Mesmo com coronavírus, Marinha mantém exercício militar em mata
Grupo foi convocado para a simulação de guerra, onde deve ficar por 15 dias. Familiares falam em descaso da Força
atualizado
Compartilhar notícia
Familiares de militares do Grupamento de Fuzileiros Navais de Brasília, ligado à Marinha do Brasil, denunciaram ao Metrópoles, na manhã de segunda-feira (16/03), que um grupo de homens da força armada foi convocado para treinamento na região da Saia Velha, mata fechada localizada no Distrito Federal. A previsão é que a capacitação dure até 15 dias. No DF, a Secretaria de Saúde já confirmou a existência de 19 pacientes com a doença.
O chamamento despertou preocupação em parentes, uma vez que alegam riscos de uma possível contaminação pelo novo coronavírus. Desde o último dia 11 de março, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou pandemia da nova doença após o crescente número de casos em todo o mundo e há recomendação para evitar aglomeração de pessoas no mesmo local.
“Meu esposo, juntamente com um grupo de mais ou menos 100 homens, estão saindo em treinamento onde ficarão por mais ou menos 15 dias sem direito a celular. Alguns estão gripados. Quando voltam dessas manobras, chegam totalmente desidratados e é sabido que lá tem péssima alimentação, pois só comem rações e isso os tornará um grupo de risco para o coronavírus. Eu não quero perder meu marido por irresponsabilidade do comandante”, desabafou a esposa de um dos integrantes do Grupamento de Fuzileiros Navais. Ela não quis se identificar por temer represálias ao esposo.
O treinamento simula aos militares uma espécie de guerra. “Sempre fazem isso, o ano todo. Acho que, neste momento, deveriam estar cuidando da saúde deles. Se ele volta para mim com imunidade baixa e pega esse vírus, sabe Deus o que pode acontecer, não só com ele, mas com todos”, frisou.
A preocupação das mulheres dos militares é que, com a imunidade baixa, o grupo retornará às famílias justamente no momento esperado de um possível pico de contaminação. “Ele sempre volta magro e gripado desses treinamentos, pois não se alimenta bem, dorme em barracas no meio do mato”, explicou a companheira do fuzileiro.
O que diz a Marinha
Procurada pela reportagem, a Marinha do Brasil confirmou a realização do treinamento de guerra, mas esclarece que os grupos são formados por até 40 homens. “A Marinha do Brasil, por meio do Comando do 7º Distrito Naval, informa que os adestramentos são realizados por grupos de cerca de 40 militares, em períodos de quatro dias e meio. Os militares recebem diariamente as quatro refeições, três litros de água por dia, mais dois litros adicionais e um reforço alimentar, além de serem acompanhados diuturnamente por um médico e uma equipe de enfermeiros. Todos os militares podem contatar suas famílias por meio de telefones celulares disponíveis junto ao comando de cada pelotão, cujo número foi informado a todos previamente”, informou.
O Comando do 7º Distrito Naval desmentiu a informação de riscos aos militares, já que o distanciamento entre eles é assegurado. “É inverdade que os militares possam colocar em risco suas famílias, pois dormem em barracas individuais, distantes entre si e em ambiente aberto. É importante frisar que nenhum dos nossos militares pertence a quaisquer grupos de risco e tampouco apresentaram sintomas de coronavírus”, frisa.
Ainda de acordo com a nota oficial encaminhada à redação, a Marinha explica que os militares serão continuamente monitorados e, em caso de algum deles apresentar algum problema médico, este será afastado imediatamente do adestramento e acompanhado por equipe médica. “A Marinha do Brasil tem o pessoal como seu maior patrimônio e tem adotado medidas em âmbito nacional para contribuir com o Ministério da Saúde no combate ao coronavírus”, finaliza.
Veja a nota:
Nota à Imprensa – Marinha do Brasil by Metropoles on Scribd