Moradores denunciam desmatamento em área para expandir casa de eventos
Segundos os vizinhos do Recanto dos Buritis, os problemas teriam começado em 2002, com o desvio de água de uma manancial para a propriedade
atualizado
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Moradores da QI 25 do Setor de Mansões Dom Bosco, no Lago Sul, e membros da Associação dos Moradores Lindeiros e Amigos do Canjerana (AMLAC) denunciam o proprietário do espaço de eventos Recanto dos Buritis por desmatar a vegetação de área pública da região e por supostamente desviar a água de um manancial que flui para o córrego Canjerana.
De acordo com os vizinhos, os problemas começaram em 2002 e agravaram-se ao longo dos anos. Na época, o empresário e os habitantes de outras chácaras do endereço contrataram funcionários para fazer o desvio de uma nascente para que a água fosse direcionada ao terreno deles. A construção de duas caixas d’água, segundo os denunciantes, teria ocasionado no rebaixamento do lençol freático.
“Desde então, temos solicitado providências do Setor Ambiental para resgatar o lençol freático, mas nada acontece”, lamentou uma vizinha, que prefere não se identificar.
Outro problema identificado pelos membros da AMLAC diz respeito ao desmatamento da vegetação em uma área pública adjacente ao terreno que pertence ao Recanto dos Buritis. Conforme relataram os vizinhos, o proprietário teria começado pelo campo de futebol, depois cercou a área pública e, finalmente, colocou um portão.
Recentemente, além de expandir a área do lote para o campo de futebol, o empresário teria derrubado árvores de eucalipto em uma área aproximada de 10 mil metros quadrados e cercado o espaço. O cercamento, em conjunto com desflorestamento, eliminou um caminho carroçável que existia no território.
“Caminho carroçável é aquele que se deu através de uso e que deixou sua marca ou trilha, podendo ter sido produzida inclusive por animais. Pode, também, não ter tido planejamento urbanístico, pois, como dito, ocorre pelo hábito de passagem”, explica o perito em questão ambiental, Rodolfo Antônio da Silva.
O espaço desmatado era utilizado para circulação dos animais que vivem na região. Alguns moradores notaram que os pássaros estão sem local de pouso e os saguis encontram-se desnorteados. Esses habitantes questionam se, de fato, houve autorização dos órgãos competentes para o desmatamento.
Imagens obtidas por meio do Google Earth mostram o desmatamento da área ao longo dos últimos dois anos. Veja:
O que diz o Recanto dos Buritis
Procurado pela reportagem do Metrópoles, o proprietário do Recanto dos Buritis, Leonardo Avalone, negou as acusações de desmatamento feitas pelos outros moradores e esclareceu que a área verde em questão é adjacente ao seu terreno.
“Eu não derrubei nenhuma árvore. Pelo contrário, nós tiramos somente mato e replantamos outras espécies, que estão catalogadas no local, e estamos cuidando da área. Além disso, não fiz o cercamento do terreno. Esses alambrados são das chácaras vizinhas. A minha é a única que não tem cerca”, esclareceu.
Segundo Avalone, as denúncias partem de uma briga particular. Ele alega que órgãos públicos competentes já foram à propriedade e o DF Legal não constatou nenhuma irregularidade referente a desmatamento e obras em execução no local.
Refúgio de Vida Silvestre Canjerana
A propriedade Recanto dos Buritis fica próximo a um dos setores do Refúgio de Vida Silvestre Canjerana, mas não faz limite com a área de preservação. Criado como parque ecológico em 1996, com o intuito de proteger o córrego Canjerana, o espaço foi batizado em homenagem à árvore de mesmo nome encontrada no local.
A unidade de conservação é separada por vias criadas na urbanização do Lago Sul, o que acarretou na divisão da área de 49,2394 hectares, equivalente a mais de 80 campos de futebol, em seis setores.
Em 2019, o Canjerana foi recategorizado como Refúgio de Vida Silvestre, tendo em vista que sua área de preservação permanente do córrego é bem preservada, com matas de galeria, veredas e espécies arbóreas nativas, como o buriti e copaíbas, tombadas como patrimônio natural.
O que diz o Ibram
O Instituto Brasília Ambiental (Ibram), responsável pela administração do Refúgio de Vida Silvestre Canjerana, limitou-se a informar, por meio de nota, que não recebeu denúncia sobre o caso de desmatamento na área pública e de captação da água proveniente da manancial.
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