Metrópoles/Ideia: 18,5% da população do DF é a favor de golpe militar
Maioria dos moradores do DF defende regime democrático e é contra golpe com intervenção militar: 61,3%. Outros 20,2% não sabem opinar
atualizado
Compartilhar notícia
A maioria da população do Distrito Federal é a favor da democracia, mas 18,5% dos moradores da capital se mostraram simpáticos a um golpe de estado com intervenção militar. Os dados constam na pesquisa Metrópoles/Ideia, divulgada nessa segunda-feira (19/9).
O levantamento ouviu 1,2 mil pessoas com 16 anos ou mais, todas com Título de Eleitor, entre 14 e 19 de setembro. Quando questionados se são a favor de golpe com intervenção militar, 61,3% dos entrevistados disseram “não”, enquanto 18,5% responderam “sim” e 20,2% não souberam responder.
Outra pergunta da pesquisa foi: “Você gostaria que o Brasil fosse governado por militares?”. Enquanto 63,8% responderam que “não”, 21,3% disseram que “sim” e 14,9% não souberam responder.
Na visão de Rubens Beçak, doutor em direito constitucional e professor da Universidade de São Paulo (USP), os números favoráveis a um sistema antidemocrático precisam ser analisados sob diversas óticas.
Um dos pontos levantados pelo professor é o entendimento de que a sociedade regida pelos militares seria mais organizada, com menos problemas. “Há essa associação da corporação militar com essa coisa da ordem, do respeito, da rigidez. Aquela coisa uniformizada. Mas isso é só um lado. Os problemas ocorriam [na ditadura], mas eram escondidos. Você simplesmente não ficava sabendo, porque não saíam nos jornais, nas rádios e nem existia internet”, explica.
Outra avaliação do especialista é de que a insatisfação com os rumos da política atual favorecem entendimentos distintos. “Isso exacerba uma tentativa de busca de alguma coisa fora do padrão da política. Se o sistema não está funcionando, não se procura, até por falta de conhecimento, uma resolução dentro do próprio sistema. É o: ‘se isso está dando errado, é a democracia que está dando errado’, em vez de se procurar solução na maximização democrática.”
Pontes de diálogo
Para Nauê Bernardo Azevedo, advogado e cientista político, a falsa impressão de uma vida melhor durante outra época também causa distorção da realidade e possibilita dados como esses mostrados na pesquisa. “Muitas dessas pessoas podem ter a impressão de que tiveram uma vida melhor durante o período de intervenção, desconsiderando a ausência de democracia. Esse tipo de percepção, geralmente, vem em conjunto com um sentimento de frustração com as instituições atualmente, mas não é saudável quando se pensa em debelar, de forma democrática, os problemas que a sociedade possui”, pontua.
Ele ainda diz que, nesse cenário, o papel dos agentes públicos deve ser o de demonstrar que o regime democrático oferece as soluções mais debatidas, amadurecidas e perenes para os reais problemas da sociedade. “É preciso acolher as divergências e procurar pontes de diálogo e de tomada de decisão conjuntas para superar esse tipo de pensamento.”
Pesquisa
A pesquisa Metrópoles/Ideia ouviu 1,2 mil pessoas com 16 anos ou mais, todas com Título de Eleitor, entre os dias 14 e 19 de setembro.
A margem de erro estimada é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos, considerando nível de confiança de 95%.
Utilizou-se a metodologia de pesquisa quantitativa, com aplicação de questionário estruturado, por meio de inquérito telefônico, junto a uma parcela representativa do eleitorado do DF.
A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob os números BR-00056/2022 e DF-03544/2022.