“Meu Deus, me dê força”, diz mulher de militar atropelado por ônibus
Enterro do tenente-coronel do Exército Maurício da Cruz reuniu cerca de 300 pessoas entre familiares e amigos, e teve salva de tiros
atualizado
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Cerca de 300 pessoas entre familiares, amigos e militares se despediram nesta terça-feira (21/8) do tenente-coronel do Exército Maurício da Cruz Carneiro de Almeida, 43 anos, que morreu atropelado por um ônibus na segunda-feira (20), enquanto andava de bicicleta na QL 6 do Lago Sul.
“Ai, meu senhor Jesus. Ai, meu Deus, me dê força”, pediu a esposa Suenia Carvalho Carneiro, 42. “A gente acolheu tantos amigos. Vejo pessoas hoje que estiveram brincando e rindo conosco dentro da nossa casa. Tá doendo, mas a presença de você me deixa mais confortável para seguir. Não é fácil perder quem a gente ama”, disse, em prantos.
Marcado por muitas homenagens, o enterro contou com a presença de 140 militares do Exército para as honras fúnebres. Coberto com a bandeira nacional, o caixão de Maurício foi levado ao local do sepultamento ao som da marcha fúnebre. Na sequência, família e amigos se despediram do tenente-coronel ao som do toque do clarim.
Por fim, Maurício foi enterrado junto a uma salva de tiros de fuzil. Nesse momento, o clima era de muita comoção. Durante o velório, muito abalada e ainda em choque, a família pediu que a Capela 5 fosse fechada por alguns minutos “para que ficassem a sós com Maurício”.
Colégio Militar
Alunos do Colégio Militar também estiveram presentes. E companheiros do grupo de ciclismo do qual o tenente-coronel fazia parte também prestaram homenagens, fazendo todo o trajeto até o sepultamento montados em suas bicicletas.
Quem pedala diariamente se viu no lugar de Maurício como o tenente-militar Sávio Medeiros, 45 anos. “Dá medo pedalar em Brasília. Lidamos com o perigo diariamente. Faltam campanhas de conscientização. Não estamos tomando o espaço de ninguém. As pessoas querem usar o carro como uma arma”.
Amigo próximo do tenente-coronel, Rafael Ruscher, 38, estava inconsolável. “Éramos amigos há dez anos. Nós falávamos todos os dias. Conversei com ele pouco antes dele sair de bicicleta, por volta das 6h da manhã”, lembrou.
O acidente
O tenente-coronel foi atropelado por um ônibus no começo da manhã de segunda-feira (20). O acidente ocorreu na ciclofaixa da QL 6 do Lago Sul, na altura do centro comercial Gilberto Salomão. Quando o Corpo de Bombeiros chegou ao local, Maurício da Cruz estava em parada cardiorrespiratória. Os socorristas conseguiram reanimá-lo e o levaram, em estado grave, para o IHB, a maior unidade de saúde do Distrito Federal, mas ele não resistiu aos ferimentos.
Maurício foi atropelado por um coletivo da Urbi, placa OVO 0478-DF, conduzido por Wesley da Silva Pereira Lopes, 37. O ônibus fazia a linha Paranoá-Núcleo Bandeirante e estava com cerca de 40 passageiros na hora do acidente. Nenhum dos ocupantes do veículo se feriu ou necessitou de transporte para atendimento médico.
O condutor disse que tentou desviar de um carro, invadiu a ciclovia e atropelou o militar. Segundo Wesley, o socorro teria demorado 20 minutos. “Enquanto isso, eu mesmo tentei reanimá-lo com massagem cardíaca”, disse. Maurício trabalhava como instrutor de alunos do ensino fundamental do Colégio Militar de Brasília, na Asa Norte, há três anos e meio.
O tenente-coronel Maurício era natural de Foz do Iguaçu, no Paraná. “Honestidade e respeito são algumas características que ele possuía, pois eram necessárias ao cargo ao qual ocupava”, destacou Rolszt. Um dos funcionários do colégio contou que o militar tinha voltado a pedalar recentemente.
Ciclovia
Renata Florentino, uma das representantes da ONG Rodas da Paz, disse que a ciclofaixa do Lago Sul precisa de revitalização. “A do Lago Norte ganhou tachões e sinalização nova, além de a velocidade da pista ter sido reduzida. Ainda não há previsão de melhorias no Lago Sul”, disse. De acordo com dados do Departamento de Trânsito (Detran), pelo menos 13 ciclistas morreram este ano no Distrito Federal.