Zoológico de Brasília investe na readaptação de animais para soltura
Espécimes são avaliadas e cuidadas antes de retornarem ao habitat natural. É o caso do tamanduá-mirim Amadeu, que recebe cuidados especiais
atualizado
Compartilhar notícia
Amadeu chegou ao Jardim Zoológico de Brasília desnutrido e desidratado, sentindo falta dos cuidados da mãe. O tamanduá-mirim, que está no zoo há três meses, foi levado ao local por uma equipe do Batalhão de Policiamento Ambiental da Polícia Militar. Hoje, recebe cuidados especiais para ficar saudável e apto a voltar à natureza.
O filhote participa do programa de reabilitação e soltura da fundação. A iniciativa faz parte das prioridades adotadas para conservação de espécies. “Nossa grande meta é que os animais possam voltar à natureza”, resume o diretor-presidente do Zoológico, Gerson de Oliveira Norberto.
“Esse é o nosso grande desafio, pois, dependendo do tamanho, eles podem ficar muito agarrados à gente” explica a especialista. As espécies mais comuns a darem entrada na unidade são os tamanduás, principalmente nesta época do ano, por conta do aumento de ocorrências de queimadas.
Buscando a independência
Para evitar apego, os servidores adotam novas técnicas, de forma a reduzir o contato direto com os animais. Os filhotes recebem a companhia de bichos de pelúcia e são estimulados a se alimentar sozinhos. Amadeu, por exemplo, faz caminhadas diárias pelo jardim, acompanhado de longe pela equipe.
O objetivo é que os animais cresçam mais independentes. Antes de serem soltos, todos passam por avaliação para ver se têm as habilidades necessárias para procurar comida e se defender de predadores. Amadeu deve passar pelo processo em seis meses.
Alguns não conseguem independência facilmente. Dudu é um tamanduá bandeira e está há pouco mais de uma semana sob os cuidados do berçário do zoo. Por sentir falta da mãe, o filhote, de pouco mais de um mês, precisa passar mais tempo com os servidores.
Quando os bichos chegam já adultos, o processo é mais simples. Eles recebem os cuidados necessários e são soltos o mais rapidamente possível. Antes de definir um local para onde levar determinada espécie, é preciso checar se aquele indivíduo não afetará o equilíbrio do ecossistema.
Segundo o diretor-presidente do zoológico, Gerson de Oliveira Norberto, atualmente, cerca de 120 animais estão prontos para ganhar a liberdade. “O que falta é a determinação de um lugar para que eles possam ir para a vida livre”, detalha. Essa análise, explica, é feita pelos institutos Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Brasília Ambiental (Ibram).
Mesmo quando livre, essa população continua acompanhada pela equipe do zoológico, que, durante certo período, confere se o bicho está se adaptando e conseguindo tomar as atitudes necessárias à sobrevivência.
Vítimas de tráfico
De acordo com estimativa da Fundação Jardim Zoológico de Brasília, a maior parte das espécimes ali recebidas é vítima de tráfico de animais. A recuperação e readaptação demanda muito tempo e dedicação. O prazo até que o bicho possa voltar à natureza varia de acordo com cada espécie, e, em alguns casos, pode levar até dois anos.
Os répteis, que não têm dependência da mãe, não costumam guardar vínculo com seres humanos e podem ser restituídos ao ambiente natural mais rapidamente. Nascido em março no próprio zoo, um filhote de cascavel, por exemplo, já se prepara para ganhar a liberdade. Daqui a duas semanas, a equipe também se despedirá de uma jiboia, que fez parte do plantel por mais de três anos. Ela chegou com uma lesão e já teve a soltura autorizada.
Depois dos répteis, as espécies com mais facilidade na readaptação são as aves. No entanto, araras e papagaios, por serem mais cognitivos, necessitam de um tempo maior de trabalho.
Em projeto do Instituto Espaço Silvestre, o zoo de Brasília mandará nos próximos dias um casal de papagaios do peito roxo ao Paraná, onde serão avaliados antes da restituição ao seu habitat. Caso não estejam aptas a voltar à vida livre, as aves retornarão a Brasília. A espécie, ameaçada de extinção pelo desmatamento, é nativa do Sul do Brasil.
Ajuda dos visitantes
O trabalho que antecede a libertação dos bichos é minucioso e muitas vezes conta com o auxílio dos visitantes. “O animal começa sendo avaliado no nosso recinto quando chegam os visitantes”, conta Gerson de Oliveira Noberto. “O público é um balizador para a nossa análise”, acrescenta.
O procedimento envolve ainda troca de dieta e ida para locais com contato ainda mais restrito. “O animal não passa fome, sede ou qualquer estresse”, esclarece o diretor-presidente da fundação.
Atualmente, o Jardim Zoológico de Brasília mantém programas de reprodução e educação ambiental, igualmente focados na preservação de espécies. “Precisamos entender o comportamento biológico do animal e olhar o ponto de vista dele, pensar o que é melhor dentro da realidade dele”, diz o assessor de Conservação e Pesquisa Igor Morais.