Metrópoles visita culto comandado pelo ex-Raimundos Rodolfo
O ex-roqueiro aproveitou o Dia dos Pais para visitar a família que mora na cidade e pregar para fiéis em uma igreja. Ele falou sobre suas atividades atuais e revelou que a fé o curou de um câncer
atualizado
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São quase 19h40. Rodolfo Abrantes, ex-vocalista da banda Raimundos, sobe ao palco da Igreja Batista Shalom, na Octogonal. O público, de aproximadamente 500 pessoas, é muito menor do que os milhares que frequentavam os shows da banda brasiliense e ouviam versos sobre puteiros em João Pessoa. Mas não se pode dizer que os presentes na noite de domingo (14/8) são menos apaixonados.
Parece que foi ontem, mas já faz 15 anos que Rodolfo deixou a vida de sexo, drogas e rock’n roll para se dedicar a passar a “palavra pelo espírito de Deus”, como ele mesmo define. O Metrópoles esteve na pregação feita nesse domingo (14/8), Dia dos Pais, e conversou com o artista sobre a atual atividade.Ao chegar na igreja, logo na entrada, uma banquinha montada exibe os CDs de música religiosa de Rodolfo — “R.A.B.T”, de 2012, e “Joio ou Trigo”, de 2015 — além do DVD sobre a vida do músico e missionário, contando como ele se converteu. Cada um custa R$ 20, mas quem quiser os três itens pode pagar R$ 50.
Atrás dos CDs e DVDs está a esposa de Rodolfo, Alexandra Horn, com quem ele mantém relacionamento desde o início dos anos 1990, época dos Raimundos e de quando ainda eram “loucos”.
Alexandra, desconfiada em um primeiro momento, afirmou que Rodolfo não poderia atender a reportagem, pois estava se preparando para a apresentação e depois sairia para jantar com a família. Mas após a hesitação, ela trouxe o marido.
Rodolfo chega sorridente e solícito. Apesar de viver há 14 anos em Itajaí, Santa Catarina (SC), diz que o carinho por Brasília é especial. “Atualmente viajo muito, fico pouco tempo lá (Itajaí). Mas sempre faço questão de voltar para cá. Este ano já vim duas vezes. É uma sensação diferente, de estar voltando para casa. As coisas podem mudar, mas minha família e o céu da cidade continuam o mesmo”, relata. Boa parte dos familiares do atual missionário segue na capital, incluindo a mãe, Jacira, e o filho Pablo, de 24 anos.
As constantes viagens fazem parte da atual atividade de Rodolfo. Além da gravação de músicas, ele faz pregações ao redor do país e até mesmo fora do Brasil. “Estivemos por dois meses na América do Norte, nos Estados Unidos e no Canadá. Lá, as pessoas têm muita sede pela palavra de Deus. Meu teto espiritual aumentou muito com essa experiência”, conta. Sobre quanto ganha com a vida religiosa, ele se limita a dizer que “vive com conforto, mas sem luxos”.
Sobre os fãs de hoje em dia, o músico acredita que faz apenas o papel de instrumento divino. “Não sou eu quem influencia o público. É Deus quem faz o trabalho. Mas a música faz parte de mim e acho que Deus gosta de música”, diz sorrindo.
Ao final, questionado se teria vontade de tocar novamente com a antiga banda, Rodolfo resume: “Seguimos caminhos diferentes”.
Apresentação
A presença de Rodolfo no palco atrai muitos jovens ao culto, mesmo que o ápice dos Raimundos tenha ocorrido há quase 20 anos, quando boa parte dos adolescentes presentes sequer tinham nascido.
Após uma introdução do pastor responsável pelo culto, Rodolfo sobe ao palco e, com um violão, começa a tocar uma canção. O público fica de pé e acompanha a música. Alguns cantam juntos a letra que se assemelha a uma oração.
Ao final da música, ele deixa o violão e se aproxima do púlpito, onde começa a dar seu testemunho. Em um primeiro momento, analisa um trecho da bíblia. A passagem escolhida é a de Isaías, mais especificamente os primeiros versículos do capítulo 61 que tratam sobre a missão dos fieis em levar ao próximo a palavra de Deus. Rodolfo exemplifica as lições com momentos de sua própria vida, principalmente de quando foi convertido.
“Eu cheguei ao fundo do poço. Usava tanta droga que começaram a aparecer caroços na minha virilha e no meu sovaco, além de dores constantes no estômago que me impediam de comer direito. E não tinha coragem sequer de contar aos meus pais, que eram médicos. Durante um show, eu estava com o cabelo verde, vi um rapaz na primeira fileira com o mesmo tom de cabelo e apontando para minha cabeça. Ele queria ser igual a mim. Mas era eu que queria ser ele e refazer minha vida”, conta.
Segundo o músico, a transição começou com um grupo de oração realizado por familiares de sua esposa. “Aquelas tiazinhas chegaram à minha casa. Eu fazia músicas que zombavam de pastor e de igreja. Mas elas colocaram o dedo na minha cara e perguntaram se eu aceitava Jesus. Me senti intimidado e disse que sim. Na segunda visita delas, uma veio até mim e disse ‘filho, curamos um câncer no seu estômago’. Depois disso, os caroços sumiram, consegui ganhar peso novamente. Senti a palavra do Espírito Santo e passei a seguir Deus”. O relato faz com que muitos presentes gritem “amém” ou “aleluia”.
Durante a pregação, ele também conta sobre suas últimas viagens e um pouco do dia a dia com a esposa, arrancando alguns risos da plateia.
Depois de aproximadamente uma hora, ele encerra a apresentação com outra música. Dessa vez, chama os fieis para a frente do palco. Com palavras de ordem e adoração, muitos se dirigem às primeiras fileiras. Alguns cantam, outros até choram. Assim segue por vários minutos. Antes de descer do púlpito, relembra dos CDs e DVDs, vendidos no local e volta para junto da família.