Com derrubadas suspensas, grileiros incentivam invasões no 26 de Setembro
Mensagens em grupos de WhatsApp ensinam moradores a burlar fiscalização. Novos lotes estão sendo vendidos
atualizado
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Após uma série de operações realizadas no final do mês de agosto, a Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal) suspendeu na semana passada as derrubadas de construções irregulares no Assentamento 26 de Setembro. Grileiros aproveitaram a interrupção para incentivar novas ocupações em lotes ainda não habitados.
Em orientações que circulam por grupos de moradores do local no WhatsApp, lideranças mandam a comunidade configurar moradias, pois o Poder Público “não vai derrubar casas habitadas”, dizem as mensagens.
Em um dos textos, há explicação detalhada dos requisitos que configuram uma casa realmente habitada. Segundo as orientações, o ideal é dar “prioridade para um cômodo” e colocar “o banheiro pra funcionar. Se não tiver cisterna, peça água emprestada para seu vizinho”.
A justificativa é simples: a DF Legal não pode derrubar imóveis habitados, ou seja, com pessoas morando. Dessa forma, os responsáveis pela orientação afirmam que é melhor garantir apenas uma pequena casa do que perder o investimento já feito na região. “Depois que tiver dentro é outra história, vai aumentando e faz do jeito que sempre sonhou, não corra o risco de tomar tamanho prejuízo”, completa o texto.
Os incentivadores da ocupação irregular ainda afirmam que o chamado “kit invasão” não é mais considerado habitação. “Não adianta mobiliar a casa encima (sic) da hora, se não tiver água, fossa, dejetos na fossa, caixa d’água é considerado ‘kit invasão'”, apontam.
O assentamento 26 de Setembro faz parte da Macrozona Rural de Uso Controlado, na DF-001, entre Vicente Pires e Brazlândia. A União arrendou a área para chacareiros produzirem, mas o parcelamento irregular vem crescendo no local há muitos anos.
Confira a postagem:
Um dos pontos mais críticos da invasão é um condomínio que ainda está em fase de construção, em uma área próximo à DF-001 (fotos em destaque e abaixo). Um grande muro já foi construído e até há projeto pronto.
Grileiros têm anunciado as terras por altos preços. Conforme documento recebido pela reportagem, o lote é oferecido com valor mínimo de R$ 120 mil.
Veja:
Segundo fontes ouvidas pelo Metrópoles, todo o material sobre o incentivo a novas ocupações na área e o projeto do condomínio em construção, bem como a proposta de venda de lotes no local, já estariam em poder da Polícia Civil do DF (PCDF) para investigação.
Questionada se há uma apuração em curso, a corporação ainda não se pronunciou – o espaço segue aberto a manifestações posteriores.
Assentamento já tem mais de 20 anos
Alvo de construções desde 1996, o Assentamento 26 de Setembro cresce ao arrepio da lei e ultrapassou a marca de 4 mil casas construídas. Estabelecido ilegalmente em um local próximo a Vicente Pires e Taguatinga, o terreno com mais de 1,3 milhão de metros quadrados tem sido alvo de promessas de regularização ao mesmo tempo em que sofre com derrubadas.
De acordo com a Associação de Moradores Núcleo e Cidadania do assentamento, cerca de 30 mil pessoas moram no local. A mais recente derrubada ocorreu em agosto, coordenada pela DF Legal, para remover construções em andamento. A ação foi apoiada pela Polícia Militar: houve conflitos e pessoas ficaram feridas, incluindo um policial civil, que foi baleado.
Veja imagens das operações recentes:
Segundo a DF Legal, as derrubadas são em regiões com construções ainda no início, “onde novas invasões tentam se instalar”. O objetivo, segundo o órgão, “é evitar as ocupações irregulares, fomentando menor impacto econômico, social e ambiental no Distrito Federal”.
A DF Legal informou que, até a última semana de agosto, foram liberados 344.400 m² na região. Ainda não há data confirmada para novas ações no local.