Medo da Covid fez 74% dos pacientes interromper tratamento contra o câncer
De acordo com o oncologista do Instituto de Câncer de Brasília, Caio Neves, qualquer atraso no tratamento pode trazer impactos negativos
atualizado
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“Eu tinha medo de ir ao hospital e me expor ao vírus. Estava lutando duas batalhas: a do câncer e a da Covid-19“, explica Maria de Fátima de Sousa, 66 anos. A aposentada interrompeu o tratamento de câncer no ovário logo após o diagnóstico, com receio de ser infectada pelo coronavírus.
Maria de Fátima não foi a única a adiar o tratamento por medo da doença que já matou mais de 600 mil pessoas no Brasil. Segundo pesquisa da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), 74% dos médicos relataram que pelo menos um ou mais pacientes interromperam ou adiaram o acompanhamento por mais de um mês durante a pandemia. O levantamento foi feito com 120 oncologistas das redes pública e privada.
Os procedimentos apontados como os mais adiados foram as cirurgias (67,5%) e os exames (22,5%). De acordo com o oncologista clínico do Instituto de Câncer de Brasília (ICB) Caio Neves, qualquer atraso no processo pode trazer muitos impactos negativos ao paciente.
O mesmo estudo concluiu que pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) são os mais afetados, com cerca de 60% relatando algum impacto no tratamento durante a quarentena. No setor privado, o índice é de 33%.
“Nós percebemos muitos atrasos no diagnóstico, porque eles cancelaram os exames de imagem e isso causou um impacto muito grande. Só dos meus pacientes, 40% cancelaram ou adiaram consultas. É uma questão preocupante para uma doença tão grave”, explica o oncologista.
Segundo Caio, entre aqueles que chegaram a paralisar o tratamento durante a pandemia, os mais comuns são as vítimas de câncer de mama, pescoço e urológico. “A grande causa foi o medo de infecção pela Covid-19. A gente sabe que o paciente oncológico é mais sensível e debilitado, e, com a pandemia, essas pessoas preferiram se isolar e parar o tratamento do que serem infectados pelo vírus”.
Quimioterapia
O medo é um dos sentimentos que Maria de Fátima teve de lidar durante o tratamento. Além de temer as reações da quimioterapia, a moradora de Samambaia sofreu pelo receio de pegar Covid. “Os hospitais estavam todos lotados, então, eu sentia muito medo de ir. Cheguei a fazer o exame para saber se estava com Covid quatro vezes e todos deram negativo”, lembra a aposentada.
Em abril, a mulher descobriu um tumor no ovário, após realizar exames para entender o motivo de estar com água no pulmão. Mas teve medo de iniciar o tratamento de quimioterapia, pois sabia que ficaria com a imunidade baixa e mais vulnerável à Covid-19. “Ainda não tinha tomado a vacina contra Covid-19, mas, com as medidas de segurança da clínica e o apoio da minha família, coloquei minha fé e iniciei a quimioterapia.”
Agora, vacinada com as duas doses, Maria de Fátima comemora poder seguir com as sessões de quimioterapia com mais tranquilidade. “Sou uma mulher de muita fé. Vou ao hospital fazer o tratamento para me curar e lá me sinto segura”, concluiu.