Metrô-DF não renova frota desde 2009 e é o mais antigo de 11 capitais
Cidades como Teresina, Fortaleza, Recife e Natal passam na frente da capital do país. DF não deve comprar novos trens nos próximos três anos
atualizado
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O sistema de metrô do Distrito Federal tem sido passado para trás por outras capitais brasileiras quando o assunto é reformulação da frota. A última vez que a Companhia do Metropolitano do DF (Metrô-DF) comprou novos trens foi há 15 anos, em 2009.
O Metrópoles analisou dados de 11 das 12 capitais do país que possuem transporte metroviário. Quando o assunto é aquisição de trens, Brasília é a última delas, ficando atrás de cidades como Teresina, Porto Alegre, Recife, João Pessoa, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, entre outras.
A ausência de carros modernos faz a frota do DF ter uma média de idade de 20,6 anos, ficando no sétimo lugar entre as 11 capitais estudadas pela reportagem. Cidades como Teresina (média de seis anos), Salvador (7,8 anos), Natal (10 anos) e Fortaleza (11,3 anos) estão à frente de Brasília. Pode-se destacar ainda João Pessoa, com sistema de veículo leve sobre trilhos (VLT) implantado há oito anos, e Maceió, com o mesmo transporte há 11 anos.
As capitais observadas foram João Pessoa, Teresina, Fortaleza, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Natal, Maceió, Salvador, Recife, Porto Alegre e Brasília. São Paulo não havia retornado até a última atualização da reportagem.
Confira os detalhes:
A compra de 2009, a mais recente feita pelo Governo do Distrito Federal (GDF), foi possível após o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) conceder R$ 260,3 milhões por empréstimo ao Executivo local. Com o valor, adquiriu-se 12 novos trens, que foram totalmente entregues ao DF em 2011 e somados aos outros 20, que chegaram em 1994. O financiamento também permitiu que o Metrô-DF implantasse o sistema de sinalização para operação automática ATO (automatic train operation), iniciada em 2013.
De lá para cá, o Metrô-DF acumula feitos como a liberação do carro exclusivo para mulheres, em 2015; e a inauguração das estações Estrada Parque, em Águas Claras, e 106 Sul e 110 Sul, no Plano Piloto. Porém, nada foi feito em relação à compra de novos trens.
Problemas
No dia 12 de janeiro, o vagão de um dos trens do metrô pegou fogo entre as estações Águas Claras e Concessionárias, sentido Samambaia. O carro tinha passageiros a bordo, e o piloto, percebendo o início da fumaça, decidiu evacuar todos os vagões. A ação evitou que alguém se ferisse no incidente.
“Vi que realmente não havia condições do trem seguir com os usuários dentro. Instintivamente, falei: ‘Não vamos com esse trem aqui porque não tem condições dele seguir viagem’. Eu tive muita ajuda do pessoal da segurança, que me deu apoio para tirar o pessoal dali”, contou o piloto Rubens de Sousa, 45, ao Metrópoles à época.
“Eu estava ali para fazer o meu papel. Teve momentos em que eu realmente fiquei em perigo, porque tive que entrar dentro do vagão onde estava saindo fumaça e desligar uma chave lá. Mas a gente faz um treinamento para executar uma tentativa de solucionar o problema nesses casos”, completou.
Seis meses depois, em 13 de julho, outro incidente acometeu um dos trens do metrô brasiliense. O carro havia acabado de deixar a Estação Central e apresentou falha na 110 Sul, sendo evacuado de imediato. O piloto, então, decidiu levar o veículo à estação de manutenção, mas, ao chegar à 114 Sul, o incêndio começou.
Assim como na ocorrência de janeiro, o fogo se manteve em apenas um vagão. Não houve feridos, mas a circulação foi interrompida nos dois sentidos por cerca de três horas. No dia seguinte, em entrevista coletiva, o presidente do Metrô-DF, Handerson Cabral Ribeiro, explicou que aquele carro, assim como o que pegou fogo em janeiro, fazia parte dos primeiros modelos entregues pela fabricante ao sistema, tinha entre 27 e 30 anos de operação e estava com a manutenção “100% em dia, assim como o resto da frota utilizada na capital federal”.
Ainda na ocasião, Cabral assegurou que “100% da frota do Metrô-DF está segura para a sociedade usar” e justificou que “a fatalidade está escondida num lugar que a gente não consegue ver”.
“Você vai perguntar ao presidente: ‘É uma incoerência, né? Se ontem um trem pegou fogo e dizer que 100% da frota está segura para usar?’. Mas 100% da nossa frota está com a manutenção 100% em dia. Então, a fatalidade está escondida num lugar que a gente não consegue ver. Ontem, a fatalidade estava escondida em algum componente dentro do carro número 3 que gerou esse incêndio”, comentou.
900 milhões de reais
A reportagem procurou o Metrô-DF para saber se há previsão de aquisição de novos trens, além de questionar se todos os 32 carros que a companhia possui estão operando e com a manutenção em dia. Sobre a possível compra, o órgão informou que há um projeto para adquirir 15 novos carros, e que, para isso, são necessários cerca de R$ 900 milhões. “O projeto já foi aprovado pelo Ministério das Cidades e deve ser contemplado na linha de financiamento do BNDES. Nossa expectativa é que saia o resultado entre outubro e novembro”, afirmou o presidente Handerson Cabral.
Apesar da expectativa, vai levar mais tempo para os passageiros do DF usufruírem de trens novos. “A partir da contemplação [do projeto], começa o processo interno dentro do BNDES, que deve durar uns quatro ou cinco meses. Só então é autorizado o início do processo de licitação. Ou seja, é um projeto que ainda vai demandar de dois a três anos, já que é uma concorrência complexa”, explica o Metrô-DF.
Manutenção do Metrô-DF em dia
A respeito do funcionamento e manutenção dos 32 trens, o órgão respondeu que, “nos horários de pico, o Metrô-DF roda com o máximo de 24 trens”, e que “existem vários tipos de manutenções periódicas preventivas, de acordo com a quilometragem rodada”.
“A cada 12,5 mil quilômetros rodados e seus múltiplos, uma manutenção é feita. A cada 300 mil km rodados, ocorre uma das maiores manutenções, com a inspeção de todos os sistemas e peças do trem. Todas as manutenções preventivas estão em dia”, assegura o órgão.