Mônica de Mesquita, primeira comandante-geral do CBMDF: “Obrigação de não errar”
A Coronel Mônica de Mesquita Miranda está na corporação desde 1993. Ela entrou no CBMDF ainda como estagiária do curso de psicologia
atualizado
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Pela primeira vez na história do Corpo de Bombeiros Militar do Brasil, uma mulher foi nomeada para ocupar o comando-geral da corporação no Distrito Federal. A Coronel Mônica de Mesquita Miranda está na corporação desde 1993. Ela tomou posse do cargo nessa quarta-feira (4/1) e sonha em construir um legado na chefia do CBMDF.
“É um momento de muita alegria. Sabe aquela convicção de missão cumprida? Entrei aqui bem despretensiosa, há quase 30 anos como estagiária, focando no curso de psicologia. Acabei ingressando e me tornando comandante-geral. Você atira no que vier e acerta no que não vê”, contou ao Metrópoles a comandante.
A trajetória da coronel começou ainda na época de faculdade, quando ela estagiou no CBMDF para cumprir uma matéria obrigatória da grade curricular de psicologia, antes mesmo de existir um quadro feminino na corporação.
Em 1992, ano em que se formou, um colega da faculdade que trabalhava na Polícia Militar do DF (PMDF) avisou para ela que haveria um concurso para os bombeiros. “Na época, eu ia para o Rio de Janeiro, meu objetivo era prestar concurso para a Marinha. Porém, mesmo com apenas três vagas, resolvi fazer a prova do CBMDF e passei. No ano seguinte, ingressei na corporação pela turma mista, aos 23 anos”, relembra.
Mesmo que não tenha seguido na carreira de psicóloga, a formação superior esteve presente durante toda a trajetória da coronel. “A psicologia sempre foi minha ferramenta. Tanto no Comando do Socorro, como lidar com tropa, no autocontrole, mas principalmente na área operacional lidando com acidentes”, comenta.
Após passar pelo curso de formação de oficiais CBMDF, a primeira atividade de Mônica na corporação foi como chefe da sessão de psicologia da Academia de Bombeiros Militar. Depois, retornou como aspirante para a Academia e assumiu o cargo de comandante no Centro de Assistência, onde atuou como psicóloga.
Ao longo dos anos, a bombeira passou pelo 1º Batalhão, voltou para a Academia, fez curso em perícia e também atuou como comandante da Diretoria de Investigação de Incêndio, Diretoria de Ensino da corporação e Diretoria de Inativos e Pensionistas (Dinap).
“Eu costumo dizer: meu xodó é o colégio, o meu amor é a perícia e a minha eterna preocupação é a Dinap, que cuida dos nossos veteranos”, brinca.
Em 2017, mais uma vez a coronel se reencontrou com a psicologia na sua trajetória no Corpo de Bombeiros. Logo na primeira semana como comandante do Centro de Assistência, teve que lidar com o primeiro caso de suicídio na corporação.
“Foi um momento muito impactante na minha carreira. Nós tivemos um suicídio de um militar. Na época, questionei aos meus antecessores se havia algum protocolo para lidar com a situação e, ao saber que não havia nenhum até então, tive que recorrer aos meus aprendizados da faculdade e cuidar da gestão”. Nesse período, foi criado o primeiro Fórum dos Comandantes Operacionais, para debater sobre a saúde mental dos militares.
Legado como comandante-geral
Após mais de 28 anos na instituição, Mônica teve a oportunidade de expandir a sua vivência profissional para além do Corpo de Bombeiros Militar do DF. Em 2020, passou a atuar na Ouvidoria da Casa Civil da capital federal.
Ao voltar para a corporação de militares com a intenção de finalizar seu trabalho na área, a coronel Mônica recebeu a nomeação para ser comandante-geral. “Nossa corporação tá se capacitando a cada dia. Cada comandante que sentou nessa cadeira colaborou da sua forma. Eu trago a percepção desde estagiária de olhar pelo nosso patrimônio maior que são os nossos militares. O tempo é curto, mas quero deixar um legado na área de saúde mental”, disse.
Para ela, o maior desafio no novo cargo é proporcionar que outras coronéis também possam ser promovidas e incentivadas a ocupar cargos de chefia. Servir de modelo para outras mulheres. “Eu desejo que outras mulheres assim como eu, não tenham medo, pois qualquer cargo também cabe a elas. Que os homens não as olhem como rivais, mas sim com parceria”, afirmou a coronel. “Se eu cheguei, todas têm condições igualmente”, incentiva.
“É uma responsabilidade muito grande, porque eu me sinto na obrigação de não errar, tenho que dar certo. A minha história vai e volta ao passado, se a gente [mulheres] fraquejar, nosso quadro vai ser extinto. A trajetória não foi fácil, mas valeu a pena persistir. Cargo de comando-geral não é fácil. Estou aqui para resolver problemas. Foi tudo tão difícil, mas tá sendo tão gratificante”, comemora a comandante-geral.