Falta d’água é realidade e racionamento não está descartado no DF
Produtores rurais já enfrentam dificuldades e agência reguladora alerta que, se o quadro não se reverter, no futuro o brasiliense poderá conviver com restrições ao consumo, incluindo o aumento de tarifas
atualizado
Compartilhar notícia
A escassez de chuvas, o crescimento desordenado e o desperdício da população tornaram a falta de água realidade no Distrito Federal. Medidas severas, como o racionamento, poderão ser adotadas na capital da República caso o quadro não se reverta. O alerta é da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico (Adasa). “É a última alternativa, mas não está descartada”, afirma o presidente da Adasa, Paulo Sérgio Salles.
O órgão fiscalizador convocou uma audiência pública nesta quarta-feira (6/7) para esclarecer a atual situação dos mananciais do DF e anunciar possíveis medidas caso o panorama não se altere. O quadro é preocupante, porque a falta d’água já é realidade em algumas regiões do DF, prejudicando, especialmente, produtores rurais.“A quantidade de chuvas abaixo do esperado no último ano trouxe consequências para agricultores da região leste do DF, abastecida pela Bacia do Rio Preto, por exemplo. Lá, estão sendo implementados programas para tentar minimizar a falta de água”, relata Salles.
A preocupação é reforçada pela promotora de Justiça do Meio Ambiente Marta Eliana de Oliveira. “O Distrito Federal conta com muitas nascentes e poucos rios caudalosos. Essa estrutura frágil é prejudicada pela ocupação irregular do solo. Nossos agricultores já sofrem com a seca e existe a possibilidade da falta de água para o restante da população”, afirma a jurista.
Medidas de contenção
Para contornar a situação e evitar que os brasilienses vivam situação semelhante à de São Paulo – que, nos últimos anos, decretou o racionamento do consumo – medidas preventivas devem ser tomadas, como a intensificação das fiscalizações nos órgãos de abastecimento, a fim de evitar desperdícios, e a implementação de campanhas de conscientização voltadas para a população, a exemplo do site Naodesperdiceagua.com, da própria Adasa. A página conta com dados sobre o consumo de água no DF e dicas de como economizar os recursos hídricos.
População
A promotora Marta Eliana de Oliveira faz uma ressalva: as medidas por parte das instâncias governamentais são pequenas diante da importância da participação popular. “Dois pontos são fundamentais. Um é a economia de água em si. O nível de consumo, especialmente em áreas nobres, é absurdo. É preciso abandonar hábitos de desperdício e até de ostentação.”
Segundo Marta Eliana, a grilagem também é um problema. “A outra questão, ainda mais séria, é a ocupação das terras. Não se pode admitir as contínuas invasões em territórios de nascentes. A área de proteção do São Bartolomeu, por exemplo, deveria abrigar um reservatório, mas o projeto não foi concluído devido à ocupação irregular no local”.
Contas mais altas
Não se sabe se o racionamento chegará a se tornar realidade no DF. Antes de adotar a iniciativa, a população poderá sofrer no bolso. Caso o consumo não seja controlado e o clima continue desfavorável, podem-se adotar medidas para desestimular o consumo, como aumentar os valores da conta de água e aplicar a bandeira vermelha na tarifa de luz, usada em períodos de baixa produção energética por hidrelétricas, e que acrescenta R$ 5,50 por cada 100 kWh consumidos.
Até o momento, o clima não está ajudando. Já são 46 dias sem chuvas no DF, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). E, do início do ano até agora, foram registrados 648mm de chuva — quantidade 21% menor do que no mesmo período do ano passado.