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Brasiliense não tem motivos para comemorar o Dia Mundial da Água

O Distrito Federal passa pela pior crise hídrica da sua história. Racionamento não tem data para acabar

atualizado

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Toninho Tavares/Agência Brasília
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1 de 1 água - Foto: Toninho Tavares/Agência Brasília

O Dia Mundial da Água é comemorado nesta quarta-feira (22/3) em meio à pior crise hídrica da história da capital do país. Sem ter o que celebrar, o brasiliense enfrenta o rodízio no fornecimento, que não tem data para acabar e pode piorar, caso os reservatórios não atinjam níveis satisfatórios até o mês que vem.

A servidora pública Janete Alves, 43 anos, destaca que não há o que comemorar. A moradora de Águas Claras conta que tem ficado até dois dias sem abastecimento em seu condomínio. Ela culpa a falta de investimentos pelo GDF para a situação. “Como é que o governo deixou chegar a este ponto?”, questiona. “É uma total irresponsabilidade”, completa.

Acuada pelo racionamento, a população está gastando menos água. Em dois meses de rodízio, desde 16 de janeiro, o consumo médio dos brasilienses caiu de 187 para 163 litros/dia. Apesar do esforço, a marca está longe do recomendado pela Organização das Nações Unidas (110 litros/dia por habitante).

De acordo com a Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb), o volume de água que saiu dos dois principais reservatórios do DF – Descoberto e Santa Maria/Torto – diminuiu 37% em dois meses. A economia, entretanto, não será suficiente para suspender a secura nas torneiras.

Flagrantes de desperdício, porém, ainda são registrados pela cidade. Na tarde da última quinta-feira (16), uma situação curiosa ocorreu no Eixo Monumental. Em plena crise de abastecimento d’água, com a população sob ameaça de ser multada caso desperdice o recurso hídrico, funcionários terceirizados foram flagrados lavando a cúpula do Museu Nacional da República.

Rafaela Felicciano/Metrópoles

 

A Secretaria de Cultura do DF, responsável pela administração do espaço, disse, em nota, que o museu terá a pintura renovada e que, portanto, a lavagem faz parte do processo. “A água utilizada é água bruta, não tratada, e vem de fora do Distrito Federal, conforme contratado pela empresa vencedora da licitação”, justificou a pasta.

Cenário
Diante do cenário preocupante, o governo se limita a dizer que não há previsão para o racionamento acabar. Porém, o especialista em recursos hídricos e professor da Universidade de Brasília Sérgio Koide é enfático: o rodízio de água vai persistir até, pelo menos, o começo de 2018. Ele explica que somente a ampliação dos sistemas — que ganharão reforço do Lago Paranoá e do Bananal (entenda abaixo) — é capaz de amenizar a falta de água.

No auge da seca, o volume dos reservatórios deve cair para 20%. Se a inclusão de outros sistemas der certo, aí, talvez, vamos conseguir aliviar a crise em 2018. Caso contrário, somente uma temporada excepcional de chuvas seria capaz de tirar o DF dessa. 

Sérgio Koide, especialista em recursos hídricos

O professor ainda chama atenção para a possibilidade de, no período de estiagem, o racionamento passar a ser duas vezes por semana em cada região.

Investimentos
Como medida para administrar a crise, o GDF anunciou a captação emergencial do Lago Paranoá. O governo federal liberou R$ 55,5 milhões para a obra semana passada. O reservatório vai reforçar o abastecimento de regiões próximas e que dependem do espelho d’água, como Lago Norte, Varjão, Setor de Mansões do Lago Norte, Taquari, Paranoá e Itapoã.

Além da captação na Lago Paranoá, outro sistema será ativado: Corumbá, que já conta com R$ 550 milhões da Caesb e da Companhia Saneamento de Goiás (Saneago). O subsistema do Bananal será outro reforço para o o sistema Santa Maria/Torto e conta com investimento de R$ 20 milhões. As duas obras, no entanto, devem ser concluídas apenas em 2018. 

Bônus na conta
Desde o começo do racionamento, há mais de dois meses, a Caesb arrecadou uma quantia milionária — R$ 14.309.821,20 — com o pagamento da taxa extra cobrada em mais de 600 mil contas de água desde janeiro deste ano. Esse valor já inclui o desconto de impostos.

A Adasa promete liberar o montante até esta sexta-feira, em resolução que será publicada no Diário Oficial, assim como delimitar as atividades que receberão o aporte financeiro. “Nossa intenção é utilizar esse recurso para a adaptação do sistema que vai transferir água de Santa Maria/Torto para o Descoberto”, disse o diretor da Caesb, Maurício Luduvice.

Além da tarifa de contingência, a conta de água subiu duas vezes no ano passado. Em janeiro de 2016, teve alta de 2,67%, devido aos elevados e sucessivos aumentos no valor da tarifa de energia elétrica. Depois, em junho, a revisão periódica reajustou a conta em 7,98% para “reparar perdas inflacionárias”.

Há uma semana, a Caesb anunciou um alento para o brasiliense, que vem contribuindo com a redução do desperdício e com a queda no consumo. Os poupadores terão desconto de 20% em suas contas. Segundo a companhia, serão R$ 11.919.713,30 em benefícios, distribuídos entre 511.537 unidades em todo o DF.

Menos chuva
Segundo dados da Adasa, a média do volume de chuvas que caiu na bacia entre setembro de 2016 e fevereiro deste ano é apenas a metade do esperado para o período (1.450 mm). Em todo o DF, o baixo volume de chuvas tem sido ainda mais evidente neste mês. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), choveu em março 58% a menos do que o esperado para o período (75,7 milímetros quando deveria ser 180,6 milímetros).

Devido à escassez de chuvas, a média mensal do volume útil de água no Descoberto atingiu porcentagens preocupantes: 20,68% em janeiro e 36,09% em fevereiro. Com isso, o nível do reservatório está abaixo da metade — 46,37%. A demanda, por sua vez, não dá trégua. Ela quase dobrou nos últimos 16 anos (47,6%), com picos de uso às 10h, principalmente pela agricultura.

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