na Unaf Areal para o próximo exercício, já estão previstas melhorias no sistema de abastecimento de água, como instalação de caixas d’água individuais nos novos banheiros e troca das torneiras, válvulas e chuveiros do tipo comum – que semanalmente são danificados, causando vazamentos – para do tipo “antivandalismo” e com temporizador de abertura.
Dedetização
Em relação à questão das infestações, a Sedes disse que elaborou o Contrato de Prestação de Serviços nº 040063/2019, com a empresa Original Reformas em Geral e Dedetizadora em 22 de janeiro deste ano, com validade de 12 meses.
O contrato previa quatro aplicações em cada unidade da pasta. No entanto, em alguns abrigos, os serviços foram paralisados ainda no início do ano, quando funcionários entraram em regime de teletrabalho devido à pandemia do novo coronavírus.
“Ao retomar os trabalhos, a empresa questionou o contrato e foi consenso finalizar as unidades que ainda não haviam sido dedetizadas, a fim de completar a área devida – sem as três outras aplicações”, assinalou a secretaria.
De acordo com a pasta, a Unaf do Areal foi dedetizada em 24 de junho deste ano, numa área total de 3.583,36 m². Com a volta dos problemas de infestação devido ao início das chuvas, a unidade solicitou novo serviço de dedetização, feito em 22 de outubro.
“Ao tomar conhecimento da finalização do Contrato de Prestação de Serviços nº 040063/2019 e a dedetização de toda a área prevista em contrato, elaborado novo Termo de Referência, com objeto mais abrangente (dedetização, desratização, desinsetização, descupinização e desinfectação), prevendo quatro aplicações ao longo de um ano, nas área internas e externas das unidades da Sedes, perfazendo área total de 77.632,15 m². O processo foi instruído e atualmente tramita para cotação de preços”, detalhou a pasta.
“Rato até no refeitório”
Apesar de ter sido realizada dedetização em outubro, moradores relatam que ratos e percevejos ainda os atormentam. Segundo um dos acolhidos, Itamar Nunes, 49 anos, “apenas o problema da falta de água foi solucionado” atualmente. “Tem rato até no refeitório”, diz.
“Uma vez eu fui jantar e, quando cheguei no refeitório, levei um susto enorme. Olhei para o chão e estava o bicho [rato] lá embaixo da mesa”, relata.
Natural de Manaus, Nunes mudou-se para o DF há oito anos para fazer tratamento de saúde, após ter sido diagnosticado com um tumor no cérebro. Sem conseguir achar emprego para se sustentar na capital, ele já precisou morar na rua e conta que agora vive no abrigo por necessidade. Contudo, ele considera que “há grande descaso” com os acolhidos na unidade.
“A dedetização não foi suficiente, pois a infestação de ratos continua acontecendo. A única coisa em que houve mudança foi na água. Nós ficamos um mês sem água para beber, para tomar banho. Uma coisa muito triste”, comenta. “Existem aqui pessoas idosas, que estão doentes, e precisariam ter maior dignidade”, enfatiza.
O que diz a Sedes
Procurada, a Sedes informou ao Metrópoles que “a unidade acolhe pessoas em situação de rua, que muitas vezes ficam dias sem qualquer tipo de higiene pessoal, o que pode deixá-los expostos a infestação de parasitas; bem como seus pertences pessoais”.
“A Sedes ressalta ainda que a equipe da Gerência de Manutenção e Reparos tem atuado a fim de manter o local limpo, roçado, livre de poças, buracos, entulhos e outros agentes causadores e facilitadores de infestações”, disse, em nota.