“Militar não é antônimo de democracia”, diz novo secretário de Educação do DF
João Pedro Ferraz assume a pasta com a missão de ampliar a implantação das escolas com gestão compartilhada
atualizado
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O novo secretário de Educação do Distrito Federal, João Pedro Ferraz, não vê conflito entre a gestão compartilhada de escolas públicas com a pasta de Segurança Pública, a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros. Segundo Ferraz, a medida “não é antônimo de democracia”.
Também responsável pela Secretaria do Trabalho, o ex-procurador-geral do Ministério Público do Trabalho (MPT) disse, em entrevista ao Metrópoles na tarde desta terça-feira (20/08/2019), não ver dificuldades na fusão das pastas. O governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), estuda a união das áreas.
“Não podemos dizer que militar é antônimo de democracia. As Forças fazem parte da nossa estrutura de Estado. A comunidade está diuturnamente pedindo polícia na rua. Não estamos colocando os militares em sala de aula para ensinar princípios, disciplina e a hierarquia militar. Eles foram chamados para ajudar na organização e na segurança de alunos e professores”, pontuou Ferraz.
De acordo com o secretário, a ampliação da gestão compartilhada será acelerada. “Nós pretendemos implantá-la no maior número de escolas possível. E, com certeza, o modelo vai ser objeto de desejo dos demais colégios”, assinalou. Do ponto de vista de Ferraz, a iniciativa é uma forma eficiente para proporcionar disciplina e segurança, especialmente em áreas carentes.
“Se estamos no caminho certo ou não, só o tempo dirá. Mas, até agora, acreditamos que estamos”, afirmou. Além da gestão compartilhada, o governo estuda a criação de colégios 100% militarizados, nos moldes dos colégios militares. “Serão novas escolas opcionais. Quem quiser estudar nelas deverá passar por uma seleção”, antecipou.
Crise na Educação
Ferraz substitui Rafael Parente, que foi exonerado da Secretaria de Educação na noite dessa segunda-feira (19/08/2019), conforme noticiou o Metrópoles. O ex-titular da pasta caiu por discordar quando o governador, Ibaneis Rocha (MDB), decidiu implantar a gestão compartilhada no Centro de Ensino Fundamental 407 de Samambaia e no Gisno, na Asa Norte. Em votação com pais, alunos e professores, os dois colégios disseram “não”, em consulta feita no sábado (17/08/2019). Segundo Parente, o gesto de Ibaneis não respeitou os princípios democráticos.
Ferraz observa a situação de outra forma. Alinhado com o governador, o futuro secretário afirmou que a consulta não determina ou não a implantação do modelo. “O governo não quer uma disputa eleitoral em cada escola. E o voto popular já elegeu o governador, Ibaneis. Ele tem a legitimidade e a responsabilidade pelos destinos da educação”, justificou.
Pacificação
Antes de exonerar Parente, Ibaneis decidiu seguir com a implantação do modelo de gestão compartilhada em Samambaia. “Tivemos a fatalidade de um estudante esfaqueado na última segunda-feira”, argumentou o secretário. No caso do Gisno, o governo pretende voltar a debater a questão. Neste contexto, as relações do governo com o Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF) está abalada, mas Ferraz aposta na paz.
Nesta quarta (21/08/2019), governo e professores deverão fazer uma reunião para debater a questão. Ferraz acredita que, com muita conversa, as partes vão chegar a um denominador comum. “Não há nenhuma quebra de relação”, resumiu. Neste contexto, o futuro secretário pretende colocar na mesa toda experiência na área trabalhista e docência. Ferraz foi professor de curso superior por 25 anos.
Fusão das pastas
Na leitura de Ferraz, não há empecilho para a fusão das secretarias da Educação e Trabalho. “Nós estamos, hoje, em um momento de escassez enorme de recursos. Quando você funde duas pastas, elimina determinadas instâncias e acaba economizando recursos, orçamento. O governador talvez tenha olhado para esta economia. Se essa for a decisão, não vejo nenhuma dificuldade de tocar as duas pastas”, cravou.
De acordo com o novo secretário, a pasta do Trabalho possui iniciativas diretamente ligadas à Educação, a exemplo da Fábrica Social, dos projetos de qualificação profissional e de integração de jovens no mercado de trabalho. “A Fábrica Social produz os uniformes para parte dos estudantes das escolas compartilhas”, afirmou.
Desafios
Do ponto de vista de Ferraz, a Secretaria de Educação é um dos maiores e mais preocupantes desafios do governo. A rede pública de ensino sofre com problemas de infraestrutura e de uma demanda crescente por novas vagas. O quadro é agravado pela migração acelerada de ex-estudantes da rede particular. As famílias dessas crianças e adolescentes perderam a capacidade de pagar as mensalidades de instituições particulares em dia.
Ferraz solicitou à Companhia de Planejamento do DF (Codeplan) um estudo completo do quadro educacional para 2020. Ao mesmo tempo, avalia a possibilidade de lançar um mutirão de reformas das escolas. O governo já tinha em marcha o lançamento de um pacote de obras para sanar problemas de infraestrutura em 240 colégios.