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Moradores da Asa Sul querem saída de sem-teto de quadra: “Atrapalham”

Um comunicado da SQS 312 convoca os moradores para debater, nesta quinta-feira, a presença de pessoas em vulnerabilidade social na região

atualizado

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Moradores da SQS 312 convocaram uma reunião para esta quinta-feira (17/2) com objetivo de debater um “plano de ação eficaz” de retirada das pessoas em situação de rua que vivem na quadra da Asa Sul. Um comunicado, deixado na entrada de um dos edifícios, chama os condôminos para discutirem a questão, no encontro marcado para esta noite. A pauta criou polêmica nas redes sociais e incomodou defensores de causas humanitárias.

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“Pauta única: retirada da invasão dos moradores de rua. Seguiremos os moldes de uma reunião condominial. O objetivo é iniciar um plano de ação eficaz. Sua presença, respeito, cordialidade e absoluto foco na pauta são de suma importância na solução da questão”, diz o comunicado.

Veja o comunicado:

Cartaz convoca moradores para reunião sobre retirada de pessoas em situação de rua de quadra na Asa Sul

De acordo com a síndica da quadra, Paula Soares, a presença de pessoas em situação de rua vêm causando incômodo aos moradores do local. Segundo ela, o comunicado para a reunião é iniciativa de um condômino. “Ele convocou todos os residentes para que encontremos uma solução para melhorar a situação dessas pessoas que estão na rua e também dos moradores que se incomodam”, explica.

Segundo Paula, o objetivo é fazer um grande trabalho comunitário. “Queremos que as doações sejam direcionadas para um local mais apropriado. Eles recebem muitas doações e acreditamos que há maneiras de fazer políticas públicas mais eficazes para essas pessoas”, pontua.

Para Rogério Barba, presidente do Instituto Barba Na Rua, ONG de defesa e bem-estar a pessoas em situação de rua, a atitude dos moradores da quadra é lamentável. “Eles querem expulsar essas pessoas do local, mas precisamos entender que a pandemia está aí e jogou essas pessoas na rua. Ninguém está nessa situação porque quer. A rua não é a casa de ninguém, e esse espaço é público. Essas pessoas vão para onde? Vão levar essas pessoas para a casa de vocês?”, questionou Rogério, que esteve em situação de rua por 25 anos no DF.

Repercussão

A pauta da reunião chamou a atenção de internautas, e o comunicado circulou nas redes sociais de líderes comunitários. A questão divide opiniões. “Será que as pessoas em situação de rua foram convidadas? Se a pauta é a retirada delas, nada mais justo do que ouvir a opinião dessas pessoas, né?”, comentou um internauta. “A propriedade privada não é respeitada. Não é uma questão de expulsar, mas de que se ache uma solução que não seja a invasão do espaço publico”, rebate outra.

O Metrópoles conversou com moradores da SQS 312 e comerciantes da vizinhança. Eles pediram para não ter os nomes revelados. Segundo os relatos, a população em situação de vulnerabilidade social se concentra perto da igreja e de um supermercado na região.

“Temos um problema. Isso gera insegurança. Já houve incidentes. O governo até faz abordagens, mas eles voltam. Eu mesmo perguntei para eles uma vez por que não aceitam o abrigamento. Disseram que ficava longe e não podiam fazer nada por lá”, contou um morador.

Outra moradora da quadra deixou de ir para a igreja a pé. Passou a ir de carro em busca de segurança. “É um incômodo. Eles atrapalham. Ficam pedindo dinheiro. Nunca agrediram fisicamente, mas agrediram com palavras. Essa situação está começando a passar do limite”, reclamou.

De acordo com ela, a população em situação de vulnerabilidade social costuma fazer barulho e conversa madrugada adentro, além de consumir bebida alcoólica, gerando desconforto.

Alguns comerciantes sofreram e testemunharam episódios de violência nos últimos dois meses. Em um dos casos, um homem em situação de vulnerabilidade social puxou um facão e ameaçou o empresário que pediu para que ele saísse da frente do estabelecimento. No outro, duas famílias carentes brigaram por um ponto. E, mesmo com crianças, os adultos puxaram facas. Ambas as situações foram denunciadas à polícia.

“Com certeza, estamos sentindo o problema. Eles vieram e, a cada dia, está aumentando. Eles estão vindo de outros lugares. Eles encontram facilidades e pessoas fazendo doações, com roupa, comida e dinheiro. Eles passam a noite bebendo. Nesta semana, houve um princípio de incêndio. Tinha uma fogueira atrás de duas lojas. Eles até puxam faca”, desabafou um comerciante local.

O Metrópoles entrou em contato com a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) que informou que “o número de atendimentos de ocorrências policiais militares efetuados no perímetro da EQS 311/312 não aumentou, se compararmos os dois primeiros meses do ano de 2021 e 2022”. “As questões que envolvem pessoas em situação de rua extrapolam a esfera da segurança pública sendo também uma problemática de ordem social”, relembraram.

Também questionada, a Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) disse que “através do Serviço Especializado em Abordagem Social (SEAS), mantém atendimento constante na 312 Sul, como também a articulação com a comunidade e a igreja que tem no local”. Além disso, “desde agosto de 2021, a equipe da abordagem social realiza um trabalho sistemático na 312 Sul”.

“A região é caracterizada pela transitoriedade das pessoas”, completou a pasta.

A Sedes ainda enviou à reportagem uma tabela com o quantitativo por mês de pessoas em situação de rua, que estão ou estiveram na quadra – atualmente, são quatro. Confira:

  • Agosto/21 – 12 pessoas identificadas nas ruas da quadra.
  • Setembro/21 – 6 pessoas
  • Outubro/21 – 0
  • Novembro/21 – 3 pessoas
  • Dezembro/21 – 8 pessoas
  • Janeiro/22 – 4 pessoas

Confira notas na íntegra da PMDF e da Sedes:

  • PMDF

A PMDF informa que o número de atendimentos de ocorrências policiais militares efetuados no perímetro da EQS 311/312 não aumentou, se compararmos os dois primeiros meses do ano de 2021 e 2022. Além disso, o policiamento é realizado diuturnamente por toda a extensão da Asa Sul e sua distribuição é feita baseando-se nos índices criminais de cada área. As questões que envolvem pessoas em situação de rua extrapolam a esfera da segurança pública sendo também uma problemática de ordem social. Cabe ressaltar que a PMDF segue criteriosamente a Recomendação número 03/2021 – MPDFT.

  • Sedes

A Secretaria de Desenvolvimento Social, através do Serviço Especializado em Abordagem Social (SEAS), mantém atendimento constante na 312 Sul, como também a articulação com a comunidade e a igreja que tem no local. Inclusive, nesta quinta-feira (17) foi realizada uma reunião de Rede de Apoio Social, que reuniu servidores do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), representantes da Igreja Guadalupe e dos moradores das quadras. A região é caracterizada pela transitoriedade das pessoas.

Durante a reunião, foi feita uma explanação dos serviços da Assistência Social, quando foi explicado sobre o funcionamento do serviço de abordagem. Os participantes da reunião traçaram planos para possíveis atuações conjuntas e deram direcionamentos das doações da comunidade, entre outros acordos.

Desde agosto de 2021, a equipe da abordagem social realiza um trabalho sistemático na 312 Sul.

Agosto/21 – 12 pessoas identificadas nas ruas da quadra.
Setembro/21 – 6 pessoas
Outubro/21 – 0
Novembro/21 – 3 pessoas
Dezembro/21 – 8 pessoas
Janeiro/22 – 4 pessoas

A Sedes informa que, por meio do Serviço Especializado de Abordagem Social, todos os bolsões onde há concentração de população em situação de rua do Distrito Federal são acompanhados. As equipes fazem a abordagem, na qual apresentam os serviços, programas e projetos; além disso, é ofertado o acolhimento institucional, uma vez que a pasta dispõe de 18 Casas de Passagens, sendo que oito foram inauguradas em 2021, bem como unidades de acolhimento para todas as faixas etárias, inclusive para famílias. Pelos dados de janeiro, cerca de 2.230 pessoas se autodeclaram em situação de rua no DF e atendidas pela política sociais.

Lembrando que, a SEDES não atua em políticas de drogadição. É uma pauta da política pública de saúde ou, se for o caso, da segurança pública. É preciso esclarecer que não se trata de um serviço para retirada compulsória de pessoas em situação de ruas, pois esse não é o foco do trabalho das 28 equipes que executam essa ação em todo o Distrito Federal. Trata-se um de atendimento nos espaços públicos da rua para inserção na Política de Assistência Social e demais Políticas Públicas, tais como: Saúde, Justiça, Educação, Trabalho, dentre outras.

 

 

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