“Meu esposo ouviu os tiros”, diz vizinha de casa onde PM matou família
O sargento Nilson Comes, da PMDF, matou a esposa, os dois filhos e ateou fogo na própria casa, no Setor Tradicional de Planaltina, nessa 5ª
atualizado
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Vizinhos da família vítima de chacina ocorrida em Planaltina, na noite dessa quinta-feira (10/2), contam que chegaram a ouvir os tiros e que sentiram o cheiro da fumaça que vinha da casa. “Meu esposo ouviu os tiros na hora, mas a gente achou que eram fogos na rua e nem ligamos. Logo depois nossa casa ficou infestada com cheiro de queimado e já dava para ver a fumaça”, relatou Maria José Rodrigues, 59, vizinha da família há mais de 15 anos.
Nilson Cosme Batista dos Santos, sargento da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), é o suspeito de matar a esposa, os dois filhos e depois atear fogo na própria casa, no Setor Tradicional de Planaltina. O homem cometeu suicídio em seguida.
De acordo com Maria José, a esposa de Nilson, Maria de Lourdes Furtado, 50, vendia sabão em barra para os vizinhos. “Eu até pensei que a fumaça poderia ser por causa dos produtos que ela usa para fazer sabão, mas logo depois apareceram muitos policias e nós imaginamos que algo muito ruim teria acontecido”, conclui.
Na manhã desta sexta-feira (10/2), a casa da família continuava isolada e o clima entre os vizinhos ainda era de luto. No terreno, há um pano ensanguentado deixado no chão. De acordo com a PMDF, um dos corpos estava na sala, atrás da porta e, os outros três, dentro de um quarto.
“Foram três tiros na mulher: um no abdômen, um no pescoço e outro na cabeça. Um dos filhos tinha um tiro na cabeça e, o outro, não deu para identificar, pois estava muito queimado”, relatou um militar que participou da ocorrência.
De acordo com vizinhos, a família era reservada e não participava de eventos.
Antes de cometer a chacina, o sargento Nilson Cosme ligou para o 14º Batalhão da PM, em Planaltina, para avisar sobre o que estava prestes a fazer. O policial estava muito nervoso e disse que mataria todos. Ainda durante a ligação, os militares chegaram a ouvir diversos tiros.
Cerca de cinco minutos após o chamado, uma equipe foi até a residência, localizada na Quadra 161, no Setor Tradicional, em Planaltina. Os PMs tentaram contato com a família, mas ninguém respondeu.
Os policiais militares perceberam sinais de fumaça no imóvel, arrombaram o portão e acionaram o Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF). Durante todo o tempo, os PMs chamavam por Cosme e tentavam contato com os moradores.
Portas e janelas da casa estavam totalmente trancadas. Ao forçar a entrada, a guarnição viu um corpo ao chão, em um dos quartos. Dois policiais ainda tentaram arrastar o corpo para tirá-lo das chamas. Contudo, devido à fumaça, não conseguiram. Um galão vazio, cheirando a álcool, também foi encontrado.
O incêndio foi contido pelos bombeiros, que também fez a retirada de quatro corpos. Perto de um dos mortos foi encontrada uma pistola CZ .9mm, da PMDF.
Depressão
Em uma conversa com colegas de quartel dois dias antes de matar a família e cometer suicídio, o sargento reclamou que estava exausto e sob pressão. Ele também alegou que não conseguiu fazer tratamentos de saúde, aparentando estar em depressão.
Sem se identificar, um colega do policial lembrou do desabafo feito dias antes da chacina. “Ele reclamava que sofria muitas cobranças, mas não tinha assistência e precisava fazer tratamento. A família pegou Covid, ele estava muito estressado e passando dificuldades. Contou que estava constantemente sob pressão”, detalhou.
As vítimas da chacina ocorrida em Planaltina nesta quinta-feira (10/2) foram identificadas como Maria de Lourdes Furtado, 50 anos; Lucas Furtado dos Santos, 16; e Isaac Furtado dos Santos, 21. Mãe e filhos foram assassinados pelo pai dos jovens, Nilson dos Santos.
Casal tranquilo
Segundo outra vizinha da casa onde ocorreu a tragédia, Lucileide Maria Lucas, 33 anos, a família não parecia ter problemas. “Sempre foram um casal tranquilo, iam à igreja, ela era católica. Iam em São Sebastião, ela falava que ia na missa das 17h. Os dois sempre me tratavam bem, os meninos brincavam, jogavam videogame. Sei que o mais velho passou na UnB”, diz.
Ainda de acordo com a moradora da região, ela era bem próxima de Maria de Lourdes, e chegou a conversar com a vítima no dia do crime. “Dia 2 ela mandou áudio dizendo que estava com Covid. Dia 8 perguntei se estava tudo bem, ela disse que sim. Hoje eu mandei áudio e ela visualizou às 17h50”, revelou.
Amigo de infância dos dois jovens assassinados, João Vitor Gonçalves, 20 anos, contou emocionado à reportagem que ambos eram muito estudiosos. “Eles nunca foram de sair, de farra, [ficavam] só estudando. Mas jogavam muito videogame. O Isaac passou pra engenharia química na UnB. Eu não consigo nem falar o que eu estou sentindo, só quem perdeu sabe”, lamentou.