Mesmo com hospital próprio, PMDF gasta R$ 1,4 bilhão com rede conveniada
Apesar dos gastos crescentes com a rede conveniada, famílias de policiais militares não conseguem guias para consultas, exames e tratamentos
atualizado
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Mesmo com hospital próprio, a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) desembolsou R$ 1.428.896.677,66 em pagamentos para a rede conveniada de saúde e ressarcimentos por consultas, exames e tratamentos para a tropa. Os dados são referentes aos gastos realizados entre janeiro de 2019 e julho de 2023. Apesar do alto valor investido, policiais e as respectivas famílias penam, sem assistência médica. Para agravar a situação, três hospitais privados foram descredenciados recentemente.
Segundo informações do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafe) e na plataforma Siga Brasil, do Senado Federal, a PMDF destinou à rede conveniada e a ressarcimentos R$ 284.039.308,31 em 2019. No ano seguinte, R$ 283.896.557,02. Ao longo de 2021, foram gastos R$ 291.043.309,69 . No decorrer de 2022, o valor teve um salto de 19% e chegou a R$ 349.741.625,23. Em 2023, até julho, foram repassados R$ 220.175.877,41.
Inaugurado em 2014, o Centro Médico da PMDF tem uma área de 11 mil metros quadrados construídos. O projeto previa 100 leitos e teria a capacidade de atendimento de 300 pacientes por dia. No papel, iria oferecer mais 17 especialidades. No entanto, a unidade nunca funcionou plenamente, apesar da demanda das famílias e dos policiais por tratamento de diversas doenças.
Outras estruturas de saúde da corporação também estão “fora de combate”, a exemplo do Centro Odontológico e do Centro de Assistência Social. Além disso, como o Metrópoles revelou, a PMDF conta somente com 54 médicos efetivos para cuidar de 72 mil vidas. No caso da saúde mental, a situação é ainda mais fragilizada, pois a instituição conta apenas com um psiquiatra.
Carentes de atendimento, os beneficiários recorrem à rede conveniada, porém, esta também está em xeque. Na quinta-feira (27/7), o comando da PMDF emitiu memorando informando o descredenciamento dos hospitais Santa Marta, em Taguatinga, Daher, no Lago Sul, e do Hospital Brasília. “Portanto, após o dia 29/07/2023, os atendimentos nesses estabelecimentos não serão cobertos pelo Sistema de Saúde da PMDF, devendo os usuários buscarem outros hospitais credenciados”, informou a instituição.
Troca de comando
Em meio à crise, a PMDF trocou o comando do Departamento de Saúde, na última sexta-feira (28/7). O coronel Jorge Marcos Xavier da Silva foi exonerado, e o posto passou para as mãos do tenente-coronel Roberto Lobato Marques.
“Vou morrer e não vou ver o hospital da PM funcionando”
O Metrópoles entrevistou um policial que espera por tratamento desde 2022. Para evitar qualquer perseguição, a identidade do militar será mantida em sigilo. Após sentir fortes dores abdominais, ele buscou atendimento pela assistência médica da PM. Depois de uma longa espera, conseguiu um diagnóstico, mas segue sem previsão de data para cirurgia.
Sem a conclusão do tratamento, o militar sente incômodo nas refeições e não consegue ter boas noites de sono. A demora para o procedimento cirúrgico pode agravar significativamente o quadro de saúde dele. O PM já cumpriu todos os procedimentos para a cirurgia. O hospital conveniado aguarda apenas o “ok” da corporação para a cirurgia. Em outra ocasião, o policial chegou a dormir no Centro Médico da PM à espera de atendimento.
“O serviço de saúde da PM sempre foi ruim. Nunca funcionou. Infelizmente. Agora, fizeram aquele hospital. Construir é fácil. Coloca concreto e tijolo. Agora e manter o hospital? Equipar e manter um hospital não é fácil. Deveriam ter pensado nisso. Eu vou partir dessa vida e não vou ver esse hospital da PM funcionando e fazendo cirurgia. Juro. É muito grave. Deveriam ter pensado nisso antes de construir”, desabafou o militar.
Outro lado
O Metrópoles entrou em contato com a PMDF e do Governo do Distrito Federal (GDF) sobre a questão. Não houve resposta. O espaço segue aberto para eventuais manifestações.