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Morador da Asa Norte exibe bandeira usada por supremacistas brancos

Símbolo adotado inicialmente por adeptos ao liberalismo é hoje usado por ultraconservadores e esteve presente em invasão do Capitólio

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Bandeira em janela - Metrópoles
1 de 1 Bandeira em janela - Metrópoles - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Uma bandeira usada em movimentos supremacistas foi estendida em um prédio da Asa Norte, bairro nobre de Brasília. A Bandeira de Gadsden nasceu de demandas da população norte-americana por independência contra o Império Britânico, além de adotada por adeptos ao liberalismo, mas passou a ser usada por ultraconservadores com pautas racistas e antidemocráticas. O símbolo esteve presente na invasão do Capitólio dos Estados Unidos, quando apoiadores de Donald Trump – derrotado nas últimas eleições norte-americanas – não aceitaram o resultado do pleito.

A reportagem entrou em contato com os moradores do apartamento, que fica na SQN 108. No local, vivem um casal e o filho. Segundo o homem, o rapaz teria pendurado a bandeira na fachada do prédio. “Na verdade, meu filho colocou, vou conversar com ele para entender”, disse. O Metrópoles tornou a ligar para o morador à noite, mas não teve as ligações atendidas nem mensagens respondidas.

Vitor Izecksohn, doutor em história e professor titular de História da América na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), lembra que a bandeira surgiu na Carolina do Sul, “um estado complicado na história dos Estados Unidos, porque combina ultraliberalismo com tendências escravistas muito fortes”, e que o sentido dela mudou ao longo do tempo.

Criada durante a Guerra de Independência americana por Christopher Gadsden, político e general, a bandeira carrega uma frase em inglês que, traduzida para o português, diz “não pise em mim”. A cobra ao centro representava as 13 colônias norte-americanas sob domínio do Império Britânico. Porém, passou a ser um dos símbolos do Tea Party, movimento político de extrema-direita vinculado ao Partido Republicano.

“O ultraliberalismo, quando surgiu, expressava uma oposição ao rei. Era negação da monarquia, que passou a ser vista como tirania. Mas ele vai mudando de significado. Mantém relação com o ultraliberalismo, mas acaba ramificando nos Estados Unidos para supremacistas. […] Atualmente, ela (a bandeira) tem sentido reacionário nos Estados Unidos. Aqui, não sei que sentido pode ter, porque você importa o símbolo, mas não importa a experiência”, comenta.

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As duas bandeiras estão penduradas em prédio da 108 Norte
A Bandeira de Gadsden tem uma cobra e a expressão "Não pise em mim" (Don´t tread on me, em inglês)
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A Bandeira de Gadsden está ao lado da Bandeira Nacional

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As duas bandeiras estão penduradas em prédio da 108 Norte

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A Bandeira de Gadsden tem uma cobra e a expressão "Não pise em mim" (Don´t tread on me, em inglês)

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Para Marina Slhessarenko Fraife Barreto, pesquisadora do Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo (Laut) e mestranda em ciência política na Universidade de São Paulo (USP), embora o contexto do surgimento da bandeira esteja na independência norte-americana, “há toda uma história mais recente da apropriação do símbolo por grupos racistas e supremacistas em prol de pautas antidemocráticas”.

Ela avalia que ultraconservadores e liberais libertários adotam esse símbolo, mas que eles não são polos “tão diferentes quanto parecem ser”. “O Tea Party, parte da direita radical do Partido Republicano que se apropriou dessa bandeira, ressuscitado hoje no movimento Stop the Steal, apresenta tanto reivindicações conservadoras sobre os direitos reprodutivos de mulheres quanto pautas libertárias com relação às políticas públicas para lidar com a pandemia, por exemplo. […] Bem como a reivindicação da existência de grupos e pautas neonazistas. A presença desse símbolo é digna de preocupação”, sintetiza.

Marina classifica a pauta inicial da bandeira como justa à época da independência norte-americana, mas alerta sobre essas apropriações. “Ela não tem, no seu surgimento, um histórico racista, mas foi apropriada por grupos racistas e supremacistas, como a Ku Klux Klan. Não é uma mera exportação, tem um significado que precisamos entender.”

Outras aparições

A bandeira também já causou polêmicas em outros contextos no Brasil. Em 2016, Eduardo Bolsonaro, filho do presidente da República e deputado federal, postou uma foto segurando uma arma em frente ao símbolo, com outros dois homens também armados. Em 2021, a bandeira esteve com manifestantes a favor do presidente em Salvador e São Paulo.

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